quarta-feira, 29 de agosto de 2018

CRISTIANISMO X MARXISMO



É muito triste e até revoltante ver jovens sendo massacrados, ludibriados e influenciados, (sem ao menos ter uma mínima ideia do que se passa), por uma IDEOLOGIA ATEÍSTA FILOSÓFICA, nas escolas públicas, que por sua vez, deixa muito a desejar. Por isso, venho por meio deste texto refutar com veemência, esse marxismo ideológico propagado por seus adeptos!

Você que está iniciando a leitura desse extenso texto e já  pensa em desistir a leitura por preguiça mental, saiba que se não você, seu filho(a) é alvo certo dessa ideologia predominante das escolas públicas e até faculdades. Não reclame e não culpe Deus, por seus filhos(as) irem para o colégio e sequencialmente para a faculdade, e se tornarem ateus convictos. Como diz um certo provérbio popular: "Não adianta chorar o leite derramado!"

 O artigo que escrevo abaixo é um breve resumo sobre o marxismo e sua relação com a realidade e com a Igreja. Evidentemente não passa nem perto de ser exaustivo. É apenas uma contribuição a um debate que tem sido levado a cabo por irmãos e pensadores muito mais capacitados.

Insistentemente tem sido estudado, debatido e combatido por nós, cristãos bíblicos (ortodoxos) e conservadores, o que comumente se denomina marxismo cultural. Afirmo, a título de explicação, que todo o marxismo deveria, a princípio, ser tratado como cultural, na medida que está inserido como ideia ou ideologia em qualquer cultura determinada historicamente. Entretanto, o termo foi cunhado para definir uma nova visão criada pelos próprios marxistas para responder teórica e praticamente a uma série de desafios ao seu pensamento, ainda no início do século XX.

Na perspectiva de Karl Marx e de seus seguidores, o socialismo era uma verdade inexorável, que seria infalivelmente vitoriosa ainda nos estertores do século XIX e no alvorecer do XX. As contradições inerentes ao capitalismo, catapultadas pelo que eles julgavam ser o motor dialético da História, a luta de classes, levariam a ruína do capital e a vitória final do comunismo. A perspectiva clássica marxista era que o conflito mortal entre a burguesia detentora da propriedade privada sobre os meios de produção e o proletariado produtor da riqueza, mas alienado dela e do resultado final de seu trabalho, geraria uma nova sociedade governada pelos interesses do proletariado, o socialismo. Note que o socialismo, para os marxistas, ainda não seria o fim da História; o fim só seria alcançada na “plenitude” comunista, a perfeita e escatológica sociedade.

Marx não via sua doutrina como ideologia. Para ele, ideologia tinha um sentido bastante negativo, na medida em que era uma ferramenta para falsear a realidade a serviço da classe dominante. Ele a via como uma cosmovisão. Seus seguidores ainda a veem assim, sendo capazes de explicar a totalidade do cosmos. Assim escapam de si mesmos, retirando de suas doutrinas a pecha de falseadoras da realidade e, ao mesmo tempo, são alçadas ao status de explicadoras da realidade. Insisto, o MARXISMO É SÓ UMA IDEOLOGIA e, como tal, possui um fundamento religioso por ser idólatra, gnóstico e oferece um simulacro de redenção e de escatologia. Idólatra porque retira Deus do seu lugar primeiro. Gnóstico porque enxerga parte da criação como intrinsecamente má. Falsamente redentor porque credita ao homem a auto redenção e deposita no comunismo a esperança do fim da História.

No seu modo mais clássico, o marxismo alimenta a ideia que todo modo de produção é formado por uma imbricada teia de infra e superestrutura. Resumidamente, a infraestrutura seria a base econômica, e a superestrutura as relações sociais, políticas, jurídicas e culturais. Em última análise, a infraestrutura determinaria a superestrutura. Entretanto, essa visão materialista da História foi colocada em xeque ainda no começo do século XX. Na Europa, o socialismo Fabiano, os reformistas da social democracia, a própria Igreja Romana e as protestantes propunham um caminho diferente, marcadamente reformista e pacífico. Ao fim da primeira guerra, os marxistas que esperavam uma explosão revolucionária tiveram que contentar-se com a experiência russa de 1917, experiência que derrubou de vez o princípio marxista clássico de que o socialismo se daria em um capitalismo plenamente desenvolvido e prenhe de contradições. A revolução russa ocorreu em um país agrário e atrasado. O que surgiu dessa experiência foi uma aberração totalitária, burocrática e assassina que recebeu o nome de marxismo-leninismo.

É assim, contextualizado, que devemos entender o surgimento do chamado marxismo cultural ou neo marxismo. O marxismo cultural nasceu da combinação dos pensamentos do marxista italiano Antonio Gramsci e da Escola de Frankfurt, um grupo de intelectuais marxistas que se reuniram nessa instituição para repensar o marxismo e sua aplicação. Gramsci, após viver na URSS e de sua experiência sob o fascismo de Mussolini, entendeu que era necessário uma releitura do marxismo, já que o modelo clássico de Marx e a aplicação da doutrina na Rússia agrária foram um retumbante fracasso. Ele percebeu que proletariado tinha outras lealdades que não só de classe (família, religião, esporte, etc.) havia sido "corrompido" pelas "benesses" capitalistas e já não se encontrava tão disposto a aventuras revolucionárias. Propôs, então, uma reavaliação que se traduziria na inversão da equação infraestrutura determinando a superestrutura. O ponto central a ser atacado não seria mais, segundo ele, as condições materiais ou objetivas, mas as condições subjetivas, isto é, a cultura no seu sentido mais amplo. Gramsci defendeu a formação do que ele chamou bloco histórico, formado pelo proletariado, minorias oprimidas e intelectuais orgânicos dirigidos pelo partido comunista. Tal bloco histórico deveria alcançar uma hegemonia cultural, disputando com a burguesia os corações e mentes das "massas oprimidas". A disputa pela hegemonia cultural seria a nova estratégia revolucionária.

