“Nada do que tocamos é eterno”
Esta é uma frase de Charles Kerman que nos ajuda quando tentamos responder a seguinte pergunta: quais são os critérios com os quais Jesus julga a minha vida?
Freqüentemente julgamos a vida alheia a partir de valores mais externos, contábeis e visíveis, do que pelo que se passa no coração. E assim nos encantamos com homens, histórias, livros e lideranças que não encantam a Deus.
A presente sociedade leva-nos a crer que somos aquilo que aparentamos e não são raras as vezes que somos julgados pelos nossos títulos, realizações, influência e tantas outras credenciais que tentam plasticamente definir nossa aparência pública. Entretanto, no Reino de Deus, pregado por Jesus, estas roupagens não representam a nossa identidade, quem de fato somos.
Possuímos uma tendência natural para nos escondermos. Somos, portanto, seres construtores de máscaras. Construímos máscaras com o mesmo intuito que o fazem os povos tribais em rituais xamânicos: para o engano do próximo e manipulação social. Creio que as máscaras que somos tentados a construir possuem, em um primeiro momento, a intenção de apresentar uma imagem que julgamos ideal para os de longe. Comumente esta imagem não representa a verdade do nosso ser, mas sim uma idéia utilitária que tentamos exportar. Se temos sucesso na construção de máscaras que vendam esta imagem aos de longe somos tentados a construir máscaras mais elaboradas, refinadas, que possam enganar também os de perto. É por isto que podemos nos surpreender com alguém bem perto de nós, de nosso círculo de amizade e relacionamento, que repentinamente se desvenda como portador de valores e práticas antagônicas com a imagem que dele tínhamos. É que não o conhecíamos. Olhávamos para ele, mas enxergávamos sua máscara. Mas não paramos aí.
Como seres construtores de máscaras, ao chegarmos ao ponto do engano coletivo aos de longe e perto nos propomos a uma nova empreitada, ainda mais desafiadora: construir máscaras que enganem não apenas o outro, mas a nós mesmos. Chamo tais máscaras de máscaras do auto-engano. Aconselhava um cristão que se surpreendeu consigo mesmo ao trair a confiança de um líder que amava e admirava. Em meio a lágrimas exclamou: como pude fazer isto? Então pensei: quantas vezes esta pergunta nos persegue? O auto-engano não é apenas possível, mas infelizmente freqüente. Pode levar homens e mulheres e jamais confrontarem suas mazelas e pecados levando-os a viverem como se tudo estive bem.
A construção de máscaras de engano e auto-engano é uma prática pecaminosa que nos leva para longe de uma conversa franca e necessária sobre a nossa vida, fugindo assim de um dos assuntos mais controvertidos e evitados pelo homem desde sua queda: a verdade.
No Reino da luz a verdade é o fundamento para qualquer avaliação. Não por acaso a Palavra nos diz que ela nos libertará. A ausência da verdade, por outro lado, nos mantém cativos às mesmas masmorras psíquicas, volitivas e comportamentais de sempre. E o auto-engano, quando a psique humana mente para ela mesma tentando racionalizar o pecado e a fraqueza, torna-se uma das fortes oposições à verdade.
Neste momento, portanto, eu o convido a deixar cair qualquer possível máscara que tenha construído ao longo dos anos e por acaso esteja usando, e olhe para você mesmo em um espelho íntegro, sem reservas, na presença do Espírito do Senhor que nos conhece e nos leva ao caminho da verdade.
O elemento principal com o qual Jesus nos avalia é bem menos visível, menos contábil e certamente menos observado por aqueles que nos cercam, pois Ele nos vê no íntimo, sem máscaras, manipulações ou enganos. A Palavra usa expressões como “coração puro3”, “de todo o teu coração”4, “integridade do coração”5, e “santidade ao Senhor”6 para nos fazer entender que somos mais avaliados por Cristo pelas coisas do coração e não pela nossa roupagem. Entenda claramente algo: Jesus conhece o secreto da sua vida. Ele certamente não se impressiona pelas grandes construções que levantou, realizações aplaudidas por multidões ou teses defendidas debaixo dos holofotes. O Carpinteiro olha direto para o seu coração e vasculha a sua alma. E é justamente neste campo que você será encontrado fiel, ou não.
Integridade é um termo que está ligado a inteireza, do latim integritas, que se aplica a retidão, santidade e um espírito irrepreensível. O autor de Imitações de Cristo, possivelmente Tomás de Kempis, já perguntava no século IV: “Que mais te pode incomodar e embaraçar que os afetos desordenados de teu coração7?”
Em 1 Samuel 16 o profeta buscava o ungido do Senhor entre os filhos de Jessé. Antes de indicar Davi, que viria a ser rei sobre Israel, o Senhor diz a Samuel: “... Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”.
É certo que não podemos purificar nosso próprio coração. Dentre tantas verdades marcantes do Cristianismo uma delas é esta: nós dependemos de Deus. E dependemos dEle para crer, para segui-lo e para nos parecermos mais e mais com o Filho. Assim creio que o objetivo de Cristo é tão somente levar-nos a orar como o salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável8”.
William Hersey Davis, tentando fazer-nos diferenciar entre a ilusão do palco e a realidade da vida, compara caráter e reputação quando diz:
Esta é uma frase de Charles Kerman que nos ajuda quando tentamos responder a seguinte pergunta: quais são os critérios com os quais Jesus julga a minha vida?
Freqüentemente julgamos a vida alheia a partir de valores mais externos, contábeis e visíveis, do que pelo que se passa no coração. E assim nos encantamos com homens, histórias, livros e lideranças que não encantam a Deus.
