segunda-feira, 13 de março de 2017

Pragmatismo Religioso e Carisma Sem Caráter, Marcas de “Lobos Disfarçados” !

Pragmatismo Religioso e Carisma Sem Caráter, Marcas de “Lobos Disfarçados”!
Pragmatismo Religioso e Carisma Sem Caráter, Marcas de “Lobos Disfarçados”!
Pragmatismo Religioso e Carisma Sem Caráter, Marcas de “Lobos Disfarçados”!
“Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mateus 7. 21-23)
Neste texto Jesus adverte os seus discípulos a fim de que sejam cuidadosos e cautelosos com aqueles que ele chama de falsos profetas.
O povo de Deus no Antigo Testamento conviveu com a presença disfarçada de homens que se diziam inspirados e portadores de uma mensagem divina.
A igreja no Novo Testamento conviveu com a presença de falsos mestres, falsos profetas, falsos apóstolos e obreiros fraudulentos que se infiltravam sorrateiramente.
Temos vivido uma época de confusão religiosa e doutrinária, em que crentes ávidos por novidades, correm de um lado para o outro em busca de novos ensinos, de novas práticas, de novos movimentos, de novas sensações, de novos fenômenos, de novos líderes que se dizem portadores de uma unção especial para realização de coisas especiais.
Vivemos uma época em que pessoas simples, de uma fé sincera, desejosa de agradar a Deus, são facilmente manipuladas e ludibriadas porque confundem simplicidade com ingenuidade.
Jesus nos traz essa advertência porque ele sabe do potencial devastador desses “lobos disfarçados” infiltrados num rebanho de ovelhas ingênuas, simples. Nos vs.21-23 Jesus fala que esses tais podem até receber o aplauso, o reconhecimento e a valorização dos homens, mas não subsistirão quando passarem pelo crivo de Deus. Suas realizações e seus métodos podem até impressionar os homens, mas não impressionam a Deus. Diante disso, gostaria de falar de algumas coisas que impressionam os homens, mas não impressionam a Deus, que recebem o louvor e aprovação dos homens, mas não passam pelo crivo de Deus!
Em primeiro lugar, vemos nesse texto que…
1. Deus não se impressiona com pragmatismo religioso (v.22, 23)
O que é pragmatismo? Pragmatismo é uma filosofia de vida que diz que as idéias que produzem efeitos práticos têm valor!
Para o pragmatismo o valor de uma idéia, de um método ou de um meio empregado está estritamente ligado ao alcance de resultados. Para o pragmático o que importa é se funciona, se dá certo, se produz os efeitos e resultados desejados. Se é certo ou não, se é verdadeiro ou não, se é legal ou não, se é ético ou não, não interessa! O que interessa é se funciona, se produz resultados.
O pragmatismo religioso usa o nome de Deus, usa uma linguagem religiosa e piedosa para obter resultados. Se os meios empregados são corretos ou não, se a doutrina ensinada é bíblica ou não, se conta com a aprovação de Deus ou não, não interessa! O que interessa é se funciona; é se atrai pessoas; é se enche os templos; é se traz resultados financeiros; é se arrebanha adeptos.
No v.22 Jesus deixa claro que naquele dia, no dia do acerto de contas, o pragmatismo religioso será utilizado como argumento diante d’Ele. Senhor,…
- Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós profetizamos;
- Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós expulsamos demônios;
- Usamos o Teu nome e deu certo; funcionou; nós fizemos muitos milagres.
No entanto, o pragmatismo religioso não impressiona a Deus. Jesus disse que os pragmáticos religiosos ouvirão dos seus lábios as seguintes palavras: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.”
Porém, apesar dessas Palavras do Senhor Jesus, o que nos preocupa é que pragmatismo religioso dos nossos dias tem impressionado muitas ovelhas ingênuas!
Em nossos dias, o evangelho paganizado tem dado certo! A venda de bugigangas religiosas, de amuletos, de pedrinhas, de rosas consagradas, de lenços, de água benzida tem dado certo; o evangelho da prosperidade, do banho do “abre caminho”, do “sal grosso”, do “kit da rainha Ester” tem dado certo! O evangelho do “agora é só vitória”, do “cai, cai”, do frio na espinha, dos arrepios tem dado certo!
E o pior! Temos ficado impressionados com isso! Temos ficado abobalhados com esse evangelho adulterado, com essa falsificação barata do evangelho de Jesus, com esse subproduto da fé.
O que nos consola é que, apesar da nossa “ingenuidade”, Deus não se impressiona com isso! Para Ele, não basta usar o seu nome! Não basta dá certo! Não basta funcionar! É preciso ser realizado do jeito certo, com a motivação certa, empregando os meios corretos, mediante a pregação do evangelho genuíno.
Portanto, nestes últimos dias, não sejamos ingênuos! Não fiquemos impressionados com esse pragmatismo religioso! Pois, nem tudo que funciona tem a aprovação de Deus! Nem tudo que dá certo, passa pelo crivo de Deus, mesmo que seja feito em nome de Deus.
Mas, em segundo lugar, vemos nesse texto que…
2. Deus não se impressiona com carisma sem caráter (v.21,23b)
Nestes versículos Jesus deixa claro que naquele dia, não somente o pragmatismo religioso, mas também o carisma e a linguagem piedosa serão utilizados como argumento diante d’Ele.
Dirão: Senhor, usamos o teu nome e profetizamos, expulsamos demônios, e fizemos muitos milagres. Senhor, mais do que isso, confessamos publicamente que tu és Senhor (v.21a)!
Mais uma vez, o v.21 mostra que Deus não se impressiona com linguagem piedosa, com vocabulário religioso, sem submissão à sua vontade.
Para esses que usarão o argumento do carisma e da linguagem piedosa, Jesus dirá categoricamente: nunca vos conheci!
Mas, por quê? Porque carisma sem caráter não impressiona a Deus! Porque linguagem piedosa sem caráter não passa pelo crivo de Deus.
Muitos naquele dia ouvirão:
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não tinham caráter; não tinham ética; não tinham moral!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não faziam a minha vontade!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas não tiravam proveito da fé simples do meu povo!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas fizeram da piedade uma fonte de lucro!
Apartai-vos de mim, porque vocês tinham carisma, mas paganizaram o meu evangelho!
Apartai-vos de mim, porque vocês me chamavam de “Senhor”, mas nunca se submeteram ao meu senhorio!
Apartai-vos de mim, porque vocês usavam linguagem piedosa, mas praticavam a iniqüidade!
Neste texto, Jesus deixa claro que Deus não se deixa impressionar com carisma sem caráter. No entanto, apesar do que Ele disse, o que nos preocupa é que muitas ovelhas “ingênuas” têm se deixado impressionar com o carisma e a linguagem piedosa de supostos líderes religiosos.
Porém, para Deus não basta ser carismático, é preciso ter caráter! Não basta fazer demonstrações espetaculares, extraordinárias, sobrenaturais, é preciso ser íntegro diante d’Ele. Não basta usar vocabulário religioso ou linguagem piedosa, é preciso viver uma vida piedosa diante d’Ele.
Talvez você esteja aí pensando, refletindo e querendo perguntar: Pastor, o que fazer para diferenciar o que é do que não é? Como discernir, como perceber que estamos lidando com “lobos” disfarçados? Afinal de contas, confessam Jesus como Senhor; usam um vocabulário religioso; falam a palavra de Deus; exercem um ministério público espetacular, sobrenatural, produtivo e de sucesso! Como discernir, como perceber que são “lobos” disfarçados? Esses questionamentos se avolumam em nossa mente e nos deixam um tanto confusos, principalmente quando lemos Mateus 7.1a, 2: “Não julgueis, para que não sejais julgados.” “Por que vês tu o argueiro que está no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?”
O Senhor Jesus deixou um critério infalível!
“Pelos seus frutos os conhecereis.” (7.16a)
“Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.” (7.20)
Ou seja, a orientação de Jesus foi: Observem a sua conduta, o seu caráter, o seu preceder na sociedade! Observem os seus ensinos! São ensinos sadios que produzem um rebanho sadio? Ou são deturpações do evangelho que produz um rebanho doente?
Prestem no que os motiva a pregarem o evangelho! Proclamam o evangelho por que amam as vidas? Ou por que vêem na proclamação do evangelho um bom negócio? Proclamam o evangelho por que amam a glória do Senhor ou porque querem posição, status e o aplauso dos homens? Proclamam o evangelho porque querem tornar conhecido o nome de Jesus ou porque querem ser conhecidos como líderes de um grande ministério?
Prestem a atenção! Não sejam “ingênuos”! Não anulem a capacidade que eu dei a vocês de refletir, de avaliar, de discernir, de emitir juízos acerca do que vêem e percebem.
Em Mt 10.16 Jesus nos deixou a seguinte advertência: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.”
Portanto, não confundamos simplicidade com ingenuidade. Jesus nos conclama a sermos simples, não ingênuos.
Escrevendo aos coríntios Paulo disse: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.” (1 Co 14.20)

sexta-feira, 10 de março de 2017

HUDSON TAYLOR (1832 - 1905) - O Pai Das Missões No Interior Da China !

O pai das missões no interior da China - HUDSON TAYLOR (1832-1905)
Tiago Taylor tinha-se levantado cedo de madrugada. Chegara por fim o auspicioso e anunciado dia de seu casa­mento; o moço ocupava-se em arrumar tudo para receber a noiva na casa que iam ocupar. Enquanto trabalhava, esta­va meditando sobre as ocorrências recentes na aldeola.

Duas famílias, a dos Cooper e a dos Shaw, converte­ram-se e convidaram João Wesley a pregar na feira. O ve­lho discursou sobre "a ira vindoura" de tal maneira, que o povo desistiu da amarga perseguição, deixando o intrépido pregador hospedar-se na casa do senhor Shaw.

Enquanto Tiago preparava a casa para a chegada da noiva, ouvia-se a voz da vizinha, a senhora Shaw, cantan­do. Lembrou-se de como ela, meses antes, passava todo o tempo acamada, gemendo dia após dia por causa do reu­matismo que a deixara aleijada. Mas quando "confiou no Senhor", como disse, para a cura imediata, grande foi a transformação. E indizível foi a surpresa do marido ao vol­tar a casa: a esposa não somente estava curada e de pé, mas estava varrendo a cozinha!Tiago Taylor odiava a religião. Ainda mais: esse era o dia em que se ia casar. Depois do casamento iam dançar e beber como se fazia em tais ocasiões. Mas não podia livrar-se das palavras, talvez ouvidas do sermão do pregador: "Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."

Sim, ia ter uma esposa e assumir as responsabilidades de marido e de pai de família. Grande tinha sido seu des­cuido. Resolvido, então, a entrar seriamente na vida de ca­sado, começou a repetir as palavras: "Serviremos ao Se­nhor!"

As horas se passavam. O sol subia mais e mais sobre as casas cobertas de neve. Mas o jovem Tiago, esquecido de tudo que é material, e tomado pela realidade das coisas eternas, permaneceu de joelhos, face a face com Deus. O amor do Salvador, por fim, venceu o seu coração e Tiago Taylor levantou-se com a alma cheia do Senhor Jesus.

Podemos imaginar como os sinos dobraram, como a noiva e os convivas se impacientaram, nesse dia. Já havia passado a hora para o culto de casamento quando o jovem despertou do enlevo com Deus e se levantou da oração. De­pois de vestir-se, venceu rapidamente os três quilômetros até o vilarejo de Royston.

Sem perderem tempo em perguntar ao rapaz a razão de tanto atraso, realizou-se o culto, e Tiago e Elisabete saí­ram da igreja, casados. O jovem não vacilou, mas ao sair contou tudo acerca da sua conversão, ao ouvido de Bete. Ao ouvir o que ele relatava, ela exclamou em tom de deses­pero: "Casei-me, então, com um desses metodistas!"

Não houve dança nesse dia; a voz e o violino do noivo foram usados para glorificar o Mestre. Bete, apesar de sa­ber em seu coração que Tiago tinha razão, continuou a re­sistir e a queixar-se dia após dia. Então, certo dia, quando se mostrava ainda mais contrariada, o robusto Tiago le­vantou-a nos braços e a levou para o quarto, onde se ajoe­lhou ao seu lado, derramando a sua alma em oração por ela. Comovida pela profundeza da mágoa e cuidado que Tiago sentia por sua alma, ela começou a sentir também seu pecado e, no dia seguinte, de joelhos, ao lado do mari­do, Elisabete Taylor clamou a Deus, renunciando a vaida­de do mundo e entregando-se a Cristo.É, assim, com os bisavós, que começa a verdadeira bio­grafia do herói da fé, Hudson Taylor. Os avós e os pais, na mesma ordem, criaram seus filhos no mesmo temor de Deus.