A Escola de Frankfurt absorveu e aperfeiçoou a nova estratégia. Intelectuais marxistas como Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Erich Fromm, fundadores da instituição, levaram adiante a ideia não só da subversão, mas da destruição da cultura, através da desconstrução das tradições familiares, religiosas, políticas e jurídicas. Um dos principais objetivos era e continua sendo destruir a crença em Deus. Deus é o entrave que os impede de desorganizar, subverter e destruir a cultura e as tradições. A estrutura familiar tradicional, conforme criada por Deus, também deveria e deve ser, segundo eles, destruída. O despejamento de denúncias e ataques contra a heterossexualidade e contra o papel do homem conforme a criação também é parte da destruição da ordem vigente. O feminismo igualitarista, a teoria dos gêneros, o movimento negro radical, o “ambientalismo” violento, a militância LGBT fazem parte do pacote marxista travestido de movimentos justos e aceitáveis. Todos eles têm em comum o fato de sustentarem-se em "minorias oprimidas" falsamente vítimas da "opressão" capitalista. A agenda de tais movimentos é anticapitalista e claramente comunista.

Fica bastante claro que as manifestações do marxismo cultural em nossa época e realidade são indiscutíveis. O Brasil é governado por marxistas que têm a perspectiva estratégica do marxismo cultural. O PT a aplica com extrema eficiência; seus aliados são movidos pelo mesmo objetivo. No entanto, o maior perigo para os crentes está na absorção desses ideais revolucionários e antibíblicos pela Igreja. Desde o século XIX, a Igreja tem sido permeável ao marxismo. Dói na carne constatar que um dos principais veículos de propagação do marxismo nas Igrejas são pastores e teólogos de confissão tradicional. Por exemplo, o Evangelho Social do pastor americano/alemão Walter Rauschenbusch, no século XIX, que ao priorizar, mesmo que bem intencionado o papel social da Igreja (sob a pressão das péssimas condições de vida durante a segunda revolução industrial) se equivocou ao desfocar o objetivo da mesma, que é, sobretudo, adorar a Deus.

Mas é na fé Romana que o marxismo encontrou sua morada mais alvissareira. Desde a publicação da encíclica Rerum Novarum pelo papa Leão XIII, em 1891, os católicos já expressavam sua preocupação com as questões sociais e, ao mesmo tempo, com a necessidade de responder ao marxismo. Nos anos sessenta, certamente fruto das inquietações da época, o Concílio Vaticano II aprofundou as doutrinas sociais católicas, agora mais influenciadas pelo liberalismo teológico e pelo próprio marxismo. As bases que permitiriam o surgimento da Teologia da Libertação estavam dadas. Na América Latina, liderados por teólogos católicos como Leonardo Boff, Jon Sobrino e Juan Luis Segundo, a Teologia da Libertação aprofundava seu diálogo com o marxismo sob a égide de que o evangelho exige a "opção preferencial pelos pobres", estigmatizando Jesus como um líder revolucionário e reduzindo-o a um ativista político. A Teologia da Libertação foi responsável no Brasil pelo aprofundamento do antibíblico e improvável diálogo entre cristianismo e o marxismo. A partir dela foram lançadas as bases para o surgimento do PT e da CUT, já que parte da liderança esquerdista brasileira nasceu nos movimentos sociais católicos.

"A Teologia da Missão Integral é uma variante protestante da Teologia da Libertação"! Essa afirmação não é minha, mas de um dos principais teólogos da TMI (Teologia da Missão Integral). A TMI é uma pretensa renovação missionária protestante na América Latina, baseada na perspectiva do diálogo entre o marxismo e a Igreja de Cristo, na necessidade de ampliar a tarefa missionária com ações sociais e preocupação com as condições de vida do evangelizado; porém, não a partir das Escrituras, como deveria ser, mas de pressupostos marxistas como classes sociais, luta de classes, estatismo e consciência crítica. Os fundamentos da TMI e da TL são os mesmos: transformar o evangelizado em um potencial soldado das transformações sociais. O missionário cristão não deve, segundo eles, pregar a Palavra Redentora somente, mas influenciar as organizações sociais e a consciência, tornando-a crítica e anticapitalista, sob um verniz de caridade e atenção aos pobres. Não que Deus não nos tenha ordenado cuidado com os mais pobres, mas o fez sob a lógica única e inerrante de sua Palavra.

Concluo afirmando que não há possibilidade de um diálogo entre o MARXISMO e o CRISTIANISMO. São fundamentados por pressupostos ANTAGÔNICOS e IRRECONCILIÁVEIS. O cristianismo bíblico sustenta-se em uma premissa fundante, irrevogável, eterna e perfeita, no próprio Deus. O marxismo é uma IDEOLOGIA constitutiva de uma cosmovisão ANTROPOCÊNTRICA, essencialmente falha e idólatra. Os cristãos, por sua vez, devem se preocupar e se envolver com a política, mesmo porque cremos que tudo pertence à soberania de Deus e tudo o que Ele fez é bom. A ideia falaciosa e herética que há partes na criação que são estruturalmente más deve ser evitada. Calvino, em suas "Institutas", via com apreço a autoridade e o governo civil como servos de Deus que deviam ser respeitados e considerados. Para o cristão reformado não há separação entre o sagrado e o profano; por isso, debater e intervir politicamente na sociedade é saudável. Evidentemente que nossa intervenção deve ser balizada pela Palavra de Deus. Se estivermos fundamentados na Palavra de Deus, nossas predileções partidárias, nossas escolhas políticas e nosso voto excluem qualquer possibilidade de aproximação com partidos de esquerda ou com posições de extrema direita inclinadas ao fascismo e a violência. No fim, todas as coisas devem ser feitas para glória de Deus, inclusive a política. Mesmo que nenhum sistema econômico ou regime político sejam perfeitos em razão da queda, podemos nos voltar para políticos e propostas que se aproximem da vontade soberana de Deus exposta irrevogavelmente nas Escrituras Sagradas.

SOLI DEO GLORIA!