A presente sociedade leva-nos a crer que somos aquilo que aparentamos e não são raras as vezes que somos julgados pelos nossos títulos, realizações, influência e tantas outras credenciais que tentam plasticamente definir nossa aparência pública. Entretanto, no Reino de Deus, pregado por Jesus, estas roupagens não representam a nossa identidade, quem de fato somos.
Possuímos uma tendência natural para nos escondermos. Somos, portanto, seres construtores de máscaras. Construímos máscaras com o mesmo intuito que o fazem os povos tribais em rituais xamânicos: para o engano do próximo e manipulação social. Creio que as máscaras que somos tentados a construir possuem, em um primeiro momento, a intenção de apresentar uma imagem que julgamos ideal para os de longe. Comumente esta imagem não representa a verdade do nosso ser, mas sim uma idéia utilitária que tentamos exportar. Se temos sucesso na construção de máscaras que vendam esta imagem aos de longe somos tentados a construir máscaras mais elaboradas, refinadas, que possam enganar também os de perto. É por isto que podemos nos surpreender com alguém bem perto de nós, de nosso círculo de amizade e relacionamento, que repentinamente se desvenda como portador de valores e práticas antagônicas com a imagem que dele tínhamos. É que não o conhecíamos. Olhávamos para ele, mas enxergávamos sua máscara. Mas não paramos aí.
Como seres construtores de máscaras, ao chegarmos ao ponto do engano coletivo aos de longe e perto nos propomos a uma nova empreitada, ainda mais desafiadora: construir máscaras que enganem não apenas o outro, mas a nós mesmos. Chamo tais máscaras de máscaras do auto-engano. Aconselhava um cristão que se surpreendeu consigo mesmo ao trair a confiança de um líder que amava e admirava. Em meio a lágrimas exclamou: como pude fazer isto? Então pensei: quantas vezes esta pergunta nos persegue? O auto-engano não é apenas possível, mas infelizmente freqüente. Pode levar homens e mulheres e jamais confrontarem suas mazelas e pecados levando-os a viverem como se tudo estive bem.
A construção de máscaras de engano e auto-engano é uma prática pecaminosa que nos leva para longe de uma conversa franca e necessária sobre a nossa vida, fugindo assim de um dos assuntos mais controvertidos e evitados pelo homem desde sua queda: a verdade.
No Reino da luz a verdade é o fundamento para qualquer avaliação. Não por acaso a Palavra nos diz que ela nos libertará. A ausência da verdade, por outro lado, nos mantém cativos às mesmas masmorras psíquicas, volitivas e comportamentais de sempre. E o auto-engano, quando a psique humana mente para ela mesma tentando racionalizar o pecado e a fraqueza, torna-se uma das fortes oposições à verdade.
Neste momento, portanto, eu o convido a deixar cair qualquer possível máscara que tenha construído ao longo dos anos e por acaso esteja usando, e olhe para você mesmo em um espelho íntegro, sem reservas, na presença do Espírito do Senhor que nos conhece e nos leva ao caminho da verdade.
O elemento principal com o qual Jesus nos avalia é bem menos visível, menos contábil e certamente menos observado por aqueles que nos cercam, pois Ele nos vê no íntimo, sem máscaras, manipulações ou enganos. A Palavra usa expressões como “coração puro3”, “de todo o teu coração”4, “integridade do coração”5, e “santidade ao Senhor”6 para nos fazer entender que somos mais avaliados por Cristo pelas coisas do coração e não pela nossa roupagem. Entenda claramente algo: Jesus conhece o secreto da sua vida. Ele certamente não se impressiona pelas grandes construções que levantou, realizações aplaudidas por multidões ou teses defendidas debaixo dos holofotes. O Carpinteiro olha direto para o seu coração e vasculha a sua alma. E é justamente neste campo que você será encontrado fiel, ou não.
Integridade é um termo que está ligado a inteireza, do latim integritas, que se aplica a retidão, santidade e um espírito irrepreensível. O autor de Imitações de Cristo, possivelmente Tomás de Kempis, já perguntava no século IV: “Que mais te pode incomodar e embaraçar que os afetos desordenados de teu coração7?”
Em 1 Samuel 16 o profeta buscava o ungido do Senhor entre os filhos de Jessé. Antes de indicar Davi, que viria a ser rei sobre Israel, o Senhor diz a Samuel: “... Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”.
É certo que não podemos purificar nosso próprio coração. Dentre tantas verdades marcantes do Cristianismo uma delas é esta: nós dependemos de Deus. E dependemos dEle para crer, para segui-lo e para nos parecermos mais e mais com o Filho. Assim creio que o objetivo de Cristo é tão somente levar-nos a orar como o salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável8”.
William Hersey Davis, tentando fazer-nos diferenciar entre a ilusão do palco e a realidade da vida, compara caráter e reputação quando diz:
“As circunstâncias nas quais você vive determinam sua reputação.
A verdade na qual você crê determina o seu caráter.
Reputação é o que pensam a seu respeito.
Caráter é quem você é.
Reputação é a sua fotografia.
Caráter é a sua face.
A reputação fará de você rico ou pobre.
O caráter fará de você feliz ou infeliz.
Reputação é o que os homens dizem a seu respeito no dia do seu funeral.
Caráter é o que os anjos falam de você perante o trono de Deus”9.
