sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A vinha de Nabote (1 Reis 21)

   A vinha de Nabote é uma história registrada em 1 Reis 21. Um estudo bíblico sobre a vinha de Nabote destaca o modo perverso com que Acabe e Jezabel se apoderaram da herança de um homem justo e temente a Deus.
A Bíblia diz que um homem de Jezreel por nome de Nabote possuía uma vinha que ficava ao lado do palácio do rei Acabe. Jezreel ficava localizada a cerca de quase quarenta quilômetros ao norte de Samaria, que era a capital do reino de Israel. Então essa propriedade de Acabe era um segundo palácio, uma espécie de residência de verão.
Certo dia Acabe pediu que Nabote lhe cedesse a sua vinha, já que ela estava ao lado de sua casa em Jezreel. Inclusive o rei Acabe tentou negociar a compra da vinha, prometendo dar a Nabote outra vinha melhor, ou pagar-lhe em dinheiro o que lhe fosse justo.
Nabote explicou para Acabe que não podia fazer um acordo com ele, porque sua vinha era herança de seus pais. O rei Acabe ficou muito desgosto e indignado por não ter conseguido ficar com a vinha de Nabote. Ele ficou tão abatido que nem queria se alimentar.
Foi então que Jezabel viu a situação de Acabe e lhe perguntou o motivo de sua tristeza. Acabe explicou que era porque sua proposta pela vinha de Nabote havia sido recusada. Mas Jezabel pediu que ele se alegrasse, pois ela lhe daria a vinha que ele tanto desejava.

Um plano perverso para tomar a vinha de Nabote

Tão logo Jezabel pôs em prática seu plano maligno para conseguir obter a vinha de Nabote. Ela escreveu cartas em nome de Acabe e enviou aos anciãos e aos nobres da região. A carta que havia sido selada com o sinete real convocava um jejum e ordenava que Nabote fosse trazido à frente do povo.
Com isso Jezabel estava provocando grande apreensão entre os habitantes de Jezreel. Isso porque ao convocar um jejum, ela estava indicando ao povo que todos estavam diante de uma crise iminente causada por uma grande transgressão (cf. Juízes 20:26; 1 Samuel 7:5-6; 2 Crônicas 20:3; Jonas 3:5-9).
Então Jezabel também providenciou que dois homens maus testemunhassem falsamente contra Nabote. A Lei Mosaica determinava que uma acusação precisava ser sustentada por pelo menos duas testemunhas. Os dois homens acusaram Nabote de blasfemar contra Deus e contra o rei. A pena para quem amaldiçoasse a Deus era a morte por apedrejamento (cf. Êxodo 22:28; Levítico 24:10-16).
E foi assim que aconteceu. Após ter sido acusado falsamente, Nabote foi levado para fora da cidade e foi apedrejado até a morte (1 Reis 21:13). Além disso, os filhos de Nabote também foram mortos, garantindo que não houvesse mais nenhum herdeiro da vinha vivo (2 Reis 9:26).
Quando Jezabel recebeu a notícia de que Nabote já estava morto, logo ela foi avisar a Acabe que a vinha de Nabote agora poderia ser tomada. Então rapidamente o rei de Israel se levantou e foi tomar posse da vinha (1 Reis 21:15,16).

Elias denuncia o crime envolvendo a vinha de Nabote

O escritor bíblico diz que naquele contexto veio a palavra do Senhor ao profeta Elias. Deus ordenou que o profeta fosse se encontrar com Acabe e denunciasse o seu pecado. Através do profeta, Deus anunciou que no mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, também lamberiam o sangue de Acabe; bem como Jezabel também seria devorada por cães dentro dos muros de Jezreel.
Deus ainda prometeu acabar com a linhagem de Acabe. Deus falou que o mesmo que aconteceu com a casa de Jeroboão, haveria de acontecer com a casa de Acabe. Quem morresse na cidade seria comido por cães; e quem morresse no campo seria comido pelas aves do céu (1 Reis 21:22; cf. 14:11).
Diante das palavras de juízo divino trazidas por Elias, Acabe mudou de atitude. Ele ficou apavorado, rasgou suas vestes e cobriu-se de pano de saco. No Antigo Testamento esse comportamento era característico de profunda humilhação, lamentação e arrependimento (Gênesis 37:34; 2 Samuel 3:31; 2 Reis 6:30; Lamentações 2:10; Joel 1:13).
Então de forma misericordiosa Deus olhou para a humilhação de Acabe. Por isso Ele resolveu adiar por uma geração o seu juízo sobre a casa de Acabe. Isso significa que o rei não viveria para ver o fim de sua dinastia em Israel. Isso haveria de acontecer nos dias de seu filho Jorão, que morreu no campo que havia pertencido a Nabote. Apesar disso, a sentença de uma morte desonrosa tanto para Acabe quanto para Jezabel foi cumprida (1 Reis 22:37,38; 2 Reis 9:10,34-37).

Por que a vinha de Nabote não podia ser vendida?