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

As Doutrinas da Graça de Deus



Estudaremos resumidamente a "TULIP" – acróstico formado pelas iniciais em inglês das cinco doutrinas reformadas da salvação, conhecidas também como as “Doutrinas da Graça de Deus”, a saber:

Total Depravity (Depravação Total), Unconditional Election (Eleição Incondicional), Limited Atonement (Expiação Limitada), Irresistible Grace (Graça Irresistível) e Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).

As doutrinas da graça dependem umas das outras, e juntas elas apontam para uma verdade central: a salvação ocorre inteiramente pela graça, porque ela pertence inteiramente a Deus. E por ser inteiramente dele, ela é inteiramente para a sua glória. Para que possamos apreciar a glória de Deus nas doutrinas da graça em toda sua plenitude, é útil reconhecer o papel desempenhado por cada pessoa da Trindade nos cinco Pontos do Calvinismo.

A eleição é a escolha de Deus Pai. A expiação é o sacrifício de Deus Filho. A graça que nos leva a Cristo e nos capacita a perseverar até o fim é a obra de Deus Espírito Santo. Assim, a salvação é uma obra divina do início ao fim – o trabalho coordenado do Deus triúno –, como é necessário para que sejamos salvos. Leve o seguinte em consideração: se estamos realmente mortos em nossos pecados (depravação radical), só Deus poderia nos escolher em Cristo (eleição incondicional), somente Cristo poderia expiar os nossos pecados (redenção particular), e somente o Espírito poderia nos levar a Cristo (graça eficaz) e nos preservar nele (graça perseverante).

Portanto, todo louvor e glória pertencem somente a Deus: “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!” (Romanos 11.36).

A ORIGEM DOS “CINCO PONTOS”

Os Cinco Pontos do Calvinismo tiveram sua origem a partir de um protesto que os seguidores de Jacob Arminius (um professor de seminário holandês) apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto. As doutrinas às quais os arminianos fizeram objeção eram as relacionadas com a soberania divina, a inabilidade humana, a eleição incondicional ou predestinação, a redenção particular (ou expiação limitada), a graça irresistível (chamada eficaz) e a perseverança dos santos. Essas são doutrinas ensinadas nesses símbolos da Igreja Holandesa, e os arminianos queriam que elas fossem revistas.

OS “CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO”

Os cinco artigos de fé contidos na “Remonstrance” podem ser resumidos no seguinte: 1. Deus elege ou reprova na base da fé prevista ou da incredulidade. 2. Cristo morreu por todos os homens, em geral, e em favor de cada um, em particular, embora somente os que creem sejam salvos. 3. Devido à depravação do homem, a graça divina é necessária para a fé ou qualquer boa obra. 4. Essa graça pode ser resistida. 5. Se todos os que são verdadeiramente regenerados vão seguramente perseverar na fé é um ponto que necessita de maior investigação. Esse último ponto foi depois alterado para ensinar definitivamente a possibilidade de os realmente regenerados perderem sua fé, e, por conseguinte, a sua salvação. Todavia, nem todos os arminianos estão de acordo, nesse ponto. Há muitos que acreditam que os verdadeiramente regenerados não podem perder a salvação e estão eternamente salvos.

A REJEIÇÃO DO ARMINIANISMO PELO SÍNODO DE DORT E A FORMULAÇÃO DOS CINCO PONTOS DO CALVINISMO

Em 1618, foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Essa convocação foi feita pelos Estados Gerais da Holanda para o dia 13 de novembro de 1618. Constou de 84 membros e 18 representantes seculares. Entre esses estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e de outros países da Europa. Durante os sete meses de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos. Após um exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Não somente isso, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos “remonstrantes” – depondo – os de seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país por cerca de seis anos. Além de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto. Embora cause estranheza a muitos essa posição, devido à mudança teológica que as igrejas têm sofrido desde vários séculos, os reformadores eram unânimes em condenar o arminianismo como uma heresia ou quase isso. A salvação era vista como uma obra da graça de Deus, do começo ao fim, sem qualquer contribuição do homem.

 – DEPRAVAÇÃO TOTAL

O ponto de vista que alguém toma a respeito da salvação será determinado, em grande escala, pelo conceito que essa pessoa tem a respeito do pecado e de seus efeitos sobre a natureza humana. Por isso, o primeiro ponto tratado pelo sistema calvinista é a doutrina bíblica da DEPRAVAÇÃO  TOTAL ou INABILIDADE TOTAL. Quando o calvinista fala do homem como sendo totalmente depravado, quer dizer que sua natureza é CORRUPTA, PERVERSA e TOTALMENTE  PECAMINOSA. O adjetivo “total” NÃO significa que cada pecador está tão completamente corrompido em suas ações e pensamentos quanto lhe seja possível ser.

O termo é usado para indicar que TODO O SER do homem foi afetado pelo pecado. A corrupção estende-se a todas as partes do homem, CORPO e ALMA. O pecado afetou a totalidade das faculdades humanas – sua MENTE, sua VONTADE, etc. (Confissão de Fé, VI, 2). Também se pode usar o adjetivo “total” para incluir nele toda a raça humana, SEM EXCEÇÃO. Como resultado dessa corrupção inata, o homem natural é TOTALMENTE INCAPAZ  de fazer qualquer coisa espiritualmente boa. É o que se quer dizer por “inabilidade total”. A inabilidade referida nessa terminologia é a “inabilidade espiritual”. Significa que o pecador está tão espiritualmente falido que ele nada pode fazer com respeito à sua SALVAÇÃO. É evidente que muitas pessoas não salvas, quando julgadas pelos padrões humanos, possuem qualidades admiráveis e realizam atos virtuosos. Porém, no CAMPO  ESPIRITUAL, quando julgadas pelos padrões divinos, são incapazes de fazer o bem (Confissão de Fé, XVI, 1 e 7).