As conversas de Deus com seus filhos sempre são conversas sinceras que procuram moldar nosso caráter e não apenas construir uma bonita reputação. Mesmo por que a reputação, por mais importante que seja, e é, se apresenta por demais volátil. Em dias de comunicação em massa via internet uma reputação construída ao longo de 30 anos pode ser destruída em 30 minutos. O caráter, porém, é a verdade a nosso respeito, quem de fato somos e como o Senhor nos vê. Este é o bem precioso que não devemos negociar. Um pastor amigo, observando a sua própria vida, regado pelo livro Avalie a sua Vida de Wesley Duewel, desabafou anos atrás em uma carta:
“...os aplausos levaram-me, durante anos, a pensar que tudo estava bem. Saía-me muito bem enquanto estava nos púlpitos, comunicava-me com diversos grupos e era admirado por minha audácia na pregação. Muitos passaram a seguir o meu exemplo. Vários diziam: ‘desejo ser como você’. (...) Não precisei orar muito para que o Espírito Santo me direcionasse para os pecados e falhas em meu caráter. Usava exemplos que não condiziam com a verdade e utilizava livremente o púlpito para atacar os grupos contrários ao meu ministério. Eu possuía todos os elementos para cair e permanecer prostrado. Louvado seja Deus por um dia que tirei para reavaliar a minha vida !”
Este pastor amigo percebia, entre outras coisas importantes, que nenhum homem vai além do seu caráter. E entendia o perigo de se desenvolver uma liderança ou uma reputação descompassada com um caráter íntegro como fundamento. E a integridade, bem como outras virtudes cristãs, precisa ser construída.
Nas palavras do próprio Duewel: “A única vida digna de ser vivida é aquela vivida para Deus”10 e é neste íntimo relacionamento que perceberemos que somente uma boa semente trará bons frutos.
Pensemos um pouco sobre a integridade e suas características. Ao ler tais características utilize este momento para avaliar o seu próprio coração e, confiante no Senhor, esperar coisas novas e boas de Deus.
A Integridade vai além da Sinceridade
Gostaria que você pudesse entender que a integridade vai além da mera sinceridade. A sinceridade é um comportamento da alma expresso através do reconhecimento da verdade. A própria expressão vem do latim sincere, possivelmente quando ídolos eram esculpidos em madeira e vendidos no mercado. Algumas peças, para disfarçar as falhas da madeira, recebiam um acabamento com cera que se tornava imperceptível à primeira vista. Todos sabiam que os ídolos esculpidos de forma perfeita em madeira pura eram “sem cera”, ou sincere.
Tratando da alma humana sabemos que a sinceridade, por si, não nos leva a uma vida íntegra mas sim ao reconhecimento da verdade. E reconhecer a verdade, porém não segui-la, nos conduz tão somente à autoconsciência de nossa presente situação. Podemos atestar uma verdade pessoal, reconhecer nossas falhas morais, concluir que precisamos da transformação do Espírito e mesmo assim vivermos da mesma forma, sem nenhuma mudança, pelos próximos 30 anos. E esta é uma postura comum entre o povo de Deus.
Integridade, portanto, não é apenas convicção. É atitude transformadora e validadora. Leva-nos a uma profunda inquietação que produz transformações internas e externas. Faz-nos desejar viver de acordo com a nossa fé, nossos valores, nossos sermões e escritos, nossos ensinos em sala de aula. Com a Bíblia que lemos e o Deus no qual cremos. Faz-nos desejar mais que o conhecimento teológico, a eloqüência na pregação, a retórica nas colocações e a aura de autoridade perante a igreja. Faz-nos desejar apaixonadamente uma vida autêntica, perante Cristo, mesmo quando ninguém está olhando.
Conheço irmãos preciosos que andam distanciados do Pai mesmo não lhes faltando sinceridade de coração. Reconhecem seus erros, sabem o caminho a buscar, mas não o fazem. Huckabee nos fala sobre como a integridade, aplicada nos processos da vida, pode revolucionar uma pessoa e uma nação11.
Tenho dois amados e obedientes filhos, Viviane e Ronaldo Júnior com 13 e 11 anos. Quantas vezes, ao estarem prestes a uma atitude indevida me olham como já conscientes do que não deve se feito. Talvez algo simples como ligar a TV na hora da refeição. Ao se prepararem para pegar o controle remoto olham para os pais, sabendo o que não deveriam fazer, mas tentados. Há em nossas vidas, normalmente, conhecimento do caminho, das limitações e da verdade. E uma grande diferença entre o conhecimento e a obediência.
Pastor Adail Sandoval, homem de Deus dedicado ao Rei por mais de 40 anos, afirmou em uma de suas palestras: “... se um dia você for levado a escolher entre a sua reputação e o seu caráter, escolha o caráter”. Este homem de Deus não reduz o valor da reputação mas exalta a necessidade de lidarmos com Deus além da exposição pública e da simples sinceridade. Importa-nos obedecer.
Não nos basta compreender os desafios do evangelho nem repetir semanalmente a nossa confissão de fé. É preciso traduzi-los para uma vida íntegra, que vai além da mera sinceridade. A grande diferença entre sinceridade e integridade é a obediência. Enquanto a primeira reconhece suas falhas e erros a segunda se contorce incomodada por conserto e transformação. A integridade vai além da sinceridade.
A integridade deve perdurar na inconstância
Um dos elementos deste processo de superficialidade que luta contra a integridade em nossas vidas é a inconstância humana. Sabemos que o universo no qual habitamos é marcado pela inconstância derivada da imperfeição. Conseqüentemente, é também inconstante nosso coração. Há dias bons e maus. Dias de vitória e de derrota. Dias de alegria e de angústia. E da mesma forma que o universo pode abrigar mudanças dramáticas e climáticas em um só dia, também em um só dia podemos passar por momentos de alegria, tristeza, euforia e ansiedade. Somos naturalmente inconstantes.
Como podemos buscar um coração íntegro se o mundo no qual habitamos, a sociedade humana e nossa própria alma, estão sujeitos aos abalos sísmicos de um universo imperfeito e incerto ?