Num memorável dia, antes do nascimento de Hudson, o primogênito da família, o pai procurou a sua esposa para conversar sobre uma passagem das Escrituras que o im­pressionava profundamente. Na sua Bíblia leu para ela uma parte dos capítulos 13 de Êxodo e 3 de Números: "Santifica-me todo o primogênito... Todo o primogênito meu é... Meus serão... Apartarás para o Senhor..."

Os dois conversaram muito tempo sobre o gozo que es­peravam ter. Então, de joelhos, entregaram seu primogêni­to ao Senhor, pedindo que desde já ele o separasse para a sua obra.

Tiago Taylor, o pai de Hudson, não somente orava fer­vorosamente por seus cinco filhos, mas ensinou-os a pedi­rem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados, diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao re­dor de cada um enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovan­do a alma por meio de oração e estudo das Escrituras.

A porta fechada do quarto da sua mãe, diariamente ao meio-dia, apesar das suas constantes e inumeráveis obri­gações, tinha também grande influência sobre todos, pois sabiam que ela, assim, se prostrava perante Deus para re­novar suas forças e para que o próximo se sentisse atraído ao Amigo invisível que habitava nela.

Não é de admirar, portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiri­tual ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros in­finitos.

Contudo, não devemos julgar que a mocidade de Hud­son Taylor fosse isenta de grandes lutas. Como acontece com muitos, o moço chegou à idade de dezessete anos sem reconhecer Cristo como seu Salvador. Acerca disso ele es­creveu mais tarde:"Pode ser coisa estranha, mas sou grato pelo tempo que passei no ceticismo. O absurdo de crentes que professam crer na Bíblia enquanto se comportam justamente como se não existisse tal livro, era um dos maiores argumentos dos meus companheiros céticos. Freqüentemente afirmava que, se eu aceitasse a Bíblia, ao menos faria tudo para se­guir o que ela ensina e no caso de achar que tal coisa não era prática, lançaria tudo fora. Foi essa a minha resolução quando o Senhor me salvou. Acho que desde então real­mente provei a Palavra de Deus. Certamente nunca me ar­rependi de confiar nas suas promessas ou de seguir a sua direção.

"Quero relatar então como Deus respondeu às orações da minha mãe e da minha querida irmã, por minha con­versão:

"Certo dia, para mim inesquecível,... para me divertir, escolhi um tratado na biblioteca de meu pai. Pensei em ler o começo da história e não ler a exortação do fim.

"Eu não sabia o que acontecia ao mesmo tempo no co­ração da minha querida mãe, que estava a mais de cem quilômetros de casa. Ela levantara-se da mesa anelando a salvação de seu filho. Estando longe da família e livre da lida doméstica, entrou no seu quarto, resolvida a não sair antes de receber a resposta às suas orações. Orou hora após hora, até que, por fim, só podia louvar a Deus: o Espírito Santo revelou-lhe que o filho por quem orava já se havia convertido.

"Eu, como já mencionei, fui dirigido ao mesmo tempo a ler o tratado. Fui atraído pelas palavras: A obra consuma­da. Perguntei-me a mim mesmo: "Por. que o escritor não escreveu: A obra propiciatória? Qual é a obra consuma­da?" Então vi que a propiciação de Cristo era plena e per­feita. Toda a dívida de nossos pecados ficou paga e não res­tava coisa alguma que eu fizesse. Então raiou em mim a gloriosa convicção; fui iluminado pelo Espírito Santo, para reconhecer que eu somente precisava de prostrar-me e, aceitando o Salvador e a sua salvação, louvá-lo para todo o sempre.

"Assim, enquanto a minha querida mãe, no seu quarto, de joelhos, estava louvando a Deus, eu também louvava a Deus na biblioteca de meu pai, onde entrara para ler o li­vrinho."

Foi assim que Hudson Taylor aceitou, para a sua pró­pria vida, a obra propiciatória de Cristo, um ato que trans­formou todo o resto da sua vida. Acerca da sua consagra­ção, ele escreveu:

"Lembro-me bem da ocasião, quando, com gozo no co­ração, derramei a alma perante Deus, repentinamente, confessando-me grato e cheio de amor porque Ele tinha feito tudo - salvando-me quando eu não tinha mais espe­rança, nem queria a salvação. Supliquei-lhe que me conce­desse uma obra para fazer, como expressão do meu amor e gratidão, algo que envolvesse abnegação, fosse o que fosse; algo para agradar a quem fizera tanto para mim. Lembro-me de como, sem reserva, consagrei tudo, colocando a mi­nha própria pessoa, a minha vida, os amigos, tudo sobre o altar. Com a certeza de que a oferta fora aceita, a presença de Deus se tornou verdadeiramente real e preciosa. Pros­trei-me em terra perante Ele, humilhado e cheio de indizí­vel gozo. Para que serviço fora aceito eu não sabia. Mas fui possuído de uma certeza tão profunda de não pertencer mais a mim mesmo, que esse entendimento, depois domi­nou toda a minha vida".

O moço que entrou no quarto para estar sozinho com Deus nesse dia, não era o mesmo quando dali saiu. Um alvo e um poder se apossaram dele. Não mais ficou satis­feito em somente alimentar a sua própria alma nos cultos; começou a sentir a sua responsabilidade para com o próxi­mo - anelava tratar dos negócios de seu Pai. Regozijava-se com riquezas e bênçãos indizíveis. E, como os leprosos no arraial dos siros, Hudson e sua irmã, Amélia, diziam: Não fazemos bem; este dia é de boas novas, e nos calamos. De­sistiram, pois, de assistir aos cultos aos domingos à noite e saíram para anunciar a mensagem, de casa em casa, entre as classes mais pobres da cidade. Mas Hudson Taylor não se sentia satisfeito; sabia que ainda não estava no centro da vontade de Deus. Na angústia de seu espírito, como aquele da antiguidade, clamou: Não te deixarei ir, se me não abençoares. Então, sozinho e de joelhos, surgiu na sua alma um grande propósito: se Deus rompesse o poder do pecado e o salvasse em espírito, alma e corpo para toda a eternidade, ele renunciaria tudo na terra para ficar sempre ao seu dispor. Acerca desta experiência, foi ele mesmo que se expressou:

"Nunca me esquecerei do que senti então; não há pala­vras para descrever. Senti-me na presença de Deus, en­trando numa aliança com o Todo-poderoso. Pareceu-me que ouvi enunciadas as palavras: Tua oração é ouvida; to­das condições são aceitas.' Desde então nunca duvidei da convicção de que Deus me chamava a trabalhar na China."

A chamada de Deus, apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do seu co­ração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das car­tas enviada a sua irmã:

"Imagina, centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece incrível; milhões de pes­soas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estreba­ria, em qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para morrer no es­trangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."

A falta de espaço não permite relatarmos aqui o heroís­mo da fé que o jovem mostrou suportando os sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de cirurgia para melhor servir o povo da China.

Antes de embarcar, escreveu estas palavras à sua mãe: "Anelo estar aí uma vez mais e sei que a senhora quer ver­me, mas acho melhor não nos abraçarmos um ao outro mais, pois isso seria encontrarmo-nos para logo nos sepa­rarmos para todo o sempre..." Contudo a sua mãe foi ao porto de onde o navio se ia fazer à vela. Alguns anos depois ele assim registrou a partida:"A minha querida mãe, que agora está com Cristo, veio a Liverpool para despedir-se de mim. Nunca me esquece­rei de como ela entrou comigo no camarote em que eu ia morar quase seis longos meses. Com o carinho de mãe, en­direitou os cobertores da pequena cama. Assentou-se ao meu lado e cantamos o último hino antes de nos separar­mos um do outro. Ajoelhamo-nos e ela orou. Foi a última oração de minha mãe antes de eu partir para a China. Ou­viu-se então o sinal para que todos os que não eram passa­geiros saíssem do navio. Despedimo-nos um do outro, sem a esperança de nos encontrarmos outra vez... Ao passar o navio pelas comportas, e quando a separação começou a ser realidade, do seu coração saiu um grito de angústia tão comovente, que jamais esquecerei. Foi como que meu cora­ção fosse traspassado por uma faca. Nunca reconheci tão plenamente até então, o que significam as palavras: Pois assim amou Deus ao mundo. Estou certo de que a minha preciosa mãe, nessa ocasião, chegou a compreender mais do amor de Deus para com um mundo que perece do que em qualquer outro tempo da sua vida. Oh! como se entris­tece o coração de Deus ao ver como seus filhos fecham os ouvidos à chamada divina para salvar o mundo pelo qual seu amado, seu único Filho sofreu e morreu!"

Os passageiros de navios modernos conhecem muito pouco do incômodo de viajar em navio à vela. Depois de uma das muitas tempestades por que passou o "Dum­fries", o nosso herói escreveu: "A maior parte do que pos­suo está molhado. O camarote do comissário, coitado, inundou-se..." Somente pelas orações e grandes esforços de todos a bordo é que conseguiram salvar as próprias vi­das quando o navio, levado por grande temporal, estava prestes a naufragar nas pedras da praia de Gales. A viagem que esperavam realizar em quarenta dias levou cinco me­ses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a idade de vinte e um anos, conseguiu desembar­car em Shanghai, quando então ele escreveu estas impres­sões:

"Não posso descrever o que senti ao pisar em terra. Pa­recia-me que o coração ia estourar; as lágrimas de gratidão e gozo corriam-me pelas faces."Sobreveio-lhe, então, uma grande onda de saudade; não havia amigos, nem conhecidos, nem qualquer pessoa em todo o país para saudá-lo bem-vindo nem mesmo al­guém que conhecesse o seu nome.

Nesse tempo a China era terra incógnita, a não ser os cinco portos no litoral, abertos à residência de estrangei­ros. Foi na casa de um missionário em Shanghai, um dos cinco portos, que o moço achou hospedagem.

A vitória em todas as variadas provações nesse tempo era devida à característica mais saliente de Hudson Tay­lor, talvez a de nunca ficar parado na sua obra, fosse qual fosse o contratempo.

Durante os primeiros três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de 2 mil li­vros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de tre­zentos quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra via­gem visitou cinqüenta e uma cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi sem­pre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha visto estrangeiros.

Para ganhar mais almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.

Mas uma das cruzes mais pesadas que o nosso herói teve de levar foi a falta de dinheiro, quando a missão que o enviara se achava sem recursos.

Em 20 de janeiro de 1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram pri­meiro, na cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da China.

As privações e os encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson Taylor, an­tes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de morte quando os médicos informa­ram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.

Entretanto, o fato de perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à In­glaterra, iniciou imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento para os novos con­vertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante, que a não deixasse com o Senhor em oração.

Em razão de suas atividades, estava tão sobrecarrega­do de correspondência e nos trabalhos dos cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.

Passava, às vezes, a manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.

"Havia a bordo, entre os companheiros de viagem, cer­to chinês que se chamava Pedro. Passara alguns anos na Inglaterra, mas, apesar de conhecer algo do Evangelho, não reconhecia coisa alguma do seu poder para salvar. Senti-me ligado a ele e esforcei-me em orar e falar para levá-lo a Cristo. Mas quando o navio se aproximava de Sung-Kiang e eu me preparava para ir a terra, pregar e distribuir trata­dos, ouvi o grito de um homem que caíra na água. Fui ao convés com os outros - Pedro tinha desaparecido.

"Imediatamente arriamos as velas, mas a correnteza da maré era tal que não tínhamos a certeza do lugar onde o homem caíra. Vi alguns pescadores próximos, que usavam uma rede varredoura. Angustiado clamei:

- Venham passar a rede aqui, pois um homem está morrendo afogado!- Veh bin, foi a resposta inesperada, isto é, "Não é con­veniente".

- Não falem se é ou não é conveniente. Venham depres­sa antes que o homem pereça.

- Estamos pescando.

- Eu sei! Mas venham imediatamente e pagarei bem.

- Quanto nos quer dar?

- Cinco dólares, mas não fiquem conversando. Salvem o homem sem demora!

