quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Graça suficiente para enfrentar o sofrimento


   A escola da vida é diferente da escola convencional. Dá primeiro a prova, depois a lição. Primeiro a dor, depois o aprendizado. Primeiro, o sofrimento depois o consolo. Como foi que o apóstolo Paulo enfrentou o sofrimento? Ele experimentou alegria no sofrimento. Alegria apesar dos problemas; alegria apesar dos difamadores; alegria apesar da morte. Paulo enfatizou que as coisas espirituais estão acima das materiais; o futuro é melhor do que o presente; e o eterno é mais importante do que o temporal. Paulo aprendeu não apenas a sobreviver às circunstâncias adversas, mas ainda a gloriar-se nelas e sair delas vitorioso.

Paulo fala das revelações extraordinárias quando foi arrebatado até o terceiro céu e do espinho na carne (2Co 12.1-9). Há um grande contraste entre essas duas experiências: Ele foi do paraíso à dor, da glória ao sofrimento. Experimentou a bênção de Deus no céu e a bofetada de Satanás na terra. Paulo tinha ido ao céu, mas agora, aprendeu que o céu pode vir até ele.

Esse texto  ensina-nos algumas lições preciosas:

Em primeiro lugar, há um propósito em cada sofrimento. No preâmbulo de sua segunda carta aos Coríntios, Paulo diz que o nosso sofrimento e a nossa consolação são instrumentos usados por Deus para abençoar outras vidas (2Co 1.3). Na escola da vida, Deus está nos preparando para sermos consoladores. Paulo rogou ao Senhor três vezes para remover o espinho de sua carne. Aprendeu, porém, que quando Deus não remove “o espinho”, é porque tem uma razão. Deus não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. Sempre há um propósito. O propósito é não nos ensoberbecermos.

Em segundo lugar, é possível que Deus resolva revelar-nos o propósito de nosso sofrimento. No caso de Paulo, Deus decidiu revelar-lhe a razão do “espinho” em sua carne: evitar que o apóstolo ficasse orgulhoso. Quando Paulo orou, não perguntou porque estava sofrendo, apenas pediu a remoção do sofrimento. Não é raro Deus revelar as razões do sofrimento. Revelou a Moisés a razão porque não lhe seria permitido entrar na Terra Prometida. Disse a Josué porque ele e seu exército haviam sido derrotados em Ai. O nosso sofrimento tem por finalidade nos humilhar, nos aperfeiçoar, nos burilar e nos usar.

Em terceiro lugar, o sofrimento pode ser um dom de Deus. Temos a tendência de pensar que o sofrimento é algo que Deus faz contra nós e não por nós. Jacó disse num momento difícil da vida: “Tendes-me privado de filhos; José já não existe, Simeão não está aqui, e ides levar a Benjamim! Todas estas coisas me sobrevêm” (Gn 42.36). Jacó pensou que Deus estava trabalhando contra ele, quando Deus estava trabalhando por ele. Assim também, o espinho de Paulo era uma dádiva, porque através desse incômodo, Deus o protegeu daquilo que ele mais temia – ser desqualificado espiritualmente. Paulo viu o sofrimento como algo que Deus fez a seu favor e não contra ele.

Em quarto lugar, a graça de Deus nos é suficiente no sofrimento. A resposta que Deus deu a Paulo não era a que ele esperava nem a que ele queria, mas era a que ele precisava. Deus não deu a Paulo o que ele pediu, deu-lhe algo melhor, melhor que a própria vida, a sua graça. A graça de Deus é melhor do que a vida. Por ela enfrentamos o sofrimento vitoriosamente. O que é graça? É a provisão de Deus para cada uma das nossas necessidades. Se a graça de Deus foi suficiente para um homem que deixou todas as glórias de seu passado para pregar o evangelho e plantar igrejas em ambientes hostis, como as províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Se a graça de Deus foi suficiente para um homem que sofreu naufrágios, prisões, açoites, apedrejamento e o próprio martírio, tenho plena certeza de que essa mesma graça divina é mais do que suficiente para qualquer sofrimento que você e eu venhamos a enfrentar!