Em primeiro lugar precisamos realmente crer que Deus está no controle de toda e qualquer situação em nossa história pessoal. Que Ele detém o direito autoral de escrever cada capítulo da nossa vida. Que nada, inclusive os momentos mais conflitantes produzidos pela imperfeição universal nascida lá no Éden, fogem ao absoluto controle de Deus. Ele permanece Senhor mesmo quando se cala. E Jesus é a maior demonstração de como o Pai deseja interagir conosco. Não nos tirando do mundo mas nos livrando do mal. E nesta dialética existencial Deus transforma o mal em bem, usa a própria inconstância humana caída como instrumento de aproximação com o Pai, de conversão, de quebrantamento e salvação.
C S Lewis já nos ensinava que a certeza da nossa salvação está na imutabilidade do caráter de Deus. E esta é a nossa segurança. Que o Deus ao qual amamos e servimos não é regido pela mesma dialética inconstante do universo ou dos altos e baixos emocionais e espirituais em nossas vidas. Ele, ao contrário, se apresenta na Palavra como o Monte Sião, que não se abala; as Muralhas de Jerusalém; a Rocha de Israel. É nEle e por causa dEle que podemos descansar mesmo em situações de tempestades e incertezas.
Cantamos um hino em Gana que diz: “... não vivemos para celebrar o sofrimento; nem também para chorar; mas quando ele vier choraremos; ... no sofrimento há Deus; não cremos na dor sem Deus, não cremos na dor sem Deus “.
Além de confiar no caráter imutável de Deus, para mantermos vida íntegra em meio a circunstâncias incertas é necessário buscarmos humildade para poder administrar as perdas. Tenho notado que os maiores erros não resultam de ações mas sim de reações. E basicamente a três circunstâncias: ao pecado, ao sofrimento ou às críticas. Estes três vetores provocam reações que tendem a colocar em xeque a nossa integridade.
Nem todos os caminhos do Senhor são fáceis mas todos são caminhos de amor. Quando o dia mal chega sempre me vem à mente a vida de José. Traído pelos irmãos, jogado em um poço, vendido para uma terra distante, encarcerado e humilhado ele manteve o espírito humilde crendo que Deus o amava. É porque Ele nos ama que freqüentemente transforma o mal em bem. Do cárcere José foi para o palácio e ali foi o braço forte do Senhor na preservação do seu povo durante a época de fome.
Há, portanto, duas verdades que servem como âncora para buscarmos um coração íntegro mesmo perante a inconstância da vida: a certeza de que o Senhor está no controle do universo, incerto, no qual vivemos; e a convicção de que Ele nos ama.
Muitos líderes serviram ao Senhor com zelo e dedicação durante toda uma vida mas se encontram paralizados porque não conseguiram responder bem, reagir bem, perante um vendaval que se abateu sobre suas vidas e ministério. Alguns anos atrás recebi uma mensagem eletrônica, enviada para milhares de pessoas, de um líder angustiado. Nela ele respondia as críticas que lhe faziam e acusava fortemente seus opositores. Uma carta típica de alguém que no calor do sofrimento senta em frente a um computador e não deixa sua ira passar. Ao contrário, reage.
Tempos depois me encontrei com este amigo que me disse como estava transtornado ao escrever aquela mensagem. Na conversa pontuamos alguns passos. Primeiramente a reação. Normalmente somos treinados para agir bem mas não para reagir bem. As reações são mais difíceis que as ações pois, especialmente na liderança, as ações são planejadas e seguem um padrão projetado. Um líder, porém, é medido por suas reações. Se as ações demonstram planejamento as reações demonstram valores.
Em segundo lugar conversamos sobre a ausência de real dimensionamento do problema. Quando estamos em um vendaval ele aparenta ser, para nós, a maior tempestade de todas. Nada se compara a ela. Isto por que somos seres sensitivos e valorizamos muito mais o que experimentamos do que aquilo que observamos. Assim, ao experimentarmos o sofrimento, o pecado ou a crítica, tendemos a dimensionar tal problema de forma supervalorizada. Utilizamos uma medida superfaturada. Certamente muitos que nada sabiam daquele conflito vieram a conhecê-lo da pior maneira possível: através daquele amargurado email em massa. A longanimidade se torna necessária em momentos pontuais e críticos. Longanimidade, no original grego, significa fôlego profundo e a idéia é de um atleta que corre com todas suas forças durante quilômetros e, quando exausto, ainda respira profundamente para vencer a última parte da corrida. Precisamos de espírito longânimo em meio às tempestades. Elas passam.
Perante um problema, seja circunstancial ou relacional, no qual tenhamos ou não falta, a melhor reação é a reação lenta. Penso em duas exceções: quando há risco imediato ou quando o vendaval gera em nós quebrantamento. No primeiro caso é necessário reagir rápido para conter um possível dano e não há tempo para um dimensionamento tranqüilo. No segundo caso o Espírito nos confronta com o pecado e não há tempo a perder para cair de joelhos dizendo: pequei contra Ti. Porém, de forma geral, toda reação lenta tende a ser a melhor reação.
Antes de seguir adiante gostaria de lhe fazer um precioso convite: confie na soberania do Senhor e esteja convicto de que Ele o ama. Isto lhe dará a brandura, paciência e perseverança para seguir buscando um coração íntegro em Sua presença mesmo nos vendavais da vida.
A integridade é vista nos detalhes
Se desejar conhecer a integridade de um homem, observe os detalhes. Conheça-o na informalidade do lar, no trato com amigos chegados, na conversa ao telefone. O conceito bíblico de sermos fiéis no pouco para sermos colocados no muito pressupõe grau de dificuldade e detalhamento. O pouco nos prova como também nos expõe. É, portanto, no pouco, nos detalhes da vida, que podemos diagnosticar em nós ou em outros o grau de integridade.