O homem natural está ESCRAVIZADO pelo PECADO: é FILHO de Satanás, REBELDE para com Deus, CEGO para com a verdade, CORROMPIDO e INCAPAZ de salvar-se a si mesmo ou de preparar-se para a salvação. Em resumo, o NÃO  REGENERADO está morto em pecado e sua vontade está escravizada à sua NATUREZA MÁ. O homem não veio das mãos do seu Criador nessa condição depravada. Deus fez a Adão perfeito, sem qualquer maldade em sua natureza. Originalmente, a vontade de Adão estava livre do domínio do pecado. Ele não estava sujeito a qualquer compulsão natural para escolher o mal; porém, por sua queda, trouxe a morte espiritual sobre si mesmo e sobre toda a sua posteridade. Desse modo, lançou a si mesmo e a toda a raça na ruína espiritual e perdeu para si e para os seus descendentes a habilidade de fazer escolhas certas no campo espiritual.

Seus descendentes ainda são livres para escolher – todo homem faz escolhas em sua vida – mas, visto que a geração de Adão nasce com natureza pecaminosa, não tem a habilidade para escolher o BEM ao invés do MAL. Por conseguinte, a vontade do homem não é mais livre (i.e., livre do domínio do pecado) como era livre a vontade de Adão, antes da queda. Em vez disso, a vontade do homem, como resultado da DEPRAVAÇÃO HERDADA, está escravizada à sua natureza pecaminosa. A Confissão de Fé de Westminster nos dá uma declaração clara e concisa dessa doutrina: “O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso” (IX, 3).

Como resultado da transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são, por natureza, espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus e entrarem no Seu reino precisam NASCER  DE NOVO, do Espírito.

1. Como resultado da transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são, por natureza, espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus e entrarem no Seu reino precisam nascer de novo, do Espírito.

a) Quando Adão foi colocado no jardim do Éden, foi advertido para não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de imediata morte espiritual;

b) Adão desobedeceu e comeu do fruto proibido (Gn 3:1-7); por conseguinte, trouxe morte espiritual sobre si mesmo e sobre a raça;

c) Davi confessou que tanto ele, como os demais homens, fora nascido em pecado (Sl 51);

d) Porque os homens são nascidos em pecado e são, por natureza, espiritualmente mortos. Jesus ensinou que, para alguém entrar no reino de Deus, é preciso nascer de novo (Jo 3.5-7);

2. Como resultado da queda, os homens estão cegos e surdos para a verdade espiritual. Suas mentes estão entenebrecidas pelo pecado; seus corações são corruptos e malignos. (Gn 6:5; 8:21; Ec 9:3; Jr. 17:9; Mc 7:21-23; Jo. 3:19; Rm 8:7-8; 1Co 2:14; Ef. 4:17-19, 5:8; Tt 1:15)

3. Antes dos pecadores nascerem no reino de Deus pelo poder regenerador do Espírito, são filhos do diabo e estão debaixo de seu controle. São escravos do pecado. (Jo 8:34, 44; Rm 6:20; Ef 2:12; 2Tm. 2:25-26; Tt 3:3; 1Jo 3:10)

4. O domínio do pecado é universal: todos os homens estão debaixo do seu poder; por conseguinte, ninguém é justo, nem um só. (Rm 3:9-18)

5. Os homens, sendo deixados em seu estado de morte, são incapazes, por si mesmos, de se arrepender, de crer no evangelho ou de vir a Cristo. Não têm poder, em si mesmos, para mudar sua natureza ou preparar-se para a salvação (Jr 13:23; Mt 7:18; Jo 6:37, 44, 65 Rm 11:35; 1Co 2:14; 2Co 3:5).

Para mais textos bíblicos sobre o tema, veja:

 (Gn 2:17; 6:5; 8:21; 1 Rs 8:46; Sl 51:5; 58:3; Ec 7:20; Is 64:6; Jr 4:22; 9:5-6; 13:23; 17:9; Jo 3:3,19,36; 5:42; 8:43-44; 14:4; Rm 3:10-11; 5:12; 7:18,23; 8:7; 1 Co 2:14; 2 Co 4:4; Ef 2:3; 4:18; 2 Tm 2:25-26; 3:2-4; Tt 1:15).

 – ELEIÇÃO INCONDICIONAL


Devido ao pecado de Adão, seus descendentes entram no mundo como pecadores culpados e perdidos. Como criaturas caídas, eles não têm desejo de ter comunhão com o seu Criador. Ele é santo, justo e bom, ao passo que eles são pecaminosos, perversos e corruptos- Deixados à sua própria escolha, eles inevitavelmente seguem o deus deste século e fazem a vontade do seu pai, o diabo.

Consequentemente, os homens têm se desligado do Senhor dos céus e têm perdido todos os direitos de Seu amor e favor. Teria sido perfeitamente justo para Deus ter deixado todos os homens em seus pecados e miséria e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que seja. É neste contexto que a Bíblia apresenta a doutrina da eleição. A doutrina da eleição declara que Deus, antes da fundação do mundo, escolheu certos indivíduos dentre todos os membros decaídos da raça de Adão para ser o objeto de Seu imerecido amor. Esses, e somente esses, Ele propôs salvar.

Deus poderia ter escolhido salvar todos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade para fazer isso), ou Ele poderia ter escolhido não salvar ninguém (pois Ele não tem a obrigação de mostrar misericórdia a quem quer que seja), porém não fez nem uma coisa nem outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar alguns e excluir (preterir) outros. Sua eterna escolha de determinados pecadores para a salvação não foi baseada em qualquer ato ou resposta prevista da parte daqueles escolhidos, mas foi baseada tão somente no Seu beneplácito e na Sua soberana vontade. Desta forma, a eleição não foi condicionada nem determinada por qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas resultou inteiramente do propósito determinado pelo próprio Deus. Os que não foram escolhidos foram preteridos e deixados às suas próprias inclinações e escolhas más.

Não cabe à criatura questionar a justiça do Criador por não escolher todos para a salvação. É suficiente saber que o Juiz de toda a terra tem agido bem e justamente. Deve-se, contudo, ter em mente que se Deus não tivesse graciosamente escolhido um povo para Si mesmo, e soberanamente determinado prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, ninguém seria salvo. O fato de Ele ter feito isto para alguns, à exclusão dos outros, não é de forma alguma injusto para os excluídos, a menos que se mantenha que Deus estava na obrigação de prover salvação a todos os pecadores – o que a Bíblia rejeita cabalmente.