I. A GRAÇA DE DEUS NOS CAPACITA A ENFRENTAR O SOFRIMENTO

1. Variados sofrimentos
• Deus lhe disse: “Eu lhe mostrarei o quanto importa sofrer pelo meu nome” (At 9:16).
• Foi perseguido em Damasco;
• Foi rejeitado em Jerusalém;
• Foi esquecido em Tarso;
• Foi apedrejado em Listra;
• Foi açoitado e preso em Filipos;
• Foi escorraçado de Tessalônica e Beréia;
• Foi chamado de tagarela em Atenas;
• Foi chamado de impostor em Corinto;
• Foi duramente atacado em Éfeso;
• Foi preso em Jerusalém;
• Foi acusado em Cesaréia;
• Foi vítima de naufrágio indo para Roma;
• Foi picado por uma serpente em Malta
• Foi preso e degolado em Roma.
• Ele disse para a igreja da Galácia: “Eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gl 6:17). Ele falou de lutas por dentro e temores por fora. Ele falou de trabalhos, prisões, açoites, perigos de morte, ele foi fustigado com varas, apedrejado, sofreu naufrágio, fome, sede, nudez, preocupação com todas as igrejas.
• O nosso sofrimento NÃO é sinal de que estamos longe de Deus, de que estamos fora da sua vontade. As pessoas que andaram mais perto de Deus foram aquelas que mais sofreram. “Eu tenho por certo que o sofrimento do tempo presente, não podem ser comparados com as glórias por vir a serem reveladas em nós.” Diz ainda: “A nossa leve e momentânea tribulação, produz para nós eterno peso de glória”.

II. A GRAÇA DE DEUS NOS CAPACITA A VIVER VITORIOSAMENTE APESAR DAS ADVERSIDADES

1. Paulo sofreu a dor da solidão – Gente precisa de Deus. Mas gente também precisa de gente. Ele pediu para Timóteo: 1) Procura vir ter comigo depressa (v. 9); 2) Toma contigo a Marcos e traze-o contigo (v. 11); 3) Apressa-te a vir antes do inverno (v. 21).
2. Paulo sofreu a dor do abandono – Na hora que mais Paulo precisou de ajuda foi abandonado e esquecido na prisão. Caminhou sozinho para o Getsêmani do seu martírio, assistido apenas pela graça de Deus. Diz ele: “Demas, tendo amado o presente século me abandonou…” (v. 10). Na hora que estamos sofrendo, precisamos de amigos por perto.
3. Paulo sofreu a dor da ingratidão – Paulo diz: “Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram” (v. 16). Paulo deu sua vida pelos outros; agora, que precisa de ajuda ninguém se arrisca por ele. De que Paulo devia estar sendo acusado? 1) Ateísmo – porque se abstinha do culto ao imperador e idolatria; 2) Canibalismo – porque os crentes falavam em comer a carne e beber o sangue de Cristo quando celebravam a Ceia do Senhor.
4. Paulo sofreu a dor da perseguição – Paulo diz: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras” (v. 14). Este homem foi quem delatou Paulo, culminando na sua segunda prisão e consequente martírio.
5. Paulo sofreu a dor da resistência – No v. 15 somos informados que Alexandre, o latoeiro, resistiu fortemente às palavras de Paulo. Ele era um opositor do ministério de Paulo. Não só perseguia o apóstolo, mas também se opunha ao evangelho.
6. Paulo sofreu a dor do frio – Ele pediu para Timóteo levar a sua capa (v. 13). As prisões romanas eram frias, insalubres, escuras. Os prisioneiros morriam de lepra, de doenças contagiosas. O inverno estava se aproximando (v. 21) e Paulo precisa de uma capa quente para enfrentá-lo.
7. Paulo sofreu a dor de não ter os pergaminhos – Paulo estava na ante-sala do martírio, mas queria aprender mais, queria estudar mais, queria examinar mais os livros, os pergaminhos, a Palavra de Deus. Paulo precisa de amigos, de roupa e de livros. Tinha necessidades da alma, da mente e do corpo.