Nos povos cananeus, vizinhos dos israelitas, um rei podia confiscar qualquer terra de seu reino. Isso porque nessas nações pagãs todo o território pertencia à família real e era apenas confiado aos súditos.
Mas em Israel isso era completamente diferente. Deus era reconhecido como o verdadeiro proprietário de toda terra. Os israelitas eram vistos como mordomos que simplesmente administravam aquilo que graciosamente tinham recebido de Deus (cf. Êxodo 19:3-8; Levítico 25:23; Números 14:8; 35:34; Deuteronômio 1:8).
Isso também explica a reação de Nabote diante da proposta de Acabe por sua vinha. Ele disse: “Guarda-me o Senhor de que eu dê a herança de meus pais” (1 Reis 21:3). Quando o território da Terra Prometida foi conquistado pelos israelitas, ele foi dividido e distribuído por cada família. Então a posse de cada parte daquele território havia sido dada por Deus como custódia às famílias de Israel.
Os israelitas eram proibidos de negociar e entregar de modo permanente a titularidade de terras familiares. Isso significa que a vinha de Nabote era uma herança sagrada que o Senhor havia dado à sua família. Se Nabote aceitasse vender sua vinha, automaticamente ele acabaria por deserdar seus próprios descendentes (Levítico 25:23; Números 27:1-11; 36:1-12).
Então se a vinha de Nabote fosse vendida, configuraria descumprimento da lei e seria algo desagradável aos olhos do Senhor. Mas por lealdade a Deus, Nabote prontamente recusou a oferta de Acabe por sua vinha, ainda que fosse uma proposta muito vantajosa.

A vinha de Nabote apenas revelou uma sequência de pecados

O episódio envolvendo a vinha de Nabote deixou muito claro que tipo de pessoa o rei Acabe era. Acabe era um homem vendido ao pecado. A palavra de Deus diz que “ninguém houve, pois, como Acabe; que se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor”. Ele era instigado por sua esposa Jezabel, e juntamente com ela abraçou a idolatria e fez grandes abominações em Israel (1 Reis 21:25,26).
W. W. Wiersbe diz que quando alguém se vende para o diabo, pode confundir o bem com o mal e a luz com a escuridão. Através do profeta Isaías Deus diz: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo” (Isaías 5:20).
Acabe caiu exatamente nesse erro. Consequentemente, instigado por sua esposa, ele transgrediu a Lei de Deus em todos os sentidos. Na história da vinha de Nabote, por exemplo, ao lado de Jezabel, Acabe não conseguiu controlar sua cobiça, encorajou o falso testemunho contra Nabote, foi cúmplice de seu assassinato e, por fim, roubou aquilo que não lhe pertencia.
Ao tomar posse da vinha de Nabote, Acabe não estava defraudando apenas a casa de Nabote, mas estava roubando as terras que originalmente pertenciam a Deus. Além disso, o modo como tudo foi feito indica que Acabe e Jezabel usaram a Lei de Deus de forma distorcida e aplicada a satisfazer seus desejos pecaminosos.
Nabote foi morto nos parâmetros da lei ao ser acusado de blasfêmia contra Deus. Mais tarde o mesmo tipo de falsa acusação foi lançado sobre Jesus Cristo e sobre o diácono Estêvão (Mateus 26:59-65; Atos 7). Tal como Acabe e Jezabel tomaram a vinha de Nabote, ainda hoje as pessoas continuam distorcendo a Palavra de Deus a seu bel prazer com a finalidade de satisfazer sua cobiça. Mas o dia do juízo de Deus se aproxima.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Dia dos professores - "Se é ensinar, haja dedicação ao ensino;" (Romanos 12:7)

   O apóstolo Paulo pressupõe em suas palavras que ensinar é uma atividade de grande responsabilidade e, portanto, aquele não tem este chamado não deve assumir o encargo. O professor, seja ela na escola secular, ou na escola bíblica tem um chamado ao exercício responsável, que deve ser realizado com esmero, e diante de si uma grande responsabilidade. A História mostra que os homens que fizeram a diferença na Humanidade tiveram a influência de seus professores, dentre eles estão também aqueles que massacraram o seu povo ou outros povos. É claro que nenhum professor tem como saber o resultado do ensino que ministra. Aos professores sempre foi atribuída uma grande responsabilidade e a necessidade de serem modelos em uma sociedade que tem perdido a sua base, a família. Mas se os professores, eles mesmos, não tiverem um modelo em quem se espelhar será difícil atender à exortação de Paulo. Vemos que as escolas têm se distanciado dos princípios bíblicos e aderido às ideias cada vez mais próximas da filosofia mundana. Se a família tem se esfacelado e seus filhos chegam à escola sem a base moral para que recebam uma educação de qualidade, também os professores têm sido formados sem uma referência como a que nos deixou o maior Mestre que pode nos servir de modelo: Jesus. O apóstolo Paulo em I Coríntios 11:1 ensina: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”. Professores que têm Jesus como referência têm a base para enfrentar as dificuldades que os alunos de hoje trazem para a escola, pois diante de todos os tipos de alunos, o Mestre sempre foi atencioso e firme. A Bíblia mostra que Ele deu atenção ao jovem rico e à mulher samaritana; ao religioso judeu e ao simpatizante gentio; ao escrupuloso fariseu e ao desconfiado publicano. Isso não significava mudar de método, de teoria, ou de princípios. Jesus atendia a todos de forma personalizada com a metodologia infalível: o amor!