Pastor Hernandes Dias Lopes é um homem que tem sido tremendamente usado por Deus através de seus abençoados e desafiadores sermões12. Convivendo com ele e sua família na informalidade do lar durante um final de semana era visível que zelava por uma existência coerente com a fé, e isto era visto nos detalhes. A maneira apaixonada como trata a sua esposa, o carinho com os filhos e a forma zelosa como acompanhava até o elevador a senhora que os servia como ajudante no lar. Como bem aplicou Platão, filósofo grego: “Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa”. A informalidade nos expõe com maior freqüência pois nos encontra em estado de espontaneidade.
Os grandes mestres do conhecimento têm reconhecido que as coisas pequeninas são importantes. Schopenhauer, filósofo alemão, afirma que é precisamente nas coisas pequeninas que o homem revela o seu caráter. Se desejamos trabalhar em nosso caráter e fomentar integridade de coração, comecemos pelas coisas pequeninas, pelos detalhes de cada dia. Da mesma maneira, se desejamos nos avaliar perante Deus, observemos em nossas vidas os detalhes. Fyodor Dostoyevsky cria que um homem poderia ser definido por suas motivações. Se tal afirmação soar um reducionismo, ao menos poderemos concordar que as ações de um homem podem ser definidas por suas motivações. Um exercício que tento fazer ao tomar novas iniciativas é ponderar um pouco sobre minhas motivações. O ser humano possui uma tendência carnal de apoiar ou realizar aquilo que julga lhe beneficiar. Assim são os jogos políticos pois assim é o coração humano. Um exercício positivo é dar passos em direções certas (sejam relacionais, financeiras, ministeriais) que envolvam perdas pessoais. Ao colocar-se em uma situação (quando necessário) de perda ou desconforto para que outro ganhe você estará instruindo seu coração a viver com os valores do Alto.
Isto pode ser feito em pequenas circunstâncias que envolvam dinheiro, tempo e prazer. Evitar uma compra pessoal em prol de um bem mais importante e necessário para outro. Substituir um momento que poderia render um ganho pessoal por um momento para ajudar outro a ganhar. Privar-se de algo que lhe dê prazer para prover algo que a outro dê prazer. Uma das maravilhas de Deus é que Ele nos fez com um espírito ensinável. Precisamos usar esta oportunidade para construirmos uma vida mais parecida com Cristo e isto acontecerá a partir das pequenas coisas.
A integridade deve se traduzir em atitudes
Um dos desafios mais difíceis que enfrentamos desde nossos primeiros pais é a tradução de nossos valores espirituais e morais para atitudes espirituais e morais. Permitam-me listar aqui, dentre tantas atitudes que buscam a construção de um caráter íntegro, algumas que observo de extrema colaboração neste sentido.
Calar-se
Vivemos em uma sociedade onde o simbolismo é elemento definidor das relações humanas. Assim, valorizamos a comunicação verbal, os discursos, as respostas bem colocadas, o jogo de palavras. Se por um lado isto colabora para desenvolver uma comunicação mais ativa, por outro tem nos levado a esquecer o valor do silêncio.
A integridade é testada na adversidade e uma das atitudes mais comuns perante a adversidade relacional é o confronto. Especialmente em contextos ministeriais onde as críticas nos bastidores ganham a nossa atenção e somos levados a reagir de forma desproporcional, desnecessária ou mesmo inapropriada. Freqüentemente falamos quando deveríamos nos calar.
Podemos nos lembrar do pastor Oswald Smith, da Igreja do Povo em Toronto, no Canadá, quando décadas atrás passou a viver sob uma cortina de severas críticas e terríveis ataques levantados por todos os lados, especialmente pela liderança de igrejas irmãs. Ao fim de um importante encontro de líderes aquele homem de Deus bradou, como quem define a linha que separa o neófito do maduro dizendo: não combato nem me defendo. Faço a obra de Deus.
Certamente há momentos de falar, fazer-se ouvir. Mas reconheço que os homens de Deus que tenho conhecido buscavam mais o silêncio do que o confronto verbal perante as adversidades, e faziam a obra de Deus.
Um dos grandes investimentos que podemos fazer em relação ao outro é justamente ouvi-lo. Lincoln dizia que, ao dialogar com alguém gastava um terço do tempo pensando no que falar e dois terços pensando no que o outro falava.
Há, porém, uma forte diferença entre escutar e ouvir. Em Inglês duas palavras distintas são bem utilizadas. Escutar (to hear) fala sobre o ato físico, funcional do aparelho auditivo, enquanto ouvir (to listen) refere-se a um ato mental que nos faz pensar a partir de algo. Muitas vezes nos acostumados apenas a escutar sem que tais palavras tenham qualquer chance de nos fazer ponderar, pensar um pouco mais sobre o assunto, imaginar o outro lado de uma situação. Pessoas que apenas escutam são facilmente identificadas. Suas respostas são prontas e repetitivas.
A maior dificuldade para se ouvir é quando não é preciso ouvir. Penso aqui em uma figura de autoridade que, em sua presente função, seja um professor, um chefe, um líder de equipe ou um pastor, não precisaria ouvir e poderia tão somente falar. Gedson Lidório nos diz: “Quão perigosa é tal posição. A arte de ouvir de fato deve ser perseguida exaustivamente pois será de grande investimento na construção de uma vida íntegra e sobretudo de uma liderança íntegra”13.