- Cinco dólares não basta - responderam eles. Não o fa­remos por menos de trinta dólares.

- Mas não tenho tanto! - darei tudo que eu tenho.

- Quanto tem o senhor?

- Não sei - porém não é mais do que catorze dólares. "Então os pescadores vieram, passaram a rede no lugar indicado. Logo à primeira vez apanharam o corpo do ho­mem. Mas todos os meus esforços para restaurar-lhe a res­piração foram inúteis. Uma vida fora sacrificada pela indi­ferença dos que podiam salvá-la quase sem esforço."

Ao ouvirem contar esta história, uma onda de indigna­ção passou por todo o grande auditório. Haveria em todo o mundo um povo tão endurecido e interesseiro como esse! Mas ao continuar o seu discurso, a convicção feriu ainda mais o coração dos ouvintes.

- "O corpo então tem mais valor que a alma? Censura­mos esses pescadores, dizendo que foram culpados da mor­te de Pedro, porque era coisa fácil salvá-lo. - Mas que acontece com os milhões que estamos deixando perecer para toda a eternidade? Que diremos acerca da ordem implícita: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura? Deus nos diz também: 'Livra os que estão des­tinados à morte, e os que são levados para a matança, se os puderes retirar. Se disseres: eis que não o sabemos; por­ventura aquele que pondera os corações não o considerará? e aquele que atenta a tua alma não o saberá? não pagará ele ao homem conforme a sua obra?'

- "Credes que cada pessoa entre esses milhões da Chi­na, tem uma alma imortal e que não há outro nome debai­xo do céu, dado entre os homens a não ser o precioso nome de Jesus, pelo qual devamos ser salvos? - Credes que Ele,Ele só, é o Caminho, a Verdade e a Vida e que ninguém vai ao Pai senão por Ele? Se assim o credes, examinai-vos a vós mesmos para ver se estais fazendo todo o possível para levar seu nome a todos.

"Ninguém deve dizer que não é chamado para ir à Chi­na. Ao enfrentar tais fatos, todas as pessoas precisam sa­ber se têm uma chamada para ficarem em casa. Amigo, se não tens certeza de uma chamada para continuar onde es­tás, como podes desobedecer à clara ordem do Salvador, para ir? - Se estás certo, contudo, de estares no lugar onde Cristo quer, não por causa do conforto ou dos cuidados da vida, então estás tu orando como convém a favor dos mi­lhões de perdidos da China? Estás tu usando teus recursos para a salvação deles?"

Certo dia, não muito depois de haver regressado à In­glaterra, Hudson Taylor, ao completar a estatística, veio a saber que o número de missionários evangélicos na China diminuira em vez de aumentar. Apesar de a metade da po­pulação pagã estar na China, o número de missionários durante o ano tinha diminuído de cento e quinze para so­mente noventa e um. Começaram a soar aos ouvidos do missionário estas palavras: "Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; não avisando tu, não falando para avisar o ímpio acerca do seu caminho ímpio, para salvar a sua vida. aquele ímpio morrerá na sua maldade, mas o seu sangue da tua mão o requererei".

Era um domingo, 25 de junho de 1865, de manhã, à bei­ra-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava com al­guns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da multidão na casa de Deus, retirou-se para an­dar sozinho nas areias da maré vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes assumir todo o encargo. Com tua chama­da, e como teu servo, avançarei, deixando tudo nas tuas mãos."

Assim "a Missão do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão profunda e indizível com Deus, originou-se a missão."Com o lápis na mão, abriu a Bíblia e, enquanto as on­das do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".

Mais tarde, recordando-se da vitória dessa ocasião es­creveu:

"Grande foi o alívio de espírito que senti ao regressar da praia. Depois de findar o conflito, tudo era gozo e paz. Parecia que me faltava muito pouco para voar até a casa do senhor Pearse. Na noite desse dia dormi profundamen­te. A querida esposa achou que a visita a Brighton serviu para renovar-me maravilhosamente. Era verdade!"

O vitorioso missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus, embarcaram em Lon­dres, no "Lammermuir", para a China em 26 de setembro de 1865. O anelante alvo de todos era o de erguer a bandei­ra de Cristo nas onze províncias ainda não ocupadas da China. Alguns dos amigos os animaram, mas outros disse­ram: "Todo o mundo ficará esquecido dos irmãos. Sem uma junta aqui na Inglaterra ninguém se importará com a obra por muito tempo. Promessas são fáceis de fazer hoje em dia; dentro de pouco tempo não terão o pão cotidiano".

A viagem levou mais que quatro meses. Acerca de uma das tempestades, um dos missionários escreveu:

"Durante todo o temporal, o senhor Taylor se compor­tou com a maior calma. Por fim os marinheiros recusaram-se a trabalhar. O comandante aconselhou todos a bordo a amarrarem os cintos de salvação, dizendo que o navio não resistiria à força das ondas mais que duas horas. Nessa al­tura, o comandante avançou na direção dos marinheiros com o revólver na mão. O senhor Taylor então aproximou-se dele e pediu-lhe que não obrigasse dessa forma os mari­nheiros a trabalhar. O missionário dirigiu-se também aos homens e explicou-lhes que Deus ia salvá-los, mas que eram necessários os maiores esforços de todas as pessoas a bordo. Acrescentou que tanto ele como todos os passagei­ros estavam prontos a ajudá-los, e que, como era evidente, as vidas deles também corriam perigo. Os homens conven­cidos por esses argumentos começaram a tirar os destroços,ajudados por todos nós; em pouco tempo conseguimos amarrar os grandes mastros, que batiam com tanta força que estavam demolindo um lado do navio".

Foram horas de grande regozijo quando o "Lammer­muir", por fim, aportou, com todos sãos a bordo, em Shanghai. Outro navio que chegou logo após, perdera de­zesseis das vinte e duas pessoas a bordo!

Os missionários iniciaram o ano de 1867 com um dia de jejum e oração, pedindo, como Jabez, que Deus os aben­çoasse e estendesse os seus termos. O Senhor os ouviu dan­do-lhes entrada, durante o ano, em outras tantas cidades! Encerraram o ano com outro dia de jejum e oração. Um culto durou das onze da manhã às três da tarde, sem nin­guém se sentir enfadado. Outro culto se realizou às 8,30 da noite quando sentiram ainda mais a unção do Espírito Santo. Continuaram juntos em oração até a meia-noite, quando celebraram a Ceia do Senhor.

No início de 1867, o Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando ela comple­tava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se ex­pressou o pai e marido:

"Ao amanhecer o dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:

- Sabes, querida, que estás morrendo?

- Morrendo! Achas que sim? Por que pensas tal coisa?

- Posso ver, que sim, querida. As tuas forças estão se acabando.

- Será mesmo? Não sinto qualquer dor, apenas cansa­ço.

- Sim, estás saindo para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.

"Minha preciosa esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!

Então ela parou, como que querendo corrigir o que dis­sera, porém eu lhe perguntei:

- Estás triste por causa da partida para estar com Je­sus?

"Nunca me esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:

- Oh! não. Bem sabes, querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu Sal­vador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará contigo e suprirá tudo o que é mister."

"Nunca presenciei uma cena tão comovente" - escre­veu o senhor Duncan. - "Com a última respiração da que­rida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu de joelhos, o co­ração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecen­do-lhe a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela bênção de Ele mesmo a le­var para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.

Não é de supor que Satanás deixasse a Missão do Inte­rior da China invadir seu território com vinte e quatro ou­tros obreiros, sem incitar o povo a maior perseguição. Fo­ram distribuídos em muitos lugares, impressos atribuindo aos estrangeiros os mais horripilantes e bárbaros crimes, especialmente aos que propagavam a religião de Jesus. Al­voroçaram-se cidades inteiras e muitos dos missionários ti­veram de abandonar tudo e fugir para escapar com vida.

Quase seis anos depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson Taylor estava no­vamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com mais de trinta missioná­rios e cinqüenta obreiros, estando separadas as estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.

Foi durante essa visita à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e provada mis­sionária na China.

Acerca de Hudson Taylor, nesse tempo, certa pessoa amiga, escreveu:

"O senhor Taylor anunciou um hino, sentou-se ao har­mônio e tocou. Não fui atraído por sua personalidade. Era de físico franzino e falou com voz mansa. Como os demais jovens, eu julgava que uma grande voz sempre acompa­nhava um verdadeiro prestígio. Mas quando ele disse: 'O­remos e nos dirigiu em oração, mudei de parecer; eu nunca ouvira alguém orar como ele. Havia na sua oração uma ousadia, um poder que fez todas as pessoas presentes se humilharem e sentirem-se na presença de Deus. Falava face a face com Deus como um homem com um amigo. Sem dúvida, tal oração era o fruto de longa permanência com o Senhor; era como o orvalho descendo dos céus. Te­nho ouvido muitos homens orarem, mas não ouvi ninguém como o senhor Taylor e o senhor Spurgeon. Ninguém, de­pois de ouvir como esses homens oravam, pode esquecer-se de tais orações. Foi a maior experiência da minha vida ou­vir o senhor Spurgeon, quando tomou, como se fosse a mão do auditório de seis mil pessoas e as levou ao Santo dos Santos. E ouvir o senhor Taylor rogar pela China era reco­nhecer algo do que significa a súplica fervorosa do justo. "

Foi em 1874 quando, com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove províncias que se es­tendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:

"A minha alma anseia, e o coração arde pela evangeli­zação de centenas de milhões de habitantes dessas provín­cias sem obreiros. Oh! se eu tivesse cem vidas a dar ou gas­tar por eles!"

Mas, no meio da viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia como secretária da Missão.

Grande foi a tristeza de Hudson Taylor ao chegar à In­glaterra e achar não somente os seus queridos filhos sepa­rados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisa­da. Mas isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua via­gem pelo rio Yangtze, o senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agra­vou-se até ele ficar acamado. Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior necessi­dade de seus esforços. Completamente paralítico das per­nas, tinha de passar todo o tempo deitado de costas!

Uma pequena cama era a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na parede, es­tava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite, estava a presença divina.

Aí, de costas, mês após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito mis­sionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escri­tos com a maior dificuldade e publicados no jornal, sessen­ta moços responderam de uma vez. Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as pri­meiras lições da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.

Lê-se o seguinte acerca de como o missionário inutiliza­do em corpo, nesse tempo, ficou bom:

"Ele foi tão maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali, apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu com eles ape­nas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e ou­tros lugares valiam mais do que ouro."

Certo missionário assim escreveu acerca de uma visita que lhe fez na China:

"Nunca me esquecerei do gozo e da amável maneira com que me saudou. Conduziu-me logo para o 'escritório' da Missão do Interior da China. Devo dizer que foi para mim uma surpresa, ou choque, ou ambas as coisas. Os 'móveis' eram caixotes. Uma mesa estava coberta de inú­meros papéis e cartas. Ao lado do lume havia uma cama, bem arrumada, tendo um pedaço de tapete a servir de cobertor. Nessa cama o senhor Taylor descansava de dia e de noite.

"O senhor Taylor, sem qualquer palavra de desculpa, deitou-se na cama e travamos a palestra mais preciosa da minha vida. Toda a idéia que eu tinha das qualificações para ser um 'grande homem' foi completamente mudada; não havia nele coisa alguma do espírito de superioridade. Vi nele o ideal de Cristo, da verdadeira grandeza, tão evi­dente que permanece ainda no meu coração, através dos anos, até o presente momento. Hudson Taylor reconhecia profundamente que, para evangelizar os milhões da China, era imperioso que os crentes na Inglaterra mostrassem muito mais de abnegação e sacrifício. - Mas como podia ele insistir em sacrifício sem primeiramente praticá-lo na sua própria vida? Assim ele, deliberadamente, cortou da sua vida toda a aparência de conforto e luxo.

"Nas viagens pelo interior da China, ele, invariavel­mente, se levantava para passar uma hora com Deus antes de clarear o dia, às vezes, para depois dormir novamente. Quando eu despertava para alimentar os animais, sempre o achava lendo a Bíblia à luz de vela. Fosse qual fosse o ambiente ou o barulho nas hospedarias imundas, não des­cuidava o hábito de ler a Bíblia. Geralmente em tais via­gens, orava de bruços, porque lhe faltavam as forças para permanecer tanto tempo de joelhos.