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Aliança Mosaica e Aliança Abraãmica e suas distinções

“Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um” (Gl 3.20).
O versículo acima mostra o quanto um texto do NT, quando traduzido ao pé da letra, pode ser lacônico e vago. Trata-se, também, de um versículo que ilustra a importância do contexto como ferramenta crucial na compreensão de determinada passagem.
De fato, ao dizer simplesmente que “o mediador não é de um” e que Deus, porém, “é um”, Paulo não transmite uma ideia clara ou completa ao leitor atual e, caso alguém caia na tentação de buscar o significado dessas afirmações à parte do assunto tratado pelo apóstolo, o máximo a que talvez seja capaz de chegar abrangerá uma defesa do monoteísmo, frisando a parte final do versículo e dizendo que há um só Deus e nenhum outro.
Ao escrever Gálatas 3.20, porém, Paulo não se propôs a defender o monoteísmo como, numa leitura desatenta, pode parecer. O monoteísmo, obviamente, é verdadeiro e Paulo o ensina claramente em outros escritos (Ex.:1Co 8.5-6; 1Tm 2.5). Porém, não é esse o tema de que ele trata aqui e a simples observação do contexto deixa isso fora de dúvida.
A verdade é que, quando levado em conta o assunto de que Paulo trata nessa porção da Carta aos Gálatas (vejam-se os vv.15-19), fica evidente que, no v.20, o apóstolo está propondo um contraste entre a aliança promulgada ao tempo de Moisés (que envolvia a Lei) e o pacto de Deus firmado com Abraão.
Assim, quando Paulo afirma que “o mediador não é de um”, ele está se referindo a Moisés e à aliança que veio à luz por sua instrumentalidade. Nessa aliança, Moisés atuou como um “mediador”, o que evidenciava a bilateralidade (“não é de um”) do Pacto do Sinai. Sendo, pois, bilateral, a Aliança Mosaica comprometia ambas as partes (Deus e o povo), impondo sobre as duas tanto direitos como obrigações. Frise-se que, no pensamento de Paulo, a simples existência de um mediador era prova cabal de que a Aliança Mosaica era bilateral, comprometendo tanto Deus como os homens.
O versículo, porém, prossegue e Paulo apresenta o segundo elemento do contraste que quer estabelecer. Que esse contraste existe, fica evidente pelo uso que faz da conjunção δέ (mas). O apóstolo, assim, afirma: “Mas Deus é um”. Em outras palavras: se, de um lado, houve um pacto em que duas partes se obrigaram (a Aliança Mosaica); de outro, houve um pacto no qual somente um se obrigou, isto é, Deus. Com efeito, no Pacto Abraâmico “Deus é um”, isto é, figura como a única parte que se comprometeu, fixando, dessa forma, uma aliança unilateral.
Observe-se, portanto, que o sentido da frase “Deus é um” (que, a princípio, parece tão desconectada do assunto), pode ser claramente detectado à luz do ambiente textual em que ela se encontra. Esse ambiente mostra que a expressão “mas Deus é um” se relaciona com o pacto de Deus com Abraão (vv.16,19), sendo, a partir desse aspecto presente no texto, que a frase em pauta deve ser entendida.
Resumindo: em Gálatas 3.20, Paulo ensina que, diferente da Aliança Mosaica, a Aliança Abraâmica envolveu somente um: Deus. Isso significa que, ao fazer suas promessas ao velho patriarca, somente Javé se comprometeu, o que, aliás, pode ser facilmente observado no fato de somente ele ter passado entre os pedaços de animais que foram mortos para formalizar aquela aliança (Gn 15.17).
Qual é a relevância desse ensino? Muito simples: Paulo destaca que as bênçãos da promessa estão ligadas à Aliança Abraâmica e não à Aliança Mosaica (v.16-17). E a Aliança Abraâmica, diferente da Mosaica, é unilateral, não impondo norma nenhuma ao homem. Consequentemente, para participar das bênçãos da Aliança Abraâmica, não é preciso observar regra alguma (como os galateus estavam fazendo), mas somente crer (como Abraão fez — vejam-se os vv.22,24).
Infelizmente, muitos evangélicos de hoje acreditam que a herança da promessa está conectada à Aliança Mosaica e vivem cumprindo regras (até mesmo não bíblicas) para alcançá-la. Quão felizes seriam, porém, se descobrissem o verdadeiro evangelho e, finalmente, aprendessem que a herança de Deus se conecta ao Pacto Abraâmico — um pacto unilateral, livre de preceitos e normas; enfim, um pacto que beneficia os que tão somente creem em Cristo, tornando-os, afinal, herdeiros do universo.