A doutrina da eleição deve ser vista não apenas contra o pano de fundo da depravação e culpa do homem, mas também deve ser estudada em conexão com o Eterno Pacto ou acordo feito entre os membros da Tri-Unidade. Pois foi na execução deste pacto que o Pai escolheu desse mundo de pecadores perdidos um número definido de indivíduos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo.

O Filho, nos termos desse pacto, concordou em fazer tudo quanto era necessário para salvar esse povo escolhido e que lhe foi concedido pelo Pai. A parte do Espírito na execução desse pacto foi e é a de aplicar aos eleitos a salvação adquirida para eles pelo Filho. A eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triuno, e dessa forma não deve ser vista como salvação. O ato da eleição em si mesmo não salvou ninguém. O que ele fez foi destacar (marcar) alguns indivíduos para a salvação.

Desta forma, a doutrina da eleição não deve ser divorciada das doutrinas da culpa do homem, da redenção e da regeneração, pois de outra forma ela será distorcida e deturpada. Em outras palavras, se quisermos manter em sua perspectiva bíblica, e corretamente entendido, o ato da eleição do Pai deve ser relacionado com a obra redentora do Filho, que Se deu a Si mesmo para salvar os eleitos e com a obra renovadora do Espírito, que traz o eleito à fé em Cristo.

1. Declarações gerais mostrando que Deus tem um povo eleito, que Ele predestinou esse povo para a salvação e, desta forma, para a vida eterna. (Dt 10.14-15; Sl 33:12; Ag. 2:23; Mt 11:27; 22:14 )
2. Antes da fundação do mundo, Deus escolheu determinados indivíduos para a salvação. Sua escolha não foi baseada em qualquer resposta ou ato previsto, a ser cumprido pelos escolhidos. A fé e as boas obras são o resultado e não a causa da escolha divina.
a) Deus fez a escolha (1Ts 1:4; 2:13);

b) A escolha divina foi feita antes da fundação do mundo (Ef 1:4; 2Ts 2:13; 2Tm 1:9 Ap 13:8; 17:8);

c) Deus escolheu determinados indivíduos para a salvação – seus nomes foram escritos no livro da vida antes da fundação do mundo (Ap 13:8;17:8);

d) A escolha divina não foi baseada em qualquer mérito previsto naqueles a quem Ele escolheu, nem foi baseada em quaisquer obras previstas, realizadas por eles: (Rm 9.11- 16; 10:20);

e) As boas obras são o resultado e não a base da predestinação: Ef 1.12; 2:10; Jo 15:16);

f) A escolha divina não foi baseada na fé prevista. A fé é o resultado e, portanto, a evidência da eleição divina, não a causa ou base de Sua escolha (At 13.48; 18:27 Fp 1:2; 2:12; 2:13; 1Ts 1:4-5; 2Ts 2:13-14);

g) É através da fé e das boas obras que alguém confirma sua chamada e eleição: (2Pe 1.5-11).

3. A eleição não é a salvação, mas é para a salvação. Assim como o presidente eleito não se torna o presidente de fato até o dia da sua posse (instalação), assim aqueles que são eleitos para a salvação não são salvos até que sejam regenerados pelo Espírito e justificados pela fé em Cristo (Em Efésios 1:4 Paulo mostra que os homens foram eleitos “em Cristo” antes que o mundo existisse. Em Rm 16:7 ele mostra que os homens não estão realmente “em Cristo” até que se convertam) [Rm 11.7; 2Ts 2:10; At 13:48; 1Ts 2:13-14]
4. A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e ser salvos (Êx 33.19; Dt 7:6-7; Rm 9:11-24; 11:4-36 )
5. A doutrina da eleição é apenas uma parte da doutrina bíblica mais ampla da soberania de Deus. As Escrituras não apenas ensinam que Deus predestinou certos indivíduos para a vida eterna, mas que todos os eventos, grandes ou pequenos, acontecem como o resultado do eterno decreto de Deus. O Senhor Deus reina sobre os céus e a terra com absoluto controle. Nada acontece fora do Seu eterno propósito (1Cr 29.10-12; Jó 42:1-2; Sl 115:3; 135:6; Is 14:24-27; 46:9-11; 55:11; Jr 32:17; Dn 4:35; Mt 19:26)

Para mais textos bíblicos sobre o tema, veja (Dt 4:37; 7:7-8; Pv 16:4; Mt 11:25; 20:15-16; 22:14; Mc 4:11-12; Jo 6:37,65; 12:39-40; 15:16; At 5:31; 13:48; 22:14-15; Rm 2:4; 8:29-30; 9:11-12, 22-23; 11:5,8-10; Ef 1:4-5; 2:9-10; 1 Ts 1:4; 5:9; 2 Ts 2:11-12; 3:2; 2 Tm 2:10,19; Tt 1:1; 1 Pe 2:8; 2 Pe 2:12; 1 Jo 4:19; Jd 1:3-4; Ap 13:8; 17:17; 20:11-21:8).

 – EXPIAÇÃO LIMITADA

Como já foi observado, a eleição em si não salva ninguém; apenas destaca alguns pecadores para a salvação. Os que foram escolhidos pelo Pai e dados ao Filho precisam ser redimidos para serem salvos.

Para assegurar sua redenção, Jesus Cristo veio ao mundo e tomou sobre Si a natureza humana para que pudesse identificar-Se com o Seu povo e agir como seu representante ou substituto. Cristo, agindo em lugar do Seu povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça perfeita a qual é imputada ao Seu povo ou creditada a ele no momento em que cada um é trazido à fé nEle.

Através do que Ele fez, esse povo é constituído justo diante de Deus. Os que constituem esse povo são libertos da culpa e condenação como resultado do que Cristo sofreu por eles. Através do Seu sacrifício substitucionário Ele sofreu a penalidade dos seus pecados e assim removeu sua culpa para sempre. Por conseguinte, quando Seu povo é unido a Ele pela fé, lhe é creditada perfeita justiça pela qual fica livre da culpa e condenação do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente na base da obra redentora de Cristo.