- Qual será o assunto do seu discurso, hoje? - pergun­tou-lhe certo crente que viajava com ele, de trem.

- Não tenho certeza; ainda não tive tempo de resolver, respondeu-lhe Hudson Taylor.

- Não teve tempo! - exclamou o homem. - Ora, que faz o senhor a não ser descansar depois de assentar-se aí?

- Não conheço o que seja descansar. - foi a resposta cal­ma que ele deu.

"Depois de embarcarmos em Edinburgo, passei todo o tempo orando e levando todos os nomes dos membros da Missão do Interior da China, e os problemas de cada um, ao Senhor."

Está além da nossa compreensão como no meio de uma das maiores obras de evangelização de toda a história, ele podia dizer:"Nunca fomos obrigados a abandonar uma porta aber­ta, por falta de recursos. Apesar de muitas vezes gastarmos até o último pêni, a nenhum dos obreiros nacionais nem a nenhum dos missionários, faltou o prometido 'pão' coti­diano. Os tempos de provações são sempre tempos aben­çoados e o que é necessário nunca chega demasiado tarde."

Outro segredo do seu grande êxito de levar a mensagem de salvação ao interior da China era a determinação de que a obra não somente continuasse com caráter internacional, mas também, interdenominacional - que aceitasse missio­nários dedicados a Deus, de qualquer nação e de qualquer denominação.

Em 1878, ao regressar de uma viagem, começou a orar pedindo que Deus enviasse mais trinta missionários antes de findar o ano de 1879. Diremos, ao lembrarmo-nos do di­nheiro necessário para pagar as passagens e sustentar tan­tas pessoas, que a sua fé era grande. Pois bem, vinte e oito pessoas, com os corações acesos pelo desejo de salvação dos perdidos na China, confiando em Deus para o seu sustento cotidiano, embarcaram antes de findar o ano de 1878 e mais seis em 1879.

Conversando com um companheiro de lutas, na cidade de Wuchang, Hudson Taylor começou a enumerar os pon­tos estratégicos em que deviam começar logo a evangelizar os dois milhões de habitantes do vale do grande rio Yangt-ze e o do seu tributário, o rio Hã. Com menos de cinqüenta ou sessenta novos obreiros, a Missão não podia dar tal pas­so - e a própria Missão não tinha mais de um total de cem! Contudo, a Hudson Taylor foi dada a fé de pedir outros se­tenta - lembrado das palavras: "Designou o Senhor ainda outros setenta".

"Reunimo-nos hoje para passar o dia em jejum e ora­ção" - escreveu Hudson Taylor em 30 de junho de 1872. - "O Senhor nos abençoou grandemente... Alguns passaram a maior parte da noite em oração... O Espírito Santo nos encheu até nos parecer ser impossível receber mais sem
morrer."

Em certo culto, durante quase duas horas, louvaram ininterruptamente a Deus pelos setenta obreiros já recebidos - pela fé. E, em realidade, foram recebidos mais do que setenta, e dentro do prazo marcado.

O Senhor conduziu a Missão, pouco a pouco para uma visão ainda mais larga - levou os obreiros a pedirem ao Se­nhor outros cem, em 1887. Assim, disse o senhor Stephen­son: "Se me mostrassem uma foto de todos os cem, batida aqui na China, não seria mais real do que realmente é."

Contudo, Hudson Taylor não iniciou precipitadamente o programa de orar e se esforçar para receber mais cem missionários. Como sempre, devia ter certeza da direção de Deus antes de resolver orar e se esforçar para alcançar o alvo.

Seis vezes mais do que o número que pediram, se ofere­ceram para ir! Mas, a Missão rejeitou fielmente a todos que não concordaram com os princípios declarados desde o início. Assim, exatamente o número pedido embarcou para a China. - Não foram cento e um, nem noventa e no­ve, mas exatamente cem.

Depois da visita de Hudson Taylor ao Canadá, aos E.U.A. e à Suécia em 1888 e 1889, a Missão do Interior da China gozou de um dos maiores impulsos para avançar em todos os anais da história de missões. Assim escreveu de­pois, o nosso missionário, acerca do que lhe pesava grande­mente no coração durante toda a sua visita à Suécia:

"Confesso-me envergonhado de que, até essa ocasião, nunca tinha meditado sobre o que o Mestre realmente que­ria dizer ao mandar pregar o Evangelho 'a toda a criatura'. Esforcei-me durante muitos anos, como muitos outros ser­vos de Deus, para levar o Evangelho aos lugares mais dis­tantes; planejei alcançar todas as províncias e muitos dos distritos menores da China, sem compreender o sentido evidente das palavras do Salvador.

"'a toda a criatura'? O número total de comunicantes entre os crentes da China não excedia quarenta mil. Se houvesse outro tanto de aderentes, ou mesmo três vezes mais, e se cada um levasse a mensagem a oito de seus patrícios - mesmo assim, não alcançariam mais de um mi­lhão. 'a toda a criatura'! as palavras abrasavam-lhe o ínti­mo da alma. Mas como a Igreja, e eu mesmo, falhávamos em aceitá-las justamente como Cristo queria! Isso eu percebi então; para mim havia apenas uma saída, a de obede­cer.

"Qual será a nossa atitude para com o Senhor Jesus Cristo quanto a essa ordem? Suprimiremos o título Pe­nhor', que lhe foi dado, para reconhecê-lo apenas como nosso Salvador? Aceitaremos o fato de Ele tirar a penalida­de do pecado, e recusaremos a confessarmo-nos comprados por bom preço, e que Ele tem o direito de esperar a nossa obediência implícita? Diremos que somos os nossos pró­prios senhores, prontos a conceder-lhe apenas o que lhe é devido, a Ele que comprou-nos com seu próprio sangue, com a condição de Ele não pedir demasiado? As nossas vi­das, os nossos queridos, as nossas possessões são somente nossas, não são dele? Daremos o que acharmos convenien­te e obedeceremos à sua vontade somente se Ele não nos pedir demasiado sacrifício? Estamos prontos a deixar Je­sus Cristo nos levar aos céus, mas não queremos que esse homem 'reine sobre nós'?

"O coração de todos os filhos de Deus rejeitará, certa­mente uma afirmação assim formulada. Mas não é verda­de que inumeráveis crentes, em todas as gerações, se com­portaram tal como se isso fosse a base própria para suas vi­das? São poucas as pessoas entre o povo de Deus que reco­nhecem a verdade de que, ou Cristo é o Senhor de tudo, ou então não é Senhor de coisa alguma! Se somos nós que jul­gamos a Palavra de Deus, e não a Palavra que nos julga; se concedemos a Deus somente o quanto quisermos então so­mos nós os senhores e Ele o nosso devedor e, conseqüente­mente, Ele deve ser grato pela esmola que lhe concedemos; deve sentir-se obrigado por nossa concordância aos seus desejos. Se, ao contrário, Ele é Senhor então tratemo-lo como Senhor: 'E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?'"

Foi assim que Hudson Taylor, sem esperar, alcançou a mais larga visão da sua vida, a visão que dominou a última década de seu serviço. Com os cabelos já grisalhos, após cinqüenta e sete anos de experiência, enfrentou o novo sen­tido de responsabilidade com a mesma fé e confiança que o caracterizavam quando era mais novo. Sua alma ardia ao meditar nos alvos antigos! Ficou ainda mais firme ao exe­cutar a visão de outrora!

Foi assim que sentiu a direção de unificar todos os gru­pos evangélicos, que trabalhavam na evangelização da China, para orarem e se esforçarem para aumentar o nú­mero de missionários, enviando-se à China outros mil, dentro de cinco anos. O número exato enviado à China du­rante esse prazo, foi de mil cento e cinqüenta e três!

Não é, pois, de admitir que as forças físicas de Hudson Taylor começassem a faltar, não tanto pelas privações e cansaço das viagens contínuas, nem pelos esforços incan­sáveis em escrever e pregar, nem pelo peso das grandes e inumeráveis responsabilidades de dirigir a Missão do Inte­rior da China. Os que o conheciam intimamente sabiam que era um homem gasto de tanto amar.

A gloriosa colheita de almas na China aumentava cada vez mais. Mas a situação política do país piorava dia após dia até culminar na Carnificina dos Boxers, no ano de 1900, quando centenas de crentes foram mortos. Somente da China Inland Mission pereceram cinqüenta e oito mis­sionários, e vinte e um de seus filhos.

Hudson Taylor, com a sua esposa, estavam novamente na Inglaterra, quando começaram a chegar telegrama após telegrama avisando-os dos horripilantes acontecimentos na China; aquele coração que tanto amava a cada missio­nário, quase cessou de pulsar. Acerca desse acontecimento assim se manifestou: "Não sei ler, não sei pensar, nem mesmo sei orar, mas sei confiar."

Certo dia, alguns meses depois, Hudson Taylor, com o coração transbordante e as lágrimas correndo-lhe pelas fa­ces, estava contando o que lera em uma carta que acabara de receber de duas missionárias, escrita um dia antes de elas morrerem nas mãos dos boxers. Eis o que ele disse:

"Oh! o gozo de sair de tal motim de pessoas enfurecidas para estar na sua presença, para ver o seu sorriso!" Quan­do pôde continuar, acrescentou: "Elas agora não estão ar­rependidas. Têm a imperecível coroa! Andam com Cristo em vestes brancas, porque são dignas".

Falando acerca de seu grande desejo de ir a Shanghai, para estar ao lado dos refugiados, ele disse: "Não sei se poderia ajudá-los, mas sei que me amam. Se pudessem che­gar-se a mim nas tristezas para chorarmos juntos, ao me­nos poderiam ter um pouco de conforto." Mas ao lembrar-se de que tal viagem lhe era impossível por causa da saúde, a sua tristeza parecia maior do que podia suportar.

Apesar de sentir profundamente a sua incapacidade para trabalhar como de costume, achou grande conforto em estar com a sua esposa, a qual tanto amava. Findara o tempo em que deviam passar longos meses e anos separa­dos um do outro, nas lutas em tantos lugares.

Foi em 30 de julho de 1904 que sua esposa faleceu. "Não sinto nada de dor, nada de dor", dizia ela, apesar da ânsia em respirar. Então, de madrugada, percebendo a an­gústia de espírito do seu marido, pediu-lhe que orasse ro­gando ao Senhor que a levasse logo. Foi a oração mais difí­cil da vida de Hudson Taylor, mas por amor dela, ele orou pedindo a Deus que libertasse o espírito da sua esposa. Logo que orou, dentro de cinco minutos cessou a ânsia e não muito depois ela adormeceu em Cristo.

A desolação de espírito de Hudson Taylor sentiu depois da partida da sua fiel companheira era indescritível. Toda­via, achou indizível paz nesta promessa: "A minha graça te basta." Começou a recuperar as forças físicas e na pri­mavera fez a sua sétima viagem aos E.U.A. Daí fez a últi­ma viagem à China, desembarcando em Shanghai em 17 de abril de 1905.

O valente líder da Missão, depois de tão prolongada au­sência, foi recebido em todos os lugares com grandes mani­festações de amor e estima da parte dos missionários e crentes, especialmente dos que escaparam dos intraduzí­veis espetáculos da insurreição dos Boxers.

Em Chin-Kiang, o veterano missionário visitou o cemi­tério onde estão gravados os nomes de quatro filhos e o da esposa. As recordações eram motivo de grande gozo, isto é, o dia da grande reunião se aproximava.
No meio da viagem, quando visitava as igrejas na Chi­na, sem ninguém esperar, nem ele mesmo, findou a sua carreira na terra. Isso aconteceu na cidade de Chang-sha em 3 de junho de 1905. Sua nora contou o seguinte, sobre esse acontecimento:"O querido papai estava deitado. Como sempre gosta­va de fazer, tirou as cartas, dos queridos, da sua carteira e as estendeu sobre a cama. Baixou-se para ler uma das car­tas perto do candeeiro aceso colocado na cadeira ao lado do leito. Para que ele não se sentisse demasiadamente inco­modado, puxei outro travesseiro e o coloquei por baixo da sua cabeça e assentei-me numa cadeira ao seu lado. Men­cionei as fotografias da revista, Missionary Review, que es­tava aberta sobre a cama. Howard tinha saído para ir bus­car algo para comer, quando papai, de repente, virou a ca­beça e abriu a boca como se quisesse espirrar. Abriu a boca a segunda, e a terceira vez. Não clamou; não pronunciou qualquer palavra. Não mostrou qualquer dificuldade para respirar - nada de ânsia. Não olhou para mim, e não pare­cia cônscio... Não era a morte, era a entrada na vida imor­tal. Seu semblante era de descanso e sossego. Os vincos do rosto feitos pelo peso da luta de longos anos pareciam ha­ver desaparecido em poucos momentos. Parecia dormir como criança no colo da mãe; o próprio quarto parecia cheio de indizível paz."
Na cidade de Chin-Kiang, à beira do grande rio que tem a largura de mais de dois quilômetros, foi enterrado o corpo de Hudson Taylor.
Muitas foram as cartas de condolências recebidas de fiéis filhos de Deus no mundo inteiro. Emocionante foram os cultos celebrados em vários países, em sua memória. Impressionantes foram os artigos e livros impressos acerca das suas vitórias na obra de Deus. Mas as vozes mais des­tacadas, as que Hudson Taylor apreciaria mais, se pudesse ouvi-las, eram as das muitas crianças chineses, que, can­tando louvores a Deus, deitaram flores sobre o seu túmulo.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Você sabe o que é “Janela 10/40 ?