III. A GRAÇA DE DEUS NOS CAPACITA A TER OS VALORES DE VIDA MAIS EXCELENTES

1. Uma avaliação correta do presente – v. 6
a) Olha para a vida na perspectiva de Deus – “Nero não vai me matar. Eu é que vou oferecer minha vida como um sacrifício a Jesus”. Paulo comparou a sua vida como um sacrifício e uma oferta.
b) Olha para a morte na perspectiva de Deus – Paulo diz: “O tempo da minha partida é chegada” (v. 6). A palavra analysis significa:
1) É a palavra que descreve a ação de desatar um animal do jugo – A morte é descanso do trabalho. A morte é deixar a carga, a fadiga (Ap 14:13).
2) É a palavra que significa deixar solto os laços ou cadeias – A morte para Paulo era uma libertação e alívio. Ia deixar a escura prisão romana para entrar no paraíso.
3) É a palavra para afrouxar as estacas de uma tenda – Para Paulo a morte é levantar acampamento, é mudar de endereço, é ir para a Casa do Pai.
4) É a palavra para soltar as cordas de um barco – Para Paulo a morte é singrar as águas do mar da vida e chegar no porto divinal, nas praias da eternidade, onde não há choro, nem pranto, nem luto, nem morte. Morrer é estar com Cristo. Morrer é habitar com o Senhor. Morrer é ir para a Casa do Pai.

2. Uma avaliação correta do passado – v. 7
• Muitas pessoas são como a Peer Gee de Ibsen, investem a vida toda naquilo que não tem nenhum valor eterno e chegam ao fim e dizem: Minha vida foi como uma cebola, só casca.
a) Combati o bom combate – Paulo olhou para a vida como um combate. Nada de facilidades. Nada de amenidades. É luta. É combate renhido. Luta contra o mal. Luta contra as trevas. Luta contra os principados e potestades. Luta contra o pecado. Luta pelo evangelho. Luta para salvar vidas da perdição.
b) Completei a carreira – Ele não carregou peso inútil nas costas, por isso chegou ao fim da carreira. Ele não se destraiu com coisas fúteis, por isso chegou ao fim da carreira. Ele correu de acordo com as regras por isso chegou ao fim da corrida. Ele manteve o seus olhos no alvo, por isso chegou ao fim, vitoriosamente. Paulo disse: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo conquanto que eu complete a minha carreira”. Demas começou bem, mas desistiu no meio do caminho.
c) Guardei a Fé – Paulo foi um soldado fiel ao seu Senhor até o fim. Muitos são como a mulher de Ló, olham para trás. Outros são como os israelitas, sentem saudades do Egito. Outros são como Demas, amam o presente século. Paulo manteve-se firme!

3. Uma visão correta do futuro – v. 8
a) Certeza da recompensa futura – Paulo tinha certeza da bem-aventurança eterna. Ele fala da coroa da justiça. O imperador Nero pode declará-lo culpado e condená-lo à morte, mas logo virá uma magnífica revogação do veredito de Nero, quando o Senhor, reto juiz o declarar justo. Os mártires morreram cantando pela visão da glória: Estêvão disse: “Eu vejo o céu aberto e o Senhor de pé”.
b) Certeza da segunda vinda de Cristo – Cristo vai voltar. E com ele está o galardão. Com ele está a coroa. Nossa recompensa está no céu.

IV. A GRAÇA DE DEUS NOS CAPACITA A RECEBER A ASSISTÊNCIA DO CÉU NA HORA DA MORTE – V. 17-18

1. Abandonado pelos homens, mas assistido por Deus – v. 17
• Paulo foi vítima de abandono dos homens, mas foi acolhido e assistido por Deus. Assim como Jesus foi assistido pelos anjos no Getsêmani quando os seus discípulos dormiram, também Paulo foi assistido por Deus na hora da sua dor mais profunda. Deus não nos livra do vale, mas caminha conosco no vale.

2. Deus não nos livra das provas, mas nos dá poder e forças para cumprirmos o nosso ministério mesmo nas provas – v. 17
• Deus revestiu Paulo de forças para que continuasse pregando a Palavra. O vaso é de barro, mas a Palavra é poderosa. Paulo foi preso, mas a Palavra espalhou-se por todos os gentios.
3. Deus muitas vezes não nos livra da morte, mas na morte – v. 18
• Paulo não foi poupado da morte, mas foi liberto através da morte. A morte para ele não foi castigo, perda, derrota, mas vitória. O aguilhão da morte já foi tirado. Morrer é lucro. Morrer é precioso. Morrer é bem-aventurança. Morrer é ir para a Casa do Pai. Morrer é entrar no céu.

4. Na hora do balanço final Paulo expressa não um gesto de frustração, mas um tributo de glória ao seu Senhor – v. 18
• Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado, mas em vez de fechar a cortina da vida com pessimismo, amargura, ressentimento, termina erguendo ao céu um tributo de louvor ao Senhor Jesus.
• Suas últimas palavras foram de exaltação ao seu Senhor.