Não negociar a verdade
Provérbios 12:19 nos diz que “O lábio verdadeiro permanece para sempre; mas a língua mentirosa apenas por um momento”. Há certos valores que precisam estar sempre presentes em nossas vidas, relacionamento e processos de liderança. Um deles é não negociar a verdade. Isto inclui, de forma especial, a manipulação da verdade. Refiro-me ao evitamento ou maquiagem da verdade para se contornar um problema ou se beneficiar de um resultado.
Quando a Palavra nos ensina que a posição do crente, o seu falar, deve ser “sim sim, não não”14 o que se advoga não é uma atitude de extremos: ou sim ou não. O assunto aqui é a verdade: dizer sim quando for sim e não quando for não. No cenário do genuíno cristianismo a verdade não pode ser negociada e ela é um dos grandes blocos que constrói uma vida íntegra.
Quando o missiólogo Dr. Antonio Carlos do Nascimento afirmou em seu seminário que “nenhuma igreja vai além do seu pastor” fiquei pensando no investimento pessoal. Ao passo que ele apresentava a figura de uma igreja mais autêntica anotei no rodapé da apostila que tinha em mãos: “Integridade: como tratamos as pessoas; o que falamos; o que não falamos; conversar com e não acerca das pessoas; fazer prioritariamente o que é certo e não apenas o que nos agrada; evitar a influência do dinheiro; evitar a influencia do poder; lembrar os princípios que guiam a vida; testar meu próprio caráter nas pequenas coisas”.
Abraham Lincoln foi um dos estadistas mais atacados em toda a história dos Estados Unidos da América. Recebeu título de desonesto, corrupto, incapaz, mentiroso e adúltero. O Illinois State Register referia-se a ele como o “político mais desonesto da história americana”. Quando aconselhado a negociar benefícios para os donos dos grandes jornais a fim de que sua imagem fosse poupada, Lincoln respondeu: “Quando deixar este escritório gostaria de sair com um amigo fiel ao meu lado. Minha consciência”15.
Ao falar sobre a verdade de forma mais objetiva (o que é verdadeiro), posso dar-lhe a entender, erroneamente, que esta é a única forma de verdade que importa. Há uma verdade subjetiva a qual também devemos valorizar. Trata-se da verdade volitiva, ou seja, os motivos que nos levam a agir e reagir. Os motivos que nos levam a fazer algo ou deixar de fazer. A falar e calar. Tais verdades motivacionais precisam ser observadas de perto pois elas representam o atual estado de nosso coração. Muitos líderes podem desenvolver realizações corretas por motivações erradas.
O comentário da Bíblia Shedd fala a respeito de Jó que foi chamado de íntegro em Jó 1:1. Comenta-se ali: “Homem íntegro. Literalmente: completo, que não significa sem pecado, mas um homem de honradez, reto, com o temor de Deus em seu coração16”. Interessante o destaque para o temor e a ligação do mesmo com a integridade. De fato “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” conforme Salomão escreveu em Provérbios 1:7. A busca pela verdade motivacional que nos leva a integridade de vida passa pelo temor do Senhor. Salomão nos diz que não se deve amar a loucura17 mas sim a sabedoria e com isto ele faz uma apologia ao entendimento. É necessário construir entendimento em nossas mentes e corações a respeito das verdades de Deus pois intuitivamente escolheremos tão somente o caminho mal. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria porque o temor do Senhor leva-me a buscar, em sua Palavra, o entendimento que me levará a ter vida sábia. Quem teme a Deus é liberto do caminho mal18. W.W. Wirsbe, autor de "A Crise da Integridade", citado pelo pastor João Costa19, diz que a “integridade está para o caráter do indivíduo como a saúde está para o corpo, ou como a visão perfeita está para os olhos.”
A integridade, que não negocia a verdade seja objetiva ou subjetiva, alimenta um caráter mais parecido com Cristo.
Assumir a responsabilidade
Quando nos posicionamos ao lado da verdade normalmente somos chamados a assumir responsabilidades, seja pela irredutível defesa de algo que no senso comum poderia passar despercebido, seja por falhas e pecados em nossas vidas que precisam ser confrontados, perdoados e abandonados.
Segundo o escritor francês François La Rochefoucauld quase todas as nossas falhas são mais perdoáveis do que os métodos que concebemos para escondê-las. Uma vida íntegra leva em consideração a possibilidade da falha, do pecado e da queda. Ou seja, precisamos assumir a responsabilidade perante nossas atitudes a fim de mantermos a integridade espiritual e moral. E esta é uma das lições mais difíceis de serem aprendidas. O caminho aparentemente mais curto no caso de uma queda - a negação do pecado e sua responsabilidade sobre ele - não é de fato curto pois não nos leva onde Deus nos quer.
Precisamos assumir a responsabilidade por aquilo que de fato somos responsáveis, seja algum detalhe um grande ato. No caso de uma queda moral não raramente se vê, na vida daquele que caiu, um sentimento de indignação com a Igreja que o ignora e não colabora para sua recuperação. Certamente esta é uma grande falha da Igreja em nossos dias, e também na história, porém gostaria neste momento de tratar sobre os sentimentos e atitudes daquele que caiu. O caminho de Deus para a restauração passa pelo quebrantamento. É normalmente um caminho que se tenta evitar pois é um caminho de humilhação. Outro dia reclamei com minha filha, Vivianne, sobre algo que, depois, percebi que ela não tinha feito. Fui ao seu quarto lhe pedir perdão porque errei. O sentimento é ambíguo e produz, além da tristeza do erro, uma angústia provinda da humilhação ao se reconhecer: errei. Imaginemos tal situação em uma exposição muito mais ampla, mas dura e implacável como muitas vezes são os ambientes eclesiásticos. A tentativa de fuga é certa, porém não é o melhor caminho. Não há restauração sem que se reconheça e assuma a responsabilidade pelo erro.