Você sabe o que é “Janela 10/40? -  No centro do nosso mundo vive um grande numero de povos não alcançados, compreendidos numa porção retangular, identificada como “Janela 10-40”.
Aproximadamente 95% das pessoas menos alcançadas pelo evangelho são habitantes da Janela 10-40; e entre os 52 países menos evangelizados do mundo 31 estão nela, são 62 países na janela com 3,8 bilhões de pessoas, das quais 1,8 bilhões nunca ouviram de Cristo, Cristianismo ou Evangelho.
O mundo tem 6,5 bilhões de habitantes em 252 países e 60% da população mundial vive na Janela 10-40; os países da janela são também em sua maioria os de maior intolerância aos cristãos e ao evangelho; Numa lista das 50 maiores cidades do mundo, todas estão na Janela; 81% dos mais pobres do mundo também estão na Janela 10-40, são eles 26% da população mundial, e em sua maioria os habitantes dela são adeptos do Islamismo, Hinduismo e Budismo.
O termo “Janela 10-40” originou-se com Luis Bush durante a 2ª conferencia de Lausanne, em Manilla, em julho de 1989.
Esta região do mundo, antes conhecida como “Cinturão de Resistência”, estende-se desde o oeste da África até o leste da Ásia, sendo 10 graus de longitude e 40 de latitude acima da linha do Equador.
I. Algumas razões para focalizarmos a “Janela 10-40”:
1. O Significado Bíblico e histórico desta área; Este é o lugar onde Deus colocou Adão e Eva como moradores.
2. A predominância da pobreza.
Mais de 95% dos pobres menos evangelizados do mundo vivem na “Janela 10-40”.
3. O Maior grupo de mega povos etnolinguísticos (Mais de Um milhão vivem na janela). De fato mais de 90% dos indivíduos desses grupos populacionais vivem na “Janela 10-40”.
4. As fortalezas de Satanás estão concentradas na “Janela 10-40”. Bilhões de pessoas que vivem na janela não só sofrem com enfermidades, pobreza, calamidades mais também tem sido impossibilitada de conhecer o poder do Evangelho Transformador.
Vamos profetizar que todos estes pontos negativos já caíram por terra
Nem todos os crentes sabem que no mundo ainda há povos completamente ignorantes da existência de Jesus Cristo e seu plano redentor. Poucos se importam em saber que hoje no oriente há cristãos presos e sendo torturados por causa de sua fé. Quantos têm um programa intensivo de oração pelos povos não alcançados pelo evangelho? Saber que há povos cometendo suicídios e guerras, por falta de esperança ou fanatismo, não é um assunto que interessa a todos os cristãos.
Os cristãos no mundo estão direcionando apenas 1,2% do seu fundo missionário e de seus missionários estrangeiros para bilhões de pessoas que vivem no mundo evangelizado. No mundo ainda há dezenas de país com suas portas total ou parcialmente fechadas à entrada de missionários. Há 28 países muçulmanos (sem incluir seis da antiga união soviética), 7 nações budistas, 3 Marxistas e 2 países hindus, formando o maior aglomerado de povos não alcançados.
II. Porque evangelizar os povos da Janela 10/40
- Porque ali vive o maior número de povos não alcançados pelo evangelho. Cobre 1/3 total do planeta e representa 2/3 da população do mundo. São cerca de 3,2 bilhões de -pessoas em 61 países.
- Porque ali está a maioria dos seguidores das 3 maiores religiões do mundo: Islamismo, Budismo e Hinduismo.
- Porque dos 50 países menos evangelizados do mundo 37 estão nessa área.
- Porque as maiores Capitais do mundo estão nessa região.
De acordo com os missiólogos, há diversidades no número de povos não alcançados pelo evangelho hoje. Para Ralph Winter, há 17 mil povos não alcançados e 12 mil línguas. David Barrete declara que são 11 mil o número total de povos não alcançados. Bob Waymire também arrola 11 mil povos diferentes no mundo. Patrick Johnstone avalia em 12.017 o total de povos não alcançados em todo o mundo. Subtraindo desse número os povos entre os quais há cristãos, missionários de fora e autóctones, restam apenas 1.200 povos a serem alcançados. Em sua perspectiva, 99% da população do mundo serão cobertos, inteiramente, com a mensagem do evangelho se ela for transmitida, nomáximo, entre 400 e 500 línguas diferentes.
Então concluímos que missões, ainda não é um assunto sério para muitas igrejas. Enquanto templos são enfeitados e grande parte do tempo é utilizada para inúmeros programas, missões é ocasional, ainda não é assunto íntimo.
III. O Mundo dos povos não alcançados
Segundo alguns estudiosos, temos aqui algumas estatísticas: - Cada hora 10700 crianças nascem e morrem sem escutar as Boas Novas em países da Janela 10/40;
- Cada hora de esforço missionário resulta em 9.800 pessoas escutando o evangelho pela primeira vez;
- O resultado é a redução no mundo não evangelizado de 500 pessoas a cada hora, ou pouco mais que 4 milhões de pessoas por ano.
- 9 em cada 10 países mais pobres do mundo estão na África e 8 destes são parte do mundo menos evangelizado.
IV. Os Países da Janela:
01 - KUWAIT
Localização: Golfo Pérsico 5% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Xiitas Evangelismo Restrito
02 - IRÃ
Localização: Golfo Pérsico 0,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Xiitas e alguns Sunitas Evangelismo Proibido
03 - EGITO
Localização: Oriente Médio 0,8% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Restrito
04 - ISRAEL
Localização: Oriente Médio0,35% de Cristãos evangélicos Predominante: Judeus e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
05 - BRUNEI Localização: Sudoeste da Ásia 0,6% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Budistas Evangelismo Restrito
06 - LÍBIA
Localização: Norte da África 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
07 - SOMÁLIA
Localização: Leste da África 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
08 - BANGLADESH
Localização: Ásia Central 2% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Hindus Evangelismo Restrito
09 - BURKINA-FASO
Localização: Oeste da África 3% de Cristãos evangélicos Predominante: Animistas e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
10 - UZBEQUISTÃO
Localização: Leste da Ásia 0,001% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Ortodoxos Russos Evangelismo Restrito
11 - TADJIQUISTÃO
Localização: Leste Asiático 0,001% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Ortodoxos Russos Evangelismo Restrito
12 - LÍBANO
Localização: Oriente Médio 4,3% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Xiitas e alguns Sunitas Evangelismo Permitido
13 - MALÁSIA
Localização: Sul da Ásia 2% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos, alguns Budistas e Hindus Evangelismo Restrito
14 - PAQUISTÃO
Localização: Oeste da Ásia 0,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Xiitas Evangelismo Restrito
15 - ÍNDIA
Localização: Ásia Central 1% de Cristãos evangélicos Predominante: Hindus e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
16 - BUTÃO
Localização: Ásia Central 0,3% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
17 - MALI
Localização: Oeste da África 0,9% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e algumas Crenças Tradicionais Evangelismo Permitido
18 - NEPAL
Localização: Ásia Central 0,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Hindus e alguns Budistas Evangelismo Restrito
19 - CHINA
Localização: Leste da Ásia 4% de Cristãos evangélicos Predominante: Não religiosos(Ateus) e Folclóricos Chineses Evangelismo Restrito
20 - QATAR
Localização: Golfo Pérsico 0,007% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
21 - OMÃ
Localização: Golfo Pérsico 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Evangelismo Proibido
22 - NIGÉRIA
Localização: Oeste da África 17% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Animistas Evangelismo Restrito
23 - MAURITÂNIA
Localização: África do Norte 0,0% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
24 - ARÁBIA SAUDITA
Localização: Golfo Pérsico 0,007% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
25 - AZERBAIJÃO
Localização: Leste da Ásia 0,003% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Restrito
26 - EMIRADOS ÁRABES UNIDOS
Localização: Golfo Pérsico 0,7% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Xiitas Evangelismo Proibido
27 - DJIBUTI
Localização: Leste da África 0,03% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
28 - TURQUEMENISTÃO
Localização: Leste da Ásia 0,001% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Ortodoxos Russos Evangelismo Restrito
29 - KAZAQUISTÃO
Localização: Leste da Ásia 0,004% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Ortodoxos Russos Evangelismo Restrito
30 - MALDIVAS
Localização: Centro Sul Asiático 0,0% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
31 - SUDÃO
Localização: Leste da Ásia 3% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Animistas Evangelismo Restrito
32 - GUINÉ
Localização: Oeste da África 0,75% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Animistas Evangelismo Restrito
33 - BENIN Localização: Oeste da África 2% de Cristãos evangélicos Predominante: Crenças Tradicionais e alguns Muçulmanos Evangelismo Permitido
34 - ALBÂNIA
Localização: Sul da Europa 5% de Cristãos evangélicos Predominante: Ortodoxos e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
35 - IEMEM
Localização: Oriente Médio 0,01% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
36 - ETIÓPIA
Localização: Leste da África 10% de Cristãos evangélicos Predominante: Ortodoxos, Sunitas e Crenças Tradicionais Evangelismo Permitido
37 - TUNÍSIA
Localização: Norte da África 0,001% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
38 - JORDÂNIA
Localização: Oriente Médio 0,4% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Restrito
39 - AFEGANISTÃO Localização: Leste da Ásia 0,2% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Xiitas Evangelismo Restrito
40 - TAILÂNDIA
Localização: Sudoeste da Ásia 0,3% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas Evangelismo Restrito
41 - INDONÉSIA
Localização: Norte da Ásia 0,01% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Hindus Evangelismo Restrito
42 - MARROCOS
Localização: Norte da África 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
43 - VIETNÃ
Localização: Sudoeste da Ásia 0,6% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas e Crenças Tradicionais Evangelismo Restrito
44 - MYANMAR
Localização: Sudoeste da Ásia 4% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas e alguns Muçulmanos Evangelismo Permitido
45 - CAMBOJA
Localização: Sul da Ásia 0,05% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas Evangelismo Restrito
46 - SENEGAL
Localização: Oeste da África 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Restrito
47 - JAPÃO
Localização: Leste da Ásia 0,3% de Cristãos evangélicos Predominante: Shinto / Budistas Evangelismo Permitido
48 - NIGÉR
Localização: Oeste da África 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Animistas Evangelismo Restrito
49 - LAOS
Localização: Sudoeste da Ásia 1,9% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas Evangelismo Restrito
50 - IRAQUE
Localização: Golfo Pérsico 0,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Xiitas e alguns Sunitas Evangelismo Restrito
51 - TAIWAN
Localização: Leste da Ásia 3% de Cristãos evangélicos Predominante: Folclórica Chinesa e alguns Sunitas Evangelismo Permitido
52 - TIBET
Localização: Oeste da China 0,02% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas Evangelismo Restrito
53 - TURQUIA
Localização: Oeste da Ásia 0,03% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Restrito
54 - SÍRIA