O Calvinismo histórico tem mantido de modo consistente a convicção de que a obra redentora de Cristo foi definida em desígnio e realização; isto é, foi intencionada para render completa satisfação em favor de certos pecadores específicos e que, de fato, assegurou a salvação a esses indivíduos e a ninguém mais. A salvação que Cristo adquiriu para o Seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-lo a um correto relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Cristo não morreu simplesmente para tornar possível a Deus perdoar pecadores. Nem deixa Deus aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo contrário, todos aqueles por quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. A redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.

Todos os calvinistas concordam que a obediência e o sofrimento de Cristo são de valor infinito, e que, se fosse o propósito de Deus, a satisfação rendida por Cristo teria salvado todos os membros da raça humana. Não seria requerido de Cristo mais obediência nem sofrimento maior para assegurar a salvação de todos os homens do que foi requerido para a salvação apenas dos eleitos. Mas Ele veio ao mundo para representar e salvar apenas aqueles que Lhe foram dados pelo Pai. Desta forma, a obra salvadora de Cristo foi limitada no sentido em que foi designada para salvar uns e não outros, mas não foi limitada em valor, pois seu valor é infinito. Ela teria assegurado a salvação de todos, se essa tivesse sido a intenção de Deus.

Os arminianos também estabelecem uma limitação na obra expiatória de Cristo, mas de natureza inteiramente diferente. Eles acreditam que a obra salvadora de Cristo foi designada para tornar possível a salvação de todos os homens, desde que eles creiam, e de que a morte de Cristo, em si mesma, não assegura ou garante a salvação para ninguém. Desde que todos os homens serão salvos como resultado da obra redentora de Cristo, deve-se admitir que há uma limitação.

Essa limitação consiste num desses dois pontos: ou a expiação foi designada para assegurar a salvação para certos pecadores e não para outros, ou ela foi limitada no sentido em que não foi intencionada para assegurar a salvação de ninguém, mas apenas para tornar possível a Deus perdoar os pecadores na condição da fé. Em outras palavras, a limitação deve ser colocada, em desígnio, na sua extensão, (não foi intencionada para todos), ou na sua eficácia (ela não assegura a salvação para ninguém). Como Boettner adequadamente observa, “para o calvinista a expiação é como uma ponte estreita que atravessa todo o rio; para o arminiano, é como uma grande e larga ponte que vai apenas até a metade do caminho” (The Reformed Doctrine of Predestination, p. 153). Desta forma, são os arminianos que impõem uma limitação maior à obra de Cristo.

1.  As Escrituras descrevem o fim intencionado e realizado pela obra de Cristo como a salvação completa do Seu povo (reconciliação, justificação e santificação).

a) As Escrituras declaram que Cristo veio, não para capacitar os homens a se salvarem a si mesmos, mas para salvar pecadores (Mt 1.21; Lc 19:10; Gl 1:3-4; Tt 2:14; 1Pe 3:18);

b) As Escrituras declaram que, como resultado do que Cristo fez e sofreu. Seu povo é reconciliado com Deus, justificado, e recebe o Espírito Santo que o regenera e santifica. Todas essas bênçãos foram asseguradas por Cristo mesmo, ao Seu povo.

c) Cristo, pela Sua obra redentora, assegurou a reconciliação ao Seu povo. (Rm 5:10- 11; 2Co 5:18-19; Ef 2:15-16; Cl 1:21-22)

2. Cristo assegurou a justiça e o perdão que Seu povo necessita para a sua justificação. (Rm 3:24-25; 5:8-9; 1Co 1:30; Gl 3:13; Cl 1:13-14; Hb 9:12; 1Pe 2:24)

3. Cristo assegurou o dom do Espírito, o qual inclui regeneração e santificação e tudo que está incluído nessas graças. (Ef 1:3-4; Fp 1:29; At 5:31 Tt 2:14; 3:5-6 Ef 5:26; 1Co 1:30; Hb 9:14; 13:12 1Jo 1:7)

a) Passagens que apresentam o Senhor Jesus Cristo, em tudo que Ele fez e sofreu pelo Seu povo, como cumprindo os termos de um pacto ou concerto gracioso no qual entrou com Seu Pai celestial antes da fundação do mundo:

b) Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai para salvar o povo que o Pai Lhe deu. Os que o Pai Lhe deu vêm a Ele e nenhum deles se perderá. (Jo. 6:35-40)

c) Jesus, como o bom Pastor, dá a Sua vida pelas Suas ovelhas. Todos os que são Suas ovelhas são trazidos por Ele ao aprisco, levadas a ouvir a Sua voz e a seguí-lo. Notemos que o Pai tem dado as ovelhas a Cristo! (Jo. 10:11-29)

d) Jesus, em Sua oração sacerdotal, roga não pelo mundo, mas por aqueles que o Pai lhe dera. Em cumprimento à tarefa dada pelo Pai, Jesus realizou a Sua obra. Essa obra era tornar Deus conhecido do Seu povo e dar-lhe a vida eterna. (Jo. 17.1-26)

e) Paulo declara que todas as “bênçãos espirituais” que os santos herdam, tais como filiação, redenção, perdão de pecados, etc., resultam do fato de estarem “em Cristo”, e liga essas bênçãos à sua fonte última – o eterno conselho de Deus – onde repousa a grande bênção de terem sido escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo para serem filhos de Deus, por meio dEle. (Ef. 1:3-12)

f) O paralelo que Paulo estabelece entre a obra condenatória de Adão e a obra salvadora de Jesus Cristo, o “segundo Adão”, pode ser melhor explicado na base do princípio de que ambos figuravam numa relação pactual com o “seu povo”. Adão figurava como o cabeça federal da raça e Cristo como o cabeça federal dos eleitos. Assim como Adão envolveu o seu povo na morte e condenação pelo seu pecado, assim também Cristo trouxe justiça e vida ao Seu povo através de Sua justiça (retidão). Rm 5.12-19)

g) Algumas passagens falam de Cristo morrendo por “todos” os homens e de Sua morte como salvando “o mundo”; todavia, outras falam de Sua morte como sendo definida em desígnio, isto é, para assegurar a salvação de um povo específico.