Permita-me endereçar líderes que possuem grande dificuldade de pedir perdão de maneira verbal e clara, ou de voltar atrás em decisões tomadas mesmo quando francamente equivocadas. Esta postura provém de um coração soberbo. Uma soberba que lhe faz pensar (mesmo que não de forma gráfica) sobre a sua superioridade. Talvez nutrida pelo seu conhecimento, ou sua posição de liderança, ou sua função de destaque, seus ganhos e merecimentos. Perceba, porém, que este é o caminho de morte. Seu coração, ao negar procurar o outro e falar: errei, perdoa-me, se lança em uma rota de colisão com o temor do Senhor e a sabedoria, o entendimento de que somos todos igualmente dependentes da graça de Cristo para viver. Líderes muitas vezes imaginam que sua autoridade estaria sendo questionada se assim o fizessem não se lembrando que aquilo que está em jogo é muito mais valioso do que nossa temporária autoridade. É nosso eterno coração.
Há também aqueles que, para reconhecerem um erro e assumirem a responsabilidade o fazem sob protesto e acusações. Refiro-me aos que, perante seu próprio pecado, racionalizam que o outro também pecou, ou é um agressor maior, que não foi leal ou submisso. Grande erro. Estas razões não passam de sombras nas quais tentam esconder seus próprios corações da humildade necessária para o quebrantamento.
Líderes inacessíveis correm grande risco de seguirem o caminho da soberba e altivez, sem ter quem lhes alerte. Não ande só e aproveite as oportunidades que tem para se humilhar, educando assim o seu coração a aprender o que é bom, e estar no caminho certo.
Leon Tolstoi sabia que “todos pensam em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo20” atestando que é sempre mais fácil falar sobre os problemas universais do que sobre o pecado do coração. E Wertheimer escreveu que “somente depois de as termos praticado é que as faltas nos mostram quão facilmente as poderíamos ter evitado21”.
Nenhum de nós está isento da possibilidade do erro. Uma das admiráveis atitudes de Davi foi justamente assumir integralmente a sua responsabilidade quando Natan, após falar sobre um que roubara a única ovelhinha do vizinho, afirmou: “este homem és tu”22. Davi não deu desculpas. Não racionalizou dizendo: outros fizeram pior do que eu. Nem mesmo tentou explicar suas motivações. Caiu de joelhos e colocou-se nas mãos de Deus. O coração de Davi dizia: “sou responsável”, e este tornou-se o homem segundo o coração de Deus.
Que Deus nos ajude a administrar o orgulho e a vergonha, também a humilhação, a fim de assumirmos a responsabilidade pelo pecado e seguirmos em frente no perdão transformador do Senhor.
Aprender com os erros
Precisamos compreender que integridade não é uma atitude medida pela ausência de erros, mas pela decisão em não repeti-los.
Quando assumimos responsabilidades o fazemos também em relação aos nossos erros. Precisamos compreender que integridade é um hábito que se ganha na rotina diária quando procuramos agir de forma pura e justa, e mesmo quando isto não acontece, devemos aprender com nossos erros.
Para que assim caminhemos será preciso, primeiramente, desmistificá-los. Dale Carnegie escreveu, na década de 50, o livro Como Evitar Preocupações e Começar a Viver23. Neste livro Carnegie ensina que devemos deixar o medo de encarar os nossos erros. Devemos analisá-los e compreendê-los. Ele usa William James para nos ensinar que a aceitação do que aconteceu é o primeiro passo para se vencer as conseqüências de qualquer infortúnio.
Pensando em líderes devemos compreender o que muito bem foi colocado por Kevin Cashman24 ao expor que a habilidade que temos de crescer como líderes é limitada pela habilidade de crescermos como pessoas. Jamais devemos distinguir nossa função de liderança (mesmo porque é passageira) de nossa identidade pessoal. Um grande engano em época de empreendedorismo é um auto investimento no perfil de liderança. Não que isto não seja efetivo, porém é passageiro. Investir tempo, forças e energia para se qualificar como um bom líder pode lhe privar de investir tempo, forças e energia para crescer como pessoa e crente. Como líder posso dar-me ao luxo de seguir em frente mesmo tendo cometido erros, porém como pessoa e cristão meus erros, após praticá-los, se tornam minha melhor oportunidade de conserto e crescimento.
Muito se fala sobre aprender com os próprios erros, porém pouco se vê neste sentido. Um dos principais motivos para a tendência de sermos recorrentes nos mesmos erros é a ausência de entendimento sobre eles. Tenho um amigo que possui um temperamento explosivo. Diversas vezes isto se tornou motivo de brincadeiras que ele próprio faz sobre seu temperamento. Ao observarmos alguma alteração desnecessária no tom da sua voz ele rapidamente já se justifica dizendo que tem um temperamento forte. Esta é justamente a forma inadequada de lidarmos com nossos erros: observando-os passivamente, justificando-os e racionalizando-os. Não raramente nos pegamos pensando em pessoas com problemas mais graves tão somente para nos escondermos da óbvia necessidade de sermos confrontados e crescermos. Muitos erros não são advindos de queda espiritual ou moral objetiva mas tão somente da ausência de crescimento. Alguns de nós não tiveram a oportunidade de amadurecer e carregamos as mesmas manias e birras de quando éramos crianças, gerando grandes perdas pessoais e para muitos ao redor.
