terça-feira, 21 de abril de 2015

A Fé Evangélica ou a Religião Evangélica?

A Fé Evangélica ou a Religião Evangélica? - 
A fé evangélica é revolucionária, pois, quando retomada, significou a libertação da pregação da mensagem da Cruz e da Ressurreição. A fé evangélica foi retomada pela reforma, dita, protestante, um movimento de mais de século, que culminou com a afixação, por Lutero, das 95 teses, na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha, em outubro de 1517.
A retomada da fé evangélica, a fé ensinada pelos país da Igreja, levou o fiel de volta ao Santo dos Santos, isto é, o fiel voltou a compreender que só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus de Nazaré, o Ungido de Deus, que com o seu sangue fez o novo e vivo caminho, pelo qual entramos na Presença do Eterno, pessoalmente, sem nenhuma outra mediação.
A fé evangélica fez voltar a valer o ato de rasgar o véu do Templo, levado a efeito pelo Eterno, por ocasião da morte de Jesus de Nazaré, o Ungido, consumando o sacrifício conhecido e efetivo desde antes da fundação do mundo. Ato, este, que liberou o Santo dos Santos para todos aqueles que, por crerem no Ungido, foram feitos filhos de Deus. De modo que a denominada intercessão pelos santos de devoção particular perdeu todo o sentido.
A fé evangélica é libertária, uma vez que, em seu primeiro movimento de retomada, na história, ao abolir, pela recuperação do ensino da expiação pelo Ungido, toda a mediação humana entre o Eterno e o ser humano, desconstruiu toda a hierarquia religiosa. A fé evangélica pôs fim à religião organizada como representante da Igreja, tornando a ver a Igreja como o ajuntamento dos crentes no Ungido, que se manifesta por meio de reuniões locais, cuja relação entre si é fraterna, uma vez que a Igreja deixa de ter um chefe terreno, para depender, exclusivamente, da iluminação pelo Espírito Santo.
A fé evangélica devolveu à Bíblia o papel de Revelação Escrita sob inspiração do Espírito Santo, portanto, um livro recebido por fé, e, como tal, infalível e inerrante, única regra de fé e de prática para a vida da Igreja. Assim como aboliu a figura do intérprete oficial, devolvendo ao fiel a possibilidade de examinar livremente as Escrituras, a partir da decisão dos quatros concílios fundantes: Nicéa e Constantinopla no sec IV, Éfeso e Calcedônia no sec V, e dos chamados "solas" da reforma: sola Gratia, sola Fide, solo Cristos, sola Escriptura, soli Deo Glória!
A fé evangélica pôs fim à noção de clero, que propõe a existência de pessoas especiais, com exclusivo ou maior acesso à Deus, retomando o sacerdócio universal dos crentes, proclamando que todos são iguais perante de Deus, e que a Igreja é Reino de sacerdotes. A fé evangélica retomou a lógica apostólica de reconhecimento dos presbíteros, leigos, como todos os demais, porém, reconhecidos, por sua maturidade espiritual, como aptos para supervisionar a igreja local, de modo a impedir qualquer desvio que transforme a fé evangélica em mera religião.
A fé evangélica aboliu a noção de Templo, fazendo jus ao ensino neo-testamentário, de que o contingente dos crentes constitui o que Jesus de Nazaré, o Ungido, chamou de Sua Igreja, e que este grupo de pessoas é, portanto, o Templo, a Casa do Deus Vivo, anulando a possibilidade de qualquer prédio ser chamado de Igreja ou Casa de Deus. O Deus Vivo só pode habitar numa Casa Viva, nunca em prédio construído por mãos humanas.
A fé evangélica, quando não fomentou, contribuiu para que mudanças estruturais ocorressem na história humana, principalmente, no Ocidente; tais como: a noção de igualdade entre os seres humanos; a rede de proteção às crianças; a honra e o cuidado aos idosos; a igualdade de gênero; o surgimento do Estado Moderno; a preponderância da Democracia; a luta pela liberdade, pelo fim de todo o tipo de colonização e de escravidão; a laicização do Estado, na luta por liberdade de credo e de expressão.
O maior adversário, entretanto, que a fé evangélica enfrentou e enfrenta é a religião evangélica.
O surgimento da religião evangélica aconteceu mais rápido do que se poderia prever, e se caracterizou pelo retorno da noção de Clero; por voltar a titular prédios de templo ou de casa de Deus, descaracterizando a Casa Viva do Deus Vivo; pelo retorno da hierarquização; pelo volta da estatização da fé; pela busca por chefes terrenos para a Igreja; caracterizado pelo denominacionalismo e pelo "ministerialismo", onde as organizações, que reúnem as reuniões locais, e os ministros deixam de ser servos para serem senhores da Igreja.
A religião evangélica é adversária, porque onde a fé evangélica ilumina, a religião evangélica produz trevas, porque luta por hegemonia, inclusive em relação ao Estado, de modo que, enquanto a fé evangélica procura chamar todos os homens à noção de igualdade, por obra do amor abrangente de Deus, a religião evangélica os classifica entre fiéis e infiéis, se vendo no direito de punir os infiéis, postura semelhante à que, no passado, por meio da religião romana, gerou o que ficou conhecido como a "era das trevas", e está voltando a gerar.
A religião evangélica é adversária, porque enquanto a fé evangélica procura apresentar ao ser humano a pessoa do Ungido, que por seu Espírito transforma o ser humano, a religião evangélica oferece um conjunto de crenças e costumes que aprisionam ao invés de emancipar e que, ao invés de salientar a ação salvífica da Trindade, por sua Graça, por meio do sacrifício expiador do Filho, reintroduz a meritocracia, impondo tarefas aos infiéis, sob o pretexto de levá-los a conquistar as benesses que já lhes foram outorgadas por meio da Cruz e da Ressurreição do Ungido.
A fé evangélica apela para a fraternidade que gera unidade e promove a cooperação, a partir dos dons e talentos distribuídos pelo Santo Espírito; a religião evangélica, por sua vez, impõe a hierarquização, que se impõe como única forma do agir divino, uma vez que, nessa imposição, há quem alegue que o Espírito Santo não mais galardoa com dons os fiéis, reduzindo toda a iluminação que Jesus, o Ungido, disse que Consolador traria, à interpretação autorizada dos líderes eclesiásticos, que a rigor, não explicam como podem interpretar acertadamente a Espada do Espírito, uma vez que este não distribui mais os dons, pela inauguração do tempo do cessacionismo. A hierarquização institui, também, a luta pelo poder, com a agravante de que o poder, se não contido, acaba por promover a escravização do ser humano.