h) Há duas classes de textos que falam da obra salvadora de Cristo em termos gerais:

4. As que contém a palavra “mundo”. (Jo 1:9, 29;3:16,17; 4:42; 2Co 5:19; 1Jo 2:1,2; 4:14)

5. As que contêm a palavra “todos”. (Rm 5:18; 2Co 5:14,15; 1Tm 2:4-6; Hb 2:9; 2Pe 3.9; Jo 1:9; 29; 3:19; 3:16-17; 4:42; 2Co 5:19; 1Jo 2:1-2; 1Jo 4:14; Rm 5:18; 2Co 5:14-15; 1Tt 2:4-6; Hb 2:9; 2Pe. 3:9)

Uma das razões para o uso dessas expressões era corrigir a noção falsa de que a salvação era apenas para os judeus. Frases como “o mundo”, “todos os homens”, “todas as nações”, “toda criatura”, eram usadas para corrigir esse erro. Essas expressões eram usadas para mostrar que Cristo morreu para todos os homens sem distinção (i.e., Ele morreu tanto para judeus como para gentios), mas elas não pretendem indicar que Cristo morreu por todos os homens, sem exceção (i.e., Ele não morreu com o propósito de salvar todo e qualquer pecador perdido).

Há outras passagens que falam de Sua obra salvadora em termos definidos e mostram que ela foi intencionada para salvar infalivelmente um determinado povo, a saber, aqueles que Lhe foram dados pelo Pai. (Mt. 1:21; 26:28; Jo. 10:11; Jo. 11:50-53; At. 20:28; Ef. 5:25-27; Rom. 8:32-34; Heb. 2:17; 3:1; 9:15, 18; Ap. 5:9)

Para mais textos bíblicos sobre tema, veja:

 (1 Sm 3:14; Is 53:11-12; Mt 1:21; 20:28; 26:28; Jo 10:14-15; 11:50-53; 15:13; 17:6,9-10; At 20:28; Rm 5:15; Ef 5:25; Tt 3:5; Hb 9:28; Ap 5:9)

 – GRAÇA IRRESSISTÍVEL

Cada membro da Tri-Unidade – Pai, Filho e Espírito Santo – participa e contribui para a salvação de pecadores. Como já foi mostrado, o Pai, antes da fundação do mundo, escolheu aqueles que iriam ser salvos e deu-os ao Filho para serem o Seu povo.

Na época oportuna, o Filho veio ao mundo e assegurou a redenção desse povo. Mas esses dois grandes atos – a eleição e a redenção – não completam a obra da salvação, pois está incluída no plano divino para a recuperação do pecador perdido a obra renovadora do Espírito Santo, pela qual os benefícios da obediência e da morte de Cristo são aplicados ao eleito.

A doutrina da Graça Irresistível ou Eficaz está relacionada com essa fase da Salvação. Declarada de modo simples, esta doutrina afirma que o Espírito Santo nunca falha em trazer à salvação aqueles pecadores que Ele pessoalmente chama a Cristo. Ele aplica inevitavelmente a salvação a todo pecador que Ele tencionou salvar, e é Sua intenção salvar todos os eleitos. O apelo do evangelho estende uma chamada à salvação a todo que ouve a mensagem. Ele convida a todos os homens, sem distinção, a beber da água da vida e viver. Ele promete salvação a todo que se arrepender e crer.

Mas essa chamada geral externa, estendida igualmente ao eleito e ao não eleito, não trará pecadores a Cristo. Por que? Porque os homens estão, por natureza, mortos em pecado e debaixo de seu poder. Eles são, por si mesmos, incapazes de abandonar os seus maus caminhos e se voltarem a Cristo, para receber misericórdia. Nem podem e nem querem fazer isso. Consequentemente, o não regenerado não vai responder à chamada do evangelho para arrepender-se e crer. Nenhuma quantidade de ameaças ou promessas externas fará um pecador cego, surdo, morto e rebelde se curvar perante Cristo como Senhor e olhar somente para Ele para a salvação.

Tal ato de fé e submissão é contrário à natureza do homem perdido. Por isso, o Espírito Santo, para trazer o eleito de Deus à salvação, estende-lhe uma chamada especial interna em adição à chamada externa contida na mensagem do evangelho. Através dessa chamada especial, o Espírito Santo realiza uma obra de graça no pecador que, inevitavelmente, o traz à fé em Cristo.

A mudança interna operada no pecador eleito o capacita a entender e crer na verdade espiritual. No campo espiritual, são lhe dados olhos para ver e ouvidos para ouvir. O Espírito cria nele um novo coração e uma nova natureza. Isto é realizado através da regeneração (novo nascimento), pela qual o pecador é feito filho de Deus e recebe a vida espiritual. Sua vontade é renovada através desse processo, de forma que o pecador vem espontaneamente a Cristo por sua própria e livre escolha. Pelo fato de receber uma nova natureza que o habilita a amar a retidão, e porque sua mente é iluminada de forma a habilitá-lo a entender e crer no evangelho, o pecador renovado (regenerado) volta-se para Cristo, livre e voluntariamente, como seu Senhor e Salvador. Assim, o pecador que antes estava morto, é atraído a Cristo pela chamada interna e sobrenatural do Espírito, a qual, através da regeneração, o vivifica e cria nele a fé e o arrependimento.

Embora a chamada externa do evangelho possa ser, e frequentemente é, rejeitada, a chamada interna e especial do Espírito nunca deixa de produzir a conversão daqueles a quem ela é feita.

Essa chamada especial não é feita a todos os pecadores, mas é estendida somente aos eleitos. O Espírito não depende em nenhuma maneira da ajuda ou cooperação do pecador para ter sucesso em Sua obra de trazê-lo a Cristo. É por essa razão que os calvinistas falam da chamada do Espírito e da graça de Deus em salvar pecadores como sendo “eficaz”, “invencível” ou “irresistível”. A graça que o Espírito Santo estende ao eleito não pode ser obstada, nem recusada; ela nunca falha em trazê-lo à verdadeira fé em Cristo.