Localização: Oriente Médio 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas e alguns Xiitas Evangelismo Proibido
55 - GUINÉ-BISSAU
Localização: Oeste da África 1,2% de Cristãos evangélicos Predominante: Animistas e alguns Muçulmanos Evangelismo Restrito
56 - QUIRQUISTÃO
Localização: Leste da Ásia 0,003% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Ortodoxos Russos Evangelismo Restrito
57 - SAARA OCIDENTAL
Localização: Norte da África 0,0% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Evangelismo Proibido
58 - SRI LANKA
Localização: Ásia Central 0,9% de Cristãos evangélicos Predominante: Budistas, alguns Hindus e Muçulmanos Evangelismo Restrito
59 - BANRAI
Localização: Golfo Pérsico 1,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos e alguns Hindus Evangelismo Proibido
60 - ARGÉLIA
Localização: Norte da África 0,01% de Cristãos evangélicos Predominante: Muçulmanos Sunitas Evangelismo Proibido
61 - CORÉIA DO NORTE
Localização: Leste da Ásia 0,5% de Cristãos evangélicos Predominante: Não religiosos(Ateus) e Crenças Tradicionais Evangelismo Proibido
62 - MONGÓLIA
Localização: Centro-Norte da Ásia 0,1% de Cristãos evangélicos Predominante: Não religiosos(Ateus) e Crenças Tradicionais Evangelismo Restrito
QUEM PODE EVANGELIZAR OS POVOS DA JANELA 10/40
Então, os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, . . .. Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles e muitos, crendo, se converteram ao Senhor (Atos 11:19-21).
A expansão da Igreja em Atos não foi feita apenas por ministros profissionais como Pedro e Paulo. Foi feita por cristãos fiéis, dispostos a perderem seus empregos, seus lares e sua vida normal por causa da sua fé em Jesus Cristo como o Salvador e Senhor verdadeiro. Fugiram da perseguição, mas não ficaram amedrontados e calados. Anunciavam o Evangelho e a mão do Senhor estava com eles!
Ronaldo Lidório, missionário em Gana, disse que os povos mais fáceis de alcançar já foram contatados. Restam agora os mais difíceis, onde muitos dos quais, com certeza, existem dentro da Janela 10/40. O evangelista nesta região tem que ser fiel, disposto a negar-se a si mesmo e ter a “mão do Senhor sobre ele”. Este missionário, nos campos difíceis, precisa de uma clara direção de Deus e da poderosa manifestação da Sua presença e benção na vida dele.
Estatísticas ao Contrário
Conforme estatísticas recentes,[1] o Brasil perde um quarto da sua força missionária a cada três anos. As razões principais são
(1) a falta de preparo,
(2) o baixo nível de compromisso,
(3) os problemas pessoais e sociais e a
(4) falta de apoio das suas igrejas no Brasil.
O missionário que trabalha na Janela 10/40 especialmente precisa superar estes problemas. Além da dificuldade e resistência inerentes na região, muitos vão trabalhar como “fazedores-de-tendas”, ou profissionais seculares, como aqueles primeiros missionários espalhados pela perseguição em Jerusalém. Mesmo assim, o candidato precisa ter certeza de que estas qualificações não faltam, para que ele também não entre na estatística de desistência.
Padrões Bíblicos
No capítulo onze de Atos, acima citado, temos o relato da história tremenda da primeira expansão da Igreja de Jesus Cristo. A Igreja de Jerusalém tinha crescido rapidamente, pelo poder do Espírito Santo atuando na vida dos seus apóstolos, diáconos e membros. Pedro relata a sua experiência na casa de Cornélio, um gentio que aceitou o Evangelho e recebeu a aprovação do Espírito Santo. Anteriormente, Pedro precisou ter uma visão sobrenatural para entender a ordem de Deus para evangelizar os gentios.
Resumindo para os irmãos em Jerusalém, Pedro disse que “Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (11:18). Uma parte forte da mensagem do Evangelho foi o arrependimento, que levava ao perdão e a vida, algo que aqueles primeiros missionários tinham experimentado e compreendido.
Logo começou a complicar mais para a Igreja. Os mesmos que mataram Jesus, começaram a perseguir e a matar os Seus seguidores. Os crentes foram espalhados, deixando tudo para trás, mas firmes na convicção e compromisso com a nova fé em Jesus como Messias e Salvador. Tal foi o impacto que alguns, que tinham mais contato com gentios, começaram a falar com eles também. Os gregos se ajuntaram às igrejas, e este fato chegou logo aos ouvidos dos Apóstolos em Jerusalém.
Enviaram um homem aprovado, experiente e de confiança para verificar o que se passava em Antioquia. Quando chegou, podia ver que Deus estava atuando. Ele ficou para dar os ensinos mais profundos e estabelecer a igreja, com a ajuda de Saulo. A igreja de Antioquia cresceu com o ministério dos evangelistas fieis e dos mestres com conhecimento mais profundo da Palavra de Deus. Em pouco tempo se tornou a igreja enviadora de missionários, e capaz de continuar o trabalho sem os seus dois principais líderes.
A Janela 10/40 também precisa receber homens e mulheres que experimentaram uma profunda experiência de arrependimento e salvação, e precisa também de homens e mulheres que possam ensinar as verdades mais profundas do Evangelho.
Características do Missionário à Janela 10/40
A PRIMEIRA CARACTERÍSTICA DO MISSIONÁRIO, para qualquer lugar, é que tenha experimentado o “arrependimento para vida”. Não pode ser um “crente”, membro de igreja, que nunca chegou a reconhecer o seu pecado e a profunda necessidade da salvação em Cristo. Quem de verdade é salvo demonstra o fruto do Espírito e vive uma vida de humildade, pois sabe de onde veio. Ama os outros, porque experimentou o grande amor de Deus na sua vida. Perdoa as falhas dos outros, mesmo como ele foi perdoado por Deus.
Além destas características “normais” do crente em Cristo, o missionário precisa também ter um CONHECIMENTO PROFUNDO DA PALAVRA DE DEUS. Quem vai para a Janela 10/40 vai encontrar pessoas de religiões formadas e articuladas. Muitos são evangelistas das suas próprias crenças e sabem combater o cristianismo. Muitos têm ódio de cristãos. No entanto em primeiro lugar o missionário vai precisar explicar o Evangelho para estas pessoas, com sabedoria. Em segundo lugar, ele vai precisar instruir na fé cristã as pessoas que aceitam o Evangelho.
Capacidade e conhecimento para poder explicar a história bíblica, os conceitos de Deus, o significado da vinda, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e o papel da igreja no mundo de hoje é essencial para qualquer missionário. Precisam estar aptos a ensinar o verdadeiro significado do texto bíblico, aplicando-o na vida do novo crente e demonstrando esta aplicação na sua própria vida e na vida do outro.
Uma terceira característica de quem quer servir o Senhor nos campos missionários, é UMA VIDA DE COMUNHÃO COM DEUS. Um período devocional regular, submissão e busca da presença e vontade de Deus (Pedro ouviu o Espírito “falar” com ele [Atos 11:12]) devem fazer parte do cotidiano do missionário. Qualquer servo do Senhor tem que reconhecer que é Ele quem capacita e dirige. É o Espírito Santo em Atos 1:8 que vai dar o poder para testemunhar tanto em Jerusalém como até aos confins da terra!
A vida espiritual, comunhão com Deus, dependência no Espírito Santo são essenciais para alguém que vai trabalhar às vezes sozinho, cercado por pessoas convictas de outras religiões e por um ambiente muitas vezes carregado da influência das trevas.
Estas características são desenvolvidas e reconhecidas dentro do contexto da igreja local. Um seminário ou instituto bíblico podem e devem ajudar especialmente na área de conhecimento bíblico, mas não substituem as bases formadas no convívio da igreja.
O missionário deve ter tido UMA BOA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E MINISTÉRIO NA SUA IGREJA DE ORIGEM.
O ministério prático é essencial para o futuro missionário. Ele precisa ter experiência no evangelismo, no ensino da Palavra, no discipulado e na expressão do papel da igreja local. Precisa ser acompanhado por pessoas maduras que ajudam a moldá-lo conforme os padrões bíblicos. Infelizmente, muitas vezes as igrejas enviam jovens para os seminários e depois esperam que voltem como ministros formados e capacitados! Esquecem que é dentro do contexto da igreja local que o ministro é formado de verdade, com a ajuda importante do seminário.
Muitos irão para a Janela 10/40 como profissionais seculares. Nisto a igreja e a Junta precisam verificar O PREPARO E A CAPACIDADE PROFISSIONAL. Não podemos esperar que alguém que fez auxiliar de enfermagem se torne uma enfermeira chefe no campo missionário. Devemos investir nas pessoas para que tenham as melhores credenciais profissionais possíveis, se tornando exemplos e podendo treinar outros.
Finalmente este missionário precisa ter CONHECIMENTO MISSIOLÓGICO. Soube de alguém que foi para as Filipinas ser missionário. Saiu do avião e descobriu que não se fala português por ali! Há muitas pessoas dedicadas, aprovadas nas suas igrejas de origem, e desejosas de servir ao Senhor a qualquer custo, que não conseguem fruto no campo missionário transcultural porque nunca estudaram sobre choque cultural, comunicação transcultural ou os costumes e significados dos povos onde vão trabalhar.
Nós naturalmente enxergamos o mundo através dos nossos preconceitos e pressupostos culturais. Portanto julgamos as outras culturas conforme nossos critérios e evangelizamos discipulamos e implantamos igrejas de forma brasileira, às vezes, mais do que de forma bíblica, e muitas vezes de forma estranha e fora da compreensão dos recipientes.
Este preparo missiológico exige tempo, pois necessita efetuar transformações na cosmovisão e compreensão do missionário. Exige profundo conhecimento da Bíblia e profundo conhecimento de si mesmo e da sua própria cultura, para poder distinguir entre os dois. E exige estudos de culturas recipientes, para podermos viver, comunicar e trabalhar num ambiente transcultural, sem maiores transtornos e confusões.
Quem pode ir para a Janela 10/40? Alguém sensível e sensato. Alguém com convicção das verdades cristãs. E alguém que sabe ensinar e aplicar estas maravilhosas verdades de forma relevante em outro contexto. Talvez a palavra chave e, para alguns surpreendentes, para tudo que temos falado é humildade. O missionário precisa de humildade diante de Deus e da Sua Palavra para a
O Papel da Igreja Enviadora
“Quem pode ir para a janela 10/40?” A resposta é que podem ir pessoas qualificadas na sua vida espiritual, no seu caráter, no seu ministério e na sua profissão. Essencial em tudo isto é a igreja local. A pessoa que pode ir para este campo difícil é a pessoa que tem a aprovação e o firme apoio da sua igreja local.
Às vezes é fácil pensar que tendo o sustento da sua própria profissão, não precisa da aprovação ou apoio da igreja local ou de uma agência missionária. Mas, quem vai para a Janela 10/40 - aquele campo mais difícil - precisa acima de tudo do apoio espiritual, emocional e missiológico de sua igreja e de uma junta missionária. Precisa de pessoas que possam oferecer uma rede comprometida de oração, orientação estratégica e logística no campo e contato constante com pessoas que darão seu amor, compreensão e compaixão pelas lutas, desafios e vitórias obtidas no campo.
Com certeza temos um papel importante na Janela 10/40, como em muitos outros lugares no mundo. Vamos enviar pessoas escolhidas e preparadas por Deus para levar a mensagem do Evangelho e fazer discípulos fiéis a Ele.
Que Deus nos ajude a cooperar com esta obra; existem três formas:
A. Orando;
B. Indo;
C. Contribuindo.
Façamos cada um de nossa parte na obra missionária.
Fique na Paz do Senhor Jesus. Amém!