A fé evangélica propõe o serviço como fonte de autoridade; a religião evangélica promove a subserviência ao líder, que deve ser servido por sua condição de ser especial. Aliás, a religião evangélica gera elites, enquanto a fé evangélica gera prestadores de serviço.
A religião evangélica subverte os mais ricos ensinos da fé evangélica, como a verdade de que a Trindade elege seres humanos para serem santos, que se doarão para produzir o bem para a humanidade, para transformar o ensino em motivo para a soberba, e para a exigência de privilégios.
A fé evangélica ensina que o texto sagrado é do Espírito Santo, e, portanto, deve ser examinado para produzir um discurso pastoral para a vida da comunidade, como serva de Deus, para o bem da humanidade. A religião evangélica, por meio de seus teólogos, passou a questionar o texto, tornando-o, de novo, propriedade de uma elite que decide o que é e o que não é divino no texto, transformando-o num arremedo de oráculo, onde o fiel não sabe mais no que crê e no quanto deve crer, se é que deve crer.
A fé evangélica procura pelos pobres, para abençoá-los e emancipá-los pela busca da justiça, que é entendida como a construção de realidade onde todo ser humano, em igualdade, desfrutará de tudo o que Deus é e de tudo o que Deus doa. A religião evangélica, por sua vez, procura os ricos, ratificando o pretenso direito destes a promover a desigualdade, sustentando como divina a ideologia que reconhece no acúmulo, no abuso na obtenção de propriedade e na competição sinal de progresso humano, ainda que às custas da miséria e da exclusão da maioria.
A fé evangélica se pauta pelo amor, que é a busca pela unidade entre os seres humanos, enquanto a religião evangélica se pauta pela disputa, que é uma manifestação da disposição contrária ao amor. Assim, a fé evangélica busca a misericórdia e a prática do espírito da lei, enquanto a religião evangélica privilegia a punição, inclusive, confundindo, ingênua ou malignamente a lei com a justiça e o direito. A fé evangélica quer ser a consciência do Estado, a religião evangélica que tomar o Estado.
A fé evangélica sabe que ao andar na história, a partir de Deus, tem de saber discernir entre manutenção e anuência, pois, embora Deus sustente a tudo e a todos, ele não concorda, necessariamente, com tudo o que acontece com e a partir de tudo e todos os que sustenta. Por isso, a oração da fé evangélica é: "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome, venha o teu reino e seja feita a vossa vontade tanto na terra como no ceu". Assim, embora o Pai faça determinações e intervenções, não é determinista, Ele não tenta e nem é tentado. Ele administra a história da salvação, e aqui a determinação aparece, mas, intervém na história circunstante, de modo que esta não venha a ameaçar com solução de continuidade a história da salvação; Deus não gerou o pecado, e nem a história é mera pantomima.
A religião evangélica, por meio de verve pseudo intelectual, pode vir a ser determinista, tornando a história um palco de horror, por algum enigma indecifrável e incontornável por Deus, que tem, assim, a sua onipotência questionada, pois, uma vez que, sendo o único protagonista do Universo, não consegue fazer algo diferente do horror; ele, ou não pode tudo ou não é bom, concordando, dessa forma, com a proposição de Epicuro. A religião evangélica, ao tender para o determinismo: "tudo (o que inclui o mal) é de acordo com a vontade de Deus" busca fechar um sistema de pensamento, pois, tem de explicar porque alia-se aos poderosos e mantém a injustiça. Não poucas vezes, no transcurso da história, agentes da fé evangélica tiveram de enfrentar agentes da religião evangélica, na luta pela emancipação do ser humano. Assim, a religião evangélica confunde o Deus da revelação com potestades malignas que mantêm o ser humano sob opressão, assim como levam o ser humano à prática da opressão, julgando, este, estar sendo conduzido pelo implacável deus da punição pela punição.
A fé evangélica propõe, como estilo de vida, o louvor e a adoração ao Pai Nosso, por meio das ações de graças, que ratifica a fé na fidelidade do Deus à sua Palavra, que anuncia que, tal como cuida do pássaro e dos lírios, cuidará de seus santos, de maneira que estes só têm o que agradecer, passando a usar, portanto, a oração como ferramenta de missao, por meio da intercessão. A fé evangélica luta pela vida e acredita em milagres, mas, não os impõem à Trindade. A religião evangélica, por sua vez, pode, também, ser histriônica, ou oca por completo, e buscar fomentar a meritoriedade, e o anseio por bênçãos pessoais, que podem ser adquiridas por meio de barganhas com o Eterno, sob direção do clérigo em exercício da liderança, como modo de obter de Deus, desejos pessoais, claro que tudo tem um preço, que deve abençoar o ser humano especial que conduz o fiel a tal experiência com o divino,
Os agentes da fé evangélica e os agentes da religião evangélica, se encontram na localidade, porém, a distinção entre eles só é absolutamente clara para o Pai Eterno, pois, pode acontecer de um agente da fé evangélica ser co-optado pelo movimento da religião evangélica, por estar distraído quanto à sua real natureza.
O fato de uma reunião local, aparentemente, em nome do Ungido estruturar-se de modo institucional ou unir-se em associação com outras reuniões locais, de modo a formar uma agremiação que otimize a consecução de objetivos comuns, não faz, necessariamente, com que essa ou essas reuniões locais sejam agências da religião evangélica, mas, só a compreensão profunda de que a reunião dos crentes é sempre local, e que é à reunião local que 'Aquele que anda entre os Candeeiros' se dirige em suas falas, e que as reuniões locais é que são as responsáveis por responder-lhe, dificultará o perigo de que tais localidades caiam da fé evangélica para a religião evangélica.