Para aprendermos com nossos erros é necessário levá-los a sério. Um temperamento explosivo não é apenas um temperamento forte mas algo que machuca pessoas, entristece o Espírito Santo pela falta de domínio próprio e nos pretere de vivermos mais tranqüilos com nossas próprias reações. A crítica não é apenas uma questão de objetividade, ou ser direto, como muitas vezes justificamos. A crítica compulsiva é um agente do diabo para a destruição da vida alheia. Um desencorajamento que pode marcar uma pessoa pelo resto de sua vida além de um mecanismo que faz o coração do crítico adoecer com a amargura. Não conheço pessoas críticas felizes.
A desavença relacional não é apenas um problema de percurso visto que todos tem problemas com relacionamento como podemos pensar. Desavenças relacionais repetitivas com pessoas diferentes indicam que algo está errado em nossa forma de lidar com o próximo. É certo que muitos problemas relacionais não advém de pecado mas tão somente de perfis distintos ou distintas maneiras de enxergar uma só coisa. O que provém desta diversidade, seja de perfil ou de observação, é que pode se tornar pecado. Quando meu olhar de superioridade impede que meu irmão sinta-se bem ao meu lado. Quando minha fraqueza carnal me impede de andar duas milhas mesmo que outros já tenham feito o mesmo comigo tantas vezes. Quando a minha exigência de perfeição projetada no outro cobra dele uma postura impossível levando-me a julgá-lo por aquilo que não pode ser ou não pode dar. Ao assim fazermos teremos adoecido o coração.
C.S.Lewis nos ensina que “quando um homem se torna melhor, compreende cada vez mais claramente o mal que ainda existe em si. Quando um homem se torna pior, percebe cada vez menos a sua própria maldade”25. Para aprendermos com nossos erros é necessário levá-los a sério, conversar com o Pai sobre eles, pedir forças para mudarmos e amadurecermos, crescermos um pouco mais.
Cuidar do seu coração
O Senhor sonda nosso coração, portanto é nossa imagem interna, e não externa, que precisa de maior cuidado. Em dias de ufanismo e triunfalismo somos levados a procurar sempre o que nos destaca, ou destaca o nosso trabalho. Um grave engano visto que o Senhor não sonda nossos relatórios mas sim nossos corações. Dr. Augustus Nicodemus, profundo expositor da Palavra, afirma que Deus não nos chama para termos sucesso sempre mas sim para sermos fiéis.
Compreender a marcante diferença entre caráter e reputação não pressupõe que faremos uma escolha legítima. É preciso estar disposto a priorizar a verdade. Abraham Lincoln gostava de afirmar que “caráter é como uma árvore e reputação a sombra. A sombra é o que nós pensamos sobre isto. A árvore é a realidade”26.
Muitas vezes confundimos inteligência, conhecimento e sabedoria. Podemos aplicar as palavras “a inteligência é uma espada ... o caráter a empunhadeira”, de Bodenstedt, dizendo que é o caráter que delineará a sabedoria no agir. Outras vezes confundimos temperamento brando com bom caráter. Ao contrário, como disse Pierre Azaïz, “o caráter é a esperança do temperamento”. Um temperamento brando, quieto ou mais vagaroso pode dar a impressão de domínio próprio e esconder as paixões mais carnais.
E neste processo é importante termos uma visão correta a nosso próprio respeito. Quem afinal somos nós? Quem define a nossa identidade? A verdade é que muitas vezes não somos quem as pessoas pensam que nós somos, pois mesmo os amigos mais chegados nos conhecem apenas a partir dos sinais externos. Nossas emoções, os medos secretos, as esperanças pessoais, os paradigmas da alma, estes formam um cenário totalmente desconhecido por aqueles que se colocam ao nosso lado.
Mas também não somos quem nós pensamos que somos. Isto porque o nosso poder de auto compreensão é por demais limitado. Somos enganados pela falsa sinalização dos sentidos, pelas nossas próprias tendências subconscientes além da óbvia falta de capacidade de um completo auto conhecimento. Aristóteles, filósofo grego e aluno de Platão, já afirmava que “somos seres desconhecidos. Especialmente eu”.
É, portanto, necessário aceitar que nós somos quem o Senhor diz que nós somos. A verdade a nosso respeito não está guardada em um arquivo na casa do amigo nem mesmo em nossa própria posse. Está no julgamento de Deus. Ele nos “sonda e nos conhece”27 e julga-nos com exatidão, pesa a nossa alma e categoriza todos os nossos sentimentos mais profundos. Você é quem Deus diz que você é.
Convictos desta verdade é preciso crescer. Não priorize o crescimento da sua reputação, ministério ou carreira. Priorize o crescimento do seu caráter.
Neste capítulo conversamos sobre a integridade de coração e gostaria de lhe convidar a refletir um pouco sobre estas verdades aplicando-as em sua vida particular. Mencionei que a integridade vai além da sinceridade, que ela deve perdurar na inconstância, é vista nos detalhes e se traduz nas atitudes. Nestas atitudes, dando um contorno mais prático e visível aos valores da integridade de coração sugeri calar-se, evitando sempre se defender, não negociar a verdade, assumir a responsabilidade do erro, aprender com eles e cuidar do seu coração.
Perante esta conversa e estes assuntos gostaria de lhe perguntar: como está a sua vida com Deus? Não me refiro aqui a seu ministério, realizações, títulos ou reconhecimento público. Deixemos isto tudo de lado por um momento, baixemos a guarda e na presença do Pai peça que Ele, que sonda os corações, lhe traga à memória aquilo que necessita de conserto, de perdão, de molde e quebrantamento.
É neste campo, privado e particular dos nossos corações, que as verdadeiras batalhas são travadas. Não se apresse em seguir adiante para o segundo capítulo. Tire um tempo, o que necessário for, para ponderar sobre a sua vida com Deus. Antes de refletir e ponderar, ore como o salmista: “Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”28.
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