terça-feira, 7 de março de 2017

Adoção - Um dos Elos da Salvação !

TERMINOLOGIA -  O termo “adoção” ocorre cinco vezes no Novo Testamento, todas nas epístolas paulinas: Romanos 8.15,23; Romanos 9.4; Gálatas 4,5 e Efésios 1.5. No grego a palavra é uioqesia (uiotesia) que tem o sentido de uma relação familiar com todos os privilégios e responsabilidades de herdeiros legítimos.

SENTIDO JURÍDICO
Adoção é o ato pelo qual se confere a uma pessoa estranha os mesmos direitos e privilégios (inclusive a herança) de seu filho.
Na sociedade grega e romana, a adoção entre classes superiores era algo relativamente comum. O cidadão adotado por um romano tornava-se praticamente escravo de seu pai adotivo. Tinha direitos, mas também uma lista de deveres.
Outro sentido dado pelos gregos para adoção, era o reconhecimento público de um filho, por seu pai, quando este lhe dava o direito da herança. Isso era feito quando o filho atingia a maioridade. O sentido deste ato era que o filho não precisava mais submeter-se ao pai, e dali pra frente, poderia dirigir a sua própria vida. Estava socialmente emancipado.
A DOUTRINA DA ADOÇÃO NAS EPÍSTOLAS PAULINAS
A adoção tem três sentidos básicos nos escritos de Paulo:
1º - Salienta a nova relação com Deus, que o cristão goza através de Cristo. Esta relação nos eleva a posição de filhos.
2º - Destaca o fato de que a adoção é fruto da Graça, não méritos pessoais.
3º - Destaca o fato de que ninguém é por natureza filho de Deus.
Enquanto João e Pedro usam o termo “regeneração” (grego paliggenesia) para caracterizar a filiação cristã, Paulo usa uma figura jurídica, talvez devido ao seu contato com os romanos. Para ele a adoção é algo passado, presente e futuro. Fomos libertos da escravidão do pecado (passado) vivemos um novo estilo de vida, andando em espírito (presente), e vivemos em esperança da ressurreição e redenção do corpo (futuro).
A adoção manifesta a misericórdia de Deus, em salvar por intermédio de Jesus Cristo, e restabelecer a relação entre a criatura e o criador.
Pela adoção passamos a pertencer à família de Deus, recebendo os mesmos direitos que Cristo tinha por direito eterno.
Vejamos o sentido da palavra em cada uma das passagens:


1 – Romanos 8.15 – “Porque não recebestes um espírito de escravidão para vos conduzir ao temor, mas o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!” –Versão Almeida século 21
Aqui Paulo faz um contraste entre “espírito de escravidão” e o “espírito de adoção de filhos pelo qual clamamos: Aba pai”. O escravo serve por medo, por necessidade, por posição inferior e imposta. O filho clama Aba pai (linguagem íntima da criança, na língua aramaica). Jesus usou o mesmo contraste: “já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”, João 15.15. Isso transforma todo o espírito de nossa vida e atividade cristã.
Paulo ensina a necessidade da filiação cristã, da relação com Deus como Pai em Jesus Cristo mediante o Espírito Santo. Ele prossegue nesse pensamento e afirma que somos filhos e também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. O Espírito Santo em nossas vidas é o penhor da herança do cristão. (II Coríntios 1.22 – II Coríntios 5.5 e Efésios 1.14).
2 – Romanos 8.23 – “... Também nós, que temos os primeiros frutos do Espírito, também gememos em nosso íntimo, aguardando ansiosamente nossa adoção, a redenção de nosso corpo.” - Versão Almeida século 21
Paulo afirma que Cristo haverá de redimir não só o espírito, mas também o corpo. O corpo do cristão é tão santo quanto o seu espírito. O triunfo final da graça redentora de Jesus será a ressurreição dos nossos corpos. Quando o corpo e o espírito forem reunidos, estará completa em Deus toda a nossa personalidade. A adoção também pertence ao corpo.
A redenção significará para a natureza inteira, o cumprimento da profecia acerca do deserto que florescerá como a rosa.
Os cristãos, que possuem o penhor do Espírito, esperam pelo momento em que o corpo será liberto do pecado. A ressurreição será então a etapa final da filiação com Deus.
3 – Romanos 9.4 - “Eles são israelitas, e deles são a adoção, a glória, as alianças, a promulgação da lei, o culto e as promessas.” – Versão Almeida século 21
Este versículo faz parte de um contexto, em que Paulo se refere ao povo de Israel (capítulos 9, 10 e 11).
Deus tratou o povo escolhido como filho, herdeiro e sacerdote, servo de IAVÉ. Coube e Jesus todos os títulos de Israel, e Ele realizou o que os israelitas não puderam realizar. Israel era para Deus o filho predileto entre todas as nações. Paulo considera esse fato como uma das glórias de seu povo. Ele usa o mesmo termo “adoção” para designar a condição de Israel como filho.
4 – Gálatas 4.5 – “Para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” Versão Almeida século 21
No capítulo 4 Paulo prossegue com o mesmo raciocínio do capítulo 3. antes da vinda de Cristo a raça humana estava em período de “minoridade”. O filho, enquanto menor, estava sob os cuidados de seus pais ou tutores, não podendo exercer a sua própria vontade. Era escravo de leis e obrigações, até o dia em que tronava-se adulto, e então era reconhecido como tal, e estava apto a dirigir a sua própria vida. Paulo usa esta comparação para mostrar que antes da vinda de Cristo, o homem estava sob a lei, até que, na plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, para resgatá-lo e adotá-lo como filho.
Conforme a sua infinita graça, Deus tem recebido em sua família aqueles que antes pertenciam a uma família inteiramente diferente (João 8.44); dando-lhe o direito de receber as bênçãos e privilégios dos filhos de Deus. Em Cristo, os cristãos são restaurados à categoria de filhos, membros da grande família divina. É uma transformação radical de categoria: de escravo a filho.
No verso 6 Paulo deixa claro que o ato da adoção, nos proporciona o direito de recebermos o Espírito Santo de Deus.

5 – Efésios 1.5 – “Ele nos predestinou para si mesmo, segundo a boa determinação de sua vontade, para sermos filhos adotivos por meio de Jesus Cristo.” – Versão Almeida século 21
Paulo destaca o fato de que não há destino fatal na vida do cristão, quando diz que “Deus nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo”. A filiação que o homem recebeu de Deus, em virtude de ter sido criado à sua imagem e semelhança, precisava ser renovada após a queda. Esta renovação foi antes de tudo completada no Filho de Deus encarnado e, então, naqueles que estão nele pela fé. A filiação se dá por meio da regeneração e da adoção: enquanto o novo nascimento altera nossa natureza, a doção altera a nossa relação com Deus. Ambas só são possíveis através de Jesus Cristo e sua obra redentora. Deus faz isso “segundo o beneplácito de sua vontade”. Esta expressão engloba a primeira e última expressão do propósito eterno de Deus.
Considerações finais
Pelo nascimento físico, o homem é membro da família de Adão e, como tal, excluído, pelo pecado, da família de Deus. Nascido de novo, passa a fazer parte da família de Deus. Apenas excepcionalmente, a Bíblia fala de Deus como pai de todos os homens, e isso no sentido de ser seu criador e preservador. De modo gral a Bíblia reserva o nome “pai” para designar a nova relação que Ele assumiu para com aqueles que adotou como filhos. São aqueles que nascidos do Espírito, foram transformados e regenerados pelo Sangue do cordeiro.
Diferentemente da adoção humana, a adoção Divina não leva em conta qualidades pessoais. Entretanto é preciso reconhecer que como filhos “adotados” por Deus, Ele como pai, tem o direito de nos corrigir e até nos castigar, a fim de que possamos ser melhores filhos, obedecendo em tudo ao nosso pai. O autor da Epístola aos Hebreus declara que “o Senhor corrige e açoita a qualquer que recebe como filho” (Hebreus 12.6-7).
A filiação por meio da fé tira os homens de debaixo da lei, tornando-os membros e participantes de Cristo.
Quatro consequencias da adoção divina
1ª – Os filhos são emancipados da lei – Gálatas 3.25
2ª – Todos, judeus e gentios, desde que tenham aceitado a Cristo, tornam-se filhos de Deus. Não há distinção – Gálatas 3.28
3ª – Como filhos desfrutamos de todos os direitos como herdeiros das bênçãos de Deus – Gálatas 3.29
4ª – A adoção devolve a dignidade do homem, e o torna consciente de sua nova relação com Deus, através do Espírito Santo – Gálatas 4.6

sábado, 4 de março de 2017

Deus odeia o pecado, mas ama o pecador ?