A doutrina da Graça Irresistível ou da Vocação Eficaz é apresentada em termos bem claros no capítulo X da Confissão de Fé de Westminster.

1. Declarações gerais mostrando que a salvação é tanto obra do Espírito, como é do Pai e do Filho. (Rm 8.14; 1Co 2:10-14; 6:11; 12:3; 2Co 3:6, 17-18; 1Pe 1:2;)

2. Através da regeneração ou novo nascimento, os pecadores recebem a vida espiritual e são feitos filhos de Deus. A Bíblia descreve esse processo como uma ressurreição espiritual, uma criação, o recebimento de um novo coração, etc. A mudança interna, que é operada através do Espírito Santo, é fruto do poder e da graça de Deus e de forma nenhuma depende da ajuda do homem para a operação do Espírito ser bem-sucedida.

a) Os pecadores, através da regeneração, são trazidos para o Reino de Deus e feitos Seus filhos. O autor desse “segundo” nascimento é o Espírito Santo: o instrumento que Ele usa é a Palavra de Deus. (Jo 1:12-13; Jo 3:3-8; Tt 3:5; 1Pe 1:3; 1Jo 5:4)

3) Através da obra do Espírito o pecador morto recebe um novo coração (uma nova natureza) e é levado a andar na lei de Deus. Em Cristo ele torna-se uma nova criação. (Dt 30.6; Ez 36:26-27; Gl 6:15; Ef 2:10; 2Co 5:17-18)

a) O Espírito Santo ergue o pecador de seu estado de morte espiritual e o vivifica. (Jo 5.21; Ef 2:1, 5; Cl 2:13)

4. Deus torna conhecidos aos Seus escolhidos os segredos do Reino através da revelação interna e pessoal dada pelo Espírito. (Mt 11:25-27; c. 10:21; Mt 16:15-17; Jo 6:37, 44-45, 64-65 1Co 2:14; Ef 1:17;)

5. A Fé e o Arrependimento são dons divinos, os quais são operados na alma através da obra regeneradora do Espírito Santo. (At 5.31; 11:18; 13:48; 16:14; 18:27; Ef 2:8-9; Fp 1:29; 2Tm 2:25-26)

6.  O apelo do evangelho estende uma chamada geral externa à salvação a todos que ouvem a mensagem. Em adição a essa chamada externa, o Espírito estende uma chamada especial interna aos eleitos e só a esses. A chamada geral do evangelho pode ser, e geralmente é, rejeitada, mas a chamada especial do Espírito não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão daqueles a quem é feita. (Rm 1:6-7; 8:30; :23-24; 1Co. 1:1- 2, 9, 23-31; Gl 1:15-16; Ef 4:4; 2Tm 1:9; Hb 9:15; Jd 1:1; 1Pe 1:15; 2:9; 5:10; 2Pe 1:3; Ap 17:14)

7.  A aplicação da salvação é toda pela graça e só é realizada através do infinito poder de Deus. (Is 55.11; Jo 3:27; 17:2; Rm 9:16; 1Co 3:6-7; 4:7; Fp 2:12-13; Tg 1:18; 1Jo 5:20)

Para mais textos bíblicos sobre tema, veja:

 (Jr 24:7; 31:3; Ez 11:19-20; 36:26-27; Mt 16:17; Jo 1:12-13; 5:21; 6:37,44-45; At 16:14; 18:27; Rm 8:30; 1 Co 4:7; 2 Co 5:17; Gl 1:15; Ef 1:19-20; Cl 2:13; 2 Tm 1:9; Hb 9:15; 1 Pe 2:9; 5:10).

 – PERSEVERANÇA DOS SANTOS

Os eleitos não são apenas redimidos por Cristo e regenerados pelo Espírito; eles são mantidos na fé pelo infinito poder de Deus.

Todos os que são unidos espiritualmente a Cristo, através da regeneração, estão eternamente seguros nEle. Nada os pode separar do eterno e imutável amor de Deus. Foram predestinados para a glória eterna e estão, portanto, assegurados para o céu.

A doutrina da perseverança dos santos não mantém que todos que professam a fé cristã estão garantidos para o céu. São os santos – os que são separados pelo Espírito – os que perseveram até o fim. São os crentes – aqueles que recebem a verdadeira e viva fé em Cristo – os que estão seguros e salvos nEle.

Muitos que professam a fé cristã caem, mas eles não caem da graça pois nunca estiveram na graça. Os crentes verdadeiros caem em tentações e cometem graves pecados, às vezes, mas esses pecados não os levam a perder a salvação ou a separá-los de Cristo.

A Confissão de Fé de Westminster diz o seguinte a respeito dessa doutrina:

“Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair no estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos” (XVII, 1).

Boettner certamente está correto em afirmar que “essa doutrina não se manifesta isoladamente, mas é uma parte necessária do sistema calvinista de teologia. As doutrinas da Eleição e da Graça Eficaz implicam logicamente na salvação certa daqueles que recebem essas bênçãos. Se Deus escolheu homens de modo absoluto e incondicional para a vida eterna, e se o Seu Espírito efetivamente aplica-lhes os benefícios da redenção, a conclusão inevitável é que essas pessoas serão salvas” (op. cit., p.182).

Os seguintes versículos mostram que o povo de Deus recebe a vida eterna no momento em que crê. Estes são guardados pelo poder de Deus mediante a fé e nada os pode separar do Seu amor. Foram selados com o Espírito Santo que lhes foi dado como garantia de sua salvação e, desta forma, estão assegurados para uma herança eterna. (Is 43.1-3; 54:10; Jr 32:40; Mt 18:12-14; Jo 3:16, 36: 5:24; 6:35-40, 47; 10:27-30; 17:11-12, 15; Rm 5:8-10; Rm 8:1, 29-30, 35-39; 1Co. 1:7-9; 10:13; 2Co 4:14, 17; Ef 1:5, 13-14; 4:30; Cl 3:3-4; 1Ts 5:23-24; 2Tt 4:18; Hb 9:12, 15; 10:14; 12:28; 1Pe 1:3-5; 1Jo 2:19, 25; 5:4, 11-13, 20; Jd 1:24-25)