domingo, 12 de abril de 2015

Os traumas de Mefibosete

Os traumas de Mefibosete  -  Texto chave - 2 Samuel 9:1-9

O que é trauma?
A palavra trauma é oriunda do vocábulo grego e mantém um significado de ferida. Já no contexto psicológico o trauma é considerado como uma interferência forte o suficiente para não permitir que uma ação original aconteça, tendo assim a capacidade de mudar o rumo, o direcionamento da vida de uma pessoa, de forma que esta pessoa seja afastada por forças externas de seu projeto de vida.

A história de Mefibosete

A Bíblia narra em II Samuel a história de um homem chamado Mefibosete, filho de Jonatas, filho de Saul, um príncipe, homem de descendência real que quando criança é acometido por um acidente e se torna aleijado (IISm 4: 1-4). Uma interferência forte começa então a mudar a história de Mefibosete, o seu projeto de vida, tudo aquilo que seu pai tinha sonhado para ele.

O que tem te afastado da posição de príncipe? Uma queda (pecado), forças externas?

Mefibosete é o que podemos denominar O COLECIONADOR DE TRAUMAS, toda a sua vida foi marcada por decepções, perdas irreparáveis, frustrações e angústias. O histórico de vida de Mefibosete nos mostra que os traumas começaram na sua infância.

O significado do nome Mefibosete
O primeiro nome de Mefibosete tinha sido meribe-baal (O senhor contende) mais por causa da semelhança ao deus dos cananeus, logo seu nome foi mudado para ISHBOSET (homem de vergonha) algum tempo depois surge Mefibosete (alguma coisa indigna/ exterminador da vergonha)
O príncipe, herdeiro do trono, agora é um homem envergonhado, detentor de traumas, cheio de frustrações.

Os traumas da vida de Mefibosete

1- O trauma físico 
(II Sm 4) – O trauma físico sofrido por Mefibosete impedia que ele exercesse a posição de guerreiro, de valente. Geralmente todos os príncipes em Israel tinham que ir a guerra, empunhar suas espadas, defender o rei, Mefibosete não conseguia, imagine a frustração de ver todos os seus irmãos irem à batalha vestidos com armaduras, e ele sozinho não poder ir. O trauma físico veio acompanhado de outra notícia bombástica, de uma dor terrível.

2 - O trauma familiar 
Imagine alguém chegando à porta de sua casa gritando: TEU PAI É MORTO E TODOS OS SEUS FILHOS E SUA CASA, essa noticia chegou aos ouvidos de Mefibosete, um novo trauma, uma dor ainda mais forte, Mefibosete naquele momento passava a estar sem pai, sem irmãos sem ninguém.

3 - O trauma emocional
As dores físicas e familiares causaram em Mefibosete uma dor emocional profunda, a ponto dele mesmo olhar para ele como um cão morto. Um dos mais inferiores tratamentos em Israel era ser chamado de cão ou cabeça de cão. Agora imagine a própria pessoa se autodenominar CÃO MORTO. (II Sm 9:8) Ser chamado de cão morto dava a ideia de ser imprestável, miserável e sujo (II Sm 16:9) O Senhor Jesus disse certa vez: vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei.

4 - O trauma social
Em conseqüência do trauma físico e familiar Mefibosete é levado a um lugar denominado LÔ DEBAR (sem pasto/ lugar do esquecimento) um lugar onde ovelha nenhuma poderia viver. Uma cidade destinada aos doentes, aos miseráveis, cegos leprosos enfim os emprestáveis. Foi no lugar do esquecimento, no meio deste cenário que Mefibosete viveu por quase vinte anos. Mefibosete era um homem que tinha nascido para viver de tragédias, ou melhor, não viver. Ser esquecido é um dos piores sentimentos sociais que alguém pode sentir. Mas o Senhor não nos esqueceu. Em Lc 19:10 o pastor vai em busca da ovelha perdida, num lugar sem pasto, ou seja, em lô debar. O rei Davi se lembrou da aliança que tinha feito com Jonatas. Jesus te lembra hoje da aliança feita com você. O posicionamento de Davi foi semelhante à ação de Jesus. ( restituição)

5 - O trauma espiritual-
Os complexos, feridas na alma causaram na vida de Mefibosete uma idéia de escravidão, ele perdeu a posição de príncipe, todos os bens de sua família, passando a ser escravo de seus traumas. Mefibosete talvez tinha esquecido daação de Deus, talvez este não se lembrava mais das vitórias que Deus tinha concedido ao seu pai Saul.
Mefibosete era oprimido espiritualmente,e andava se arrastando sem FÉ alguma. Alguns homens de Deus, também, passaram por grandes crises e traumas, o próprio Davi nos salmos narra suas constantes aflições (Sl. 57:6/ Sl. 38:8/ Sl. 69:29)
Diante de tudo isso, de todas as frustrações o Rei olha para um homem lançado ao chão, no meio da amargura e vê um príncipe, foi assim que Davi olhou para Mefibosete. A Bíblia ao narrar os milagres de Jesus diz que ELE fitava os olhos nas pessoas, fixava os olhos e dizia a tua fé te salvou. Deus não te vê como um derrotado, como um aleijado, mas sim como um príncipe. O próprio Davi tinha saído de um lugar de esquecimento e foi posto como príncipe.

A restauração de Mefibosete

A restauração começa em Jerusalém, Mefibosete foi levado do lugar do esquecimento a uma terra de paz (Jerusalém) A restauração na sua vida pode começar com os princípios existentes na ação de Mefibosete:

1- Mefibosete foi ao Rei como estava.
A bíblia narra à história de uma mulher sírio-fenícia que foi até Jesus e se humilhou na presença dele de maneira semelhante à ação de Mefibosete.

2- Mefibosete reconheceu sua situação.
Para que haja restauração é necessário reconhecimento, confissão. Davi enquanto não reconheceu seu estado, seu pecado tinha os seus ossos envelhecidos (Sl 35:2) O povo de Israel precisou reconhecer sua situação de escravidão para que houvesse restituição

3- Mefibosete estava cheio de temor.
O temor no Senhor é fonte de sabedoria (Pv. 9:10). Precisamos entrar na sala do trono, diante do REI com temor (Sl 19:9) Assim, faziam os sacerdotes quando entravam no santo dos santos.

A partir do dia em que Mefibosete entrou na presença do rei, ele passou a comer pão continuamente na presença do REI, os seus termos de possessão foram restituídos, o homem que tinha perdido a posição de príncipe e se tornado escravo é novamente colocado como príncipe, como um dos filhos do Rei.