Deus odeia o pecado, mas ama o pecador? -
O sentido do verbo grego ἀγαπάω (agapaó), ou do verbo hebraico אָהַב (aheb), utilizado na Bíblia, detém um valor aristocrático, voltado para a realidade do homem camponês da antiguidade, apontando para as relações que envolviam os senhores e os servos, ou as relações familiares entre marido e mulher, pais e filhos nos tempos antigos.
Em uma conversa informal, um cristão afirmou: - “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”!  Não pude deixar de questionar:  - “Está na Bíblia”? Não obtive resposta!
É comum citações de pensamentos de origem desconhecida, como se fossem uma verdade bíblica. Sermões e pregações, em nossos dias, estão repletos de frases, pensamentos, provérbios, como: - “Quem não vem pelo amor, vem pela dor”.
Quem cunhou a frase ‘Deus odeia o pecado, mas ama o pecador’, não compreendia verdades bíblicas essenciais, além de desconhecer o significado bíblico de termos como ‘ódio’, ‘amor’, ‘pecado’ e ‘pecador’.
Para entender qual a relação de Deus com o pecador, primeiro faz-se necessário entender o significado dos termos ‘amor’ e ‘ódio’; após isso, abordaremos o significado de ‘pecado’ e ‘pecador’.
Amor e ódio
"Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão" (Pv 8:17).
Segundo esse provérbio, pergunta-se: - a quem Deus ama? A resposta é direta: - àqueles que O amam!
Esse provérbio trata do amor[1], segundo os sentimentos ou as emoções humanas?  Qual o melhor significado para a palavra ‘amor’, segundo os termos utilizados pelos gregos? Eros, Fhilia, Ágape? Deus exige do homem afeição, amizade, caridade?
Não! Absolutamente, não! Deus não exige do homem que tenha afeição por Ele! Deus não está em busca de amizade! Deus não quer caridade! Todos esses significados que se atribui ao termo amor, não condizem com o que Deus requer do homem.
Mas, alguém pode contra argumentar, dizendo: - “O termo grego ‘ágape’ define o amor de Deus para com os homens e vice-versa”.  Alto lá! Essa concepção, é fruto de uma má leitura bíblica, engendrada por vários padres, influenciados pela filosofia grega, como Agostinho, de Hipona e Tomás de Aquino, da Itália, sendo que este pendia para a tradição aristotélica enquanto que, aquele, para as ideias platônicas.
Diante de tantas teorias, como amar a Deus? No que consiste o amor a Deus?
O sentido do verbo grego ἀγαπάω (agapaó), ou do verbo hebraico אָהַב (aheb), utilizado na Bíblia, detém um valor aristocrático, voltado para a realidade do homem camponês da antiguidade, apontando para as relações que envolviam os senhores e os servos, ou as relações familiares entre marido e mulher, pais e filhos nos tempos antigos.
Quando lemos:
"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom" (Mt 6:24).
Depreende-se do texto que ‘amor’ está para sujeição a um senhor, assim como ‘ódio’ está para insubordinação a outro senhor. Os termos não foram empregados para fazer referências a sentimentos ou, emoções, mas, sim, para destacar a relação entre senhor e servo.
Ama a Deus aquele que O obedece, ou seja, que se sujeita a Ele, como servo obediente.
Jesus mesmo disse: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele" (Jo 14:21). "Se me amais, guardai os meus mandamentos" (Jo 14:15). "Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra,  meu Pai o amará, viremos para ele e faremos nele morada" (Jo 14:23). "Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou" (Jo 14:24).
Jesus não estava exigindo que gostassem d’Ele! Na verdade, Jesus exigia que os homens se sujeitassem a Ele, tomando sobre si o jugo d’Ele. "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas" (Mt 11:29). “E por que me chamais, SENHOR, Senhor, se não fazeis o que eu vos digo?” (Lc 6:46).
Jesus nos deixou exemplo de como se ama a Deus: "Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui" (Jo 14:31).
Por conseguinte, obediência é a essência do amor bíblico: "Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados" (1Jo 5:3).
Quando os apóstolos escreveram os Evangelhos e as cartas do Novo Testamento, o termo ἀγαπάω[2] (agapaó) foi escolhido dentre outros por uma caraterística impar: não tinha um significado específico e, raramente, era utilizado! A ideia do termo deriva do seu significado básico: honra.
Quando é dito que Deus ama os que O amam, é o mesmo que dizer que Ele honra aqueles que O honram: "Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim, perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam, serão desprezados" (1Sm 2:30).
É possível Aquele que é amor, odiar?
O apóstolo João afirma que Deus é amor, mas como compreender essa declaração acerca de Deus? Comparemos os dois versos abaixo, considerando que ambos foram extraídos do mesmo contexto:
"Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele, em Deus" (1Jo 4:15);
"E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus e Deus nele" (1Jo 4:16).
O apóstolo afirma que quem confessar que Jesus é o Filho de Deus, significa que Deus está nele e ele em Deus. Por conseguinte, o Pai e o Filho fizeram morada naquele que confessa a Cristo. Mas, como o Pai e o Filho passam a fazer morada no homem? Obedecendo a palavra de Cristo, ou seja, ao amá-Lo:
"Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra,  meu Pai o amará, viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14:23).
Perceba que, confessar a Cristo, é o mesmo que amar, obedecer e crer, e resulta em salvação: "A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo" (Rm 10:9).
Por intermédio de Moisés, Deus deixou bem claro que Ele faz misericórdia aos que o amam, ou seja, àqueles que guardam os mandamentos de Deus.
"E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos" (Êx 20:6).
“Eu amo aos que me amam e os que cedo me buscarem, me acharão” (Pv 8:17)
O amor de Deus para com os que O obedecem, não diz de um sentimento ou de uma emoção. O amor de Deus para os que O amam é misericórdia, ou seja, bondade, benignidade, fidelidade.
- “Deus amou o povo de Israel”. Esta frase é verdadeira! Mas, como Deus amou os filhos de Israel? R: guardando o juramento feito a Abraão, a Isaque e a Jacó.
“Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” (Dt 7:8).
O amor de Deus é demonstrado na sua fidelidade à Sua palavra. Como Deus fez aliança com Abraão e prometeu que ele seria pai de muitas nações, Deus ‘amou’ os filhos de Israel, mantendo a palavra que falara a Abraão: resgatando-os da servidão do Egito (Gn 17:4-8).
Mas, apesar de Deus demonstrar a sua benignidade, conforme a boa palavra que falara aos patriarcas, Ele também odeia a todos os que praticam a maldade, ou seja, que não O obedecem.
“Os loucos não pararão à tua vista; odeias a todos os que praticam a maldade” (Sl 5:5);
“E retribui no rosto a qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto lhe pagará” (Dt 7:10);
"Se eu afiar a minha espada reluzente e se a minha mão travar o juízo, retribuirei a vingança sobre os meus adversários e recompensarei aos que me odeiam" (Dt 32:41);
"Eis que o justo recebe na terra a retribuição; quanto mais o ímpio e o pecador!" (Pv 11:31).
Enquanto o amor de Deus é dar o que prometeu, segundo a sua palavra aos que O amam, o ódio de Deus refere-se à sua retribuição a todos os que são ímpios e pecadores.
“Amai ao SENHOR, vós todos que sois seus santos; porque o SENHOR guarda os fiéis e retribui, com abundância, ao que usa de soberba” (Sl 31:23);
"Mas, o que pecar contra mim, violentará a sua própria alma; todos os que me odeiam amam a morte" (Pv 8:36).
Quando a Bíblia fala daqueles que odeiam a Deus, não fala de pessoas que tem um sentimento rancoroso ou que falam impropérios contra Deus. O ódio a Deus decorre da desobediência, de propagar o engano, ou seja, de pronunciar mentiras em nome de Deus: "Efraim era o vigia com o meu Deus, mas o profeta é como um laço de caçador de aves, em todos os seus caminhos e ódio na casa do seu Deus" (Os 9:8).
Não basta dizer: - “Deus existe”; “Deus é bom”; “Eu amo a Deus”; “Vive o Senhor”, etc., mas não fazer o que Ele manda. Os filhos de Israel eram religiosos, legalistas, moralistas e ritualistas e tinham a lei chegada à boca, mas longe do coração: "Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído" (Is 29:13).
Quando Jesus faz referência aos que O odiaram, diz daqueles que não O obedeceram, pois não creram em Cristo, por consequência, não creram em Deus. Quem crê em Cristo, obedeceu a Deus, ou seja, amou a Deus. Mas, quem não crê em Cristo, desobedeceu, tanto a Cristo, quanto a Deus, ou seja, odiou tanto o Filho, quanto o Pai: “Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu, entre eles, não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai. Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa” (Jo 15:23-25). "Jesus clamou e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou” (Jo 12:44).
Enquanto o amor do homem para com Deus consiste em obediência ao seu mandamento, o amor de Deus, diz do seu cuidado, expresso em um mandamento: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor" (Jo 15:10).
O amor de Deus é proteção, cuidado, abrigo, fidelidade, como se lê:
"Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor" (Jo 15:10).
O apóstolo Paulo expressa a essência do amor de Deus, nessas palavras:
“Palavra fiel é esta: que, se morrermos com Ele, também com Ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2Tm 2:11 -13).
Pecado e pecador
No imaginário popular, o pecado é representado por um fardo pesado que o pecador leva sobre os seus ombros.  Várias ilustrações e canções advertem os pecadores a deixarem o fardo do pecado aos pés de Cristo. Mais um engano!
A Bíblia apresenta o pecado com um senhor, não como um fardo: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (Jo 8:34). Os servos do pecado pecam, por isso são nomeados pecadores! Nas sociedades escravagistas a servidão era intrínseca ao escravo, portanto, era impossível ao servo se separar do seu senhor.
A ilustração que apresenta o pecado como um fardo não descreve a verdade das Escrituras, pois o pecador é apresentado como quem tem autonomia para deixar o pecado (fardo) ao pé da cruz e sair livre.
Além dessa figura, há várias considerações equivocadas, acerca do pecado: “O pecado nasce no coração do homem”. “O homem é uma fábrica de pecado”. “O homem não apenas, ama praticar o pecado, como ele em si mesmo é o pecado”, etc.
O homem não é o pecado, por não ser senhor de si mesmo. O pecado não é uma questão de gostar, querer, etc., na verdade, é uma questão de sujeição. O pecado não nasce no homem, antes o homem é concebido no pecado, ou seja, escravo do pecado.
Uma má leitura de Tiago 1, versos 12 à 15, leva ao entendimento de que o pecado é gerado dentro da pessoa, ou seja, em algum momento da existência do indivíduo o pecado nasce. Erro gravíssimo de interpretação do versículo, pois o que gera o pecado é a concupiscência, não o indivíduo.
O evento em que a concupiscência deu a luz ao pecado, ocorreu no Éden, quando Eva foi tentada e, ao observar o fruto da árvore do conhecimento, surgiu a concupiscência dos olhos: olhou para a árvore do conhecimento do bem e do mal e entendeu que o fruto era bom para comer, vez que agradou os seus olhos e considerou ser desejável para dar entendimento.
O evangelista João aponta três tipos de concupiscência: da carne, dos olhos e a soberba da vida (1Jo 2:16). A concupiscência não é pecado, mas se deixar guiar por ela levará o homem a sujeitar-se ao pecado. A prática reprovável não é o pecado, antes é uma ofensa. O pecado é o senhor que o indivíduo se sujeita, após a ofensa decorrente da concupiscência.
O pecado não é uma ‘simbiose’, antes, um senhor que utiliza o corpo do indivíduo como instrumento, independentemente do tipo de ação que o indivíduo vier a praticar: "Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade, mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça" (Rm 6:13).
A concupiscência que deu à luz ao pecado pela ofensa e que trouxe a morte a todos os homens, iniciou-se com Eva e foi consumada por Adão. Tiago não estava tratando com os pecadores, quando fez essa descrição do surgimento do pecado, mas com os cristãos judeus (das doze tribos da dispersão). Esses cristãos estavam livres do pecado, pois se fizeram servos da justiça, quando creram em Cristo (Rm 6:18).
Entretanto, se os cristãos se deixassem levar por falsos discursos (a tentação que leva à concupiscência), e não perseverassem na lei perfeita da liberdade, novamente seriam presas do pecado, consequentemente, sujeitos à morte (Tg 1:22 e 25). Cristo de nada aproveitaria aos cristãos das doze tribos da dispersão, caso se deixassem levar por falsos discursos.
As Escrituras apontam que o único modo de desfazer a sujeição do pecador ao pecado é através da morte do pecador:
“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6:6).
Não se separa o pecado do pecador. É impossível punir o pecado ou deixar o pecador sem punição. O pecador é instrumento do pecado, de modo que o pecador só peca por ser servo do pecado.
O pecado (senhor) entrou no mundo por causa da ofensa de Adão, e, em função do pecado, entrou a morte, pela força que há na lei, que diz: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:16-17).
Adão foi quem ofendeu a Deus, porém, a consequência do seu ato (morte) passou a todos os seus descendentes, por isso é dito que todos pecaram (Rm 5:12). Isso equivale a dizer que todos se tornaram imundos, pecadores, não por suas próprias ações ou omissões, mas, pelo fato de terem herdado essa condição de Adão: morte!
Equivocadamente, as pessoas acham que os homens tornam-se pecadores porque fazem coisas inconvenientes, contrárias à moral e aos bons costumes, ou, por transgredirem a ordens legais. Na verdade, os homens são pecadores por causa da morte que lhes foi transmitida. Todos pecaram, porque a morte passou a todos, e não porque todos ofenderam a Deus: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5:12).
Ocorreu somente uma transgressão, e por meio dela entrou no mundo o pecado (senhor) e a morte (aguilhão). O que prende o homem ao pecado é a morte, ou seja, a condenação decorrente da ofensa de Adão (1Co 15:56).
"Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos" (Rm 5:19).
O salário que o pecado (senhor) dará aos seus servos (pecadores) é a morte. Aqui temos uma figura decorrente das relações que existiam nas sociedades escravocratas, pois, a única certeza dos escravos é que morreriam. Tudo o que os escravos produziam, pertenciam, por direito, a seu senhor:
"Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos, para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, do pecado para a morte, ou da obediência, para a justiça?" (Rm 6:16).
Deus, sendo justo, estabeleceu que:
A alma que pecar, essa mesma morrerá, portanto, a pena não pode passar da pessoa do transgressor: "Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado" (Dt 24:16).
Não pode justificar o ímpio: "De palavras de falsidade te afastarás e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei ao ímpio" (Êx 23:7).
Não faz acepção de pessoas: "Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas" (Dt 10:17).
Todos os homens que veem ao mundo, independente das suas ações, são pecadores, ou seja, servos do pecado. Todos os descendentes de Adão estão condenados à morte, sem exceção. Todos os descendentes de Adão foram gerados segundo a carne, portanto, são carnais, e carne e sangue não podem herdar o reino dos céus (1Co 15:50).
Estamos diante de um impasse: como é possível esse Deus justo, justificar o ímpio? O que é necessário para que Deus seja, simultaneamente, justo e justificador?
"Para demonstração da sua justiça, neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador, daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3:26).
Deus não pode negar-se a si mesmo, portanto, segundo a Sua palavra, Ele não justifica o ímpio (Ex 23:7). Mas, o apóstolo Paulo, por sua vez, afirma categoricamente que Deus justifica o ímpio: "Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rm 4:5).
Como inocentar um culpado? Como perdoar o ímpio sem ser injusto?
Há outro problema: a pena imposta ao pecador não pode ser paga por outro, pois a alma que pecar, essa mesma morrerá (Ez 18:4 e 20).
A figura de um homem carregando um fardo pesado de pecados não explica essas várias nuances que envolvem a relação senhor/servo, pecado/pecador, por isso não deve ser utilizada ou propagada.
Todos os homens são concebidos em pecado, ou seja, sujeitos ao pecado. Da mesma forma que os filhos dos escravos nasciam escravos, o homem é concebido servo do pecado. O único modo de o homem ser livre do pecado é através da morte, por isso é dito que 'o salário do pecado é a morte'.
Quando o homem recebe o convite, que há no evangelho, e crê em Cristo, na verdade, seguiu após Cristo, até o calvário, sendo crucificado com Ele, tornando-se participante da morte de Cristo. O pecador, quando tem um encontro com Cristo, não deixa um fardo ao pé da cruz, na verdade, deixa o seu corpo crucificado na cruz:
"Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Rm 6:6).
Quando o pecador é crucificado com Cristo, Deus é justo, pois a pena, efetivamente, não passou da pessoa do transgressor. Na morte do pecador com Cristo, Deus não justificou o ímpio, antes o pecador sofreu a pena, pois a alma que pecar, essa mesmo morrerá.
O batismo em Cristo significa morrer com Cristo, não sepultar pecados. Em Cristo, o pecador é declarado morto para o pecado, pois o corpo do pecado é desfeito e sepultado (Cl 3:3).
"Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?" (Rm 6:3)
Após o pecador ser sepultado com Cristo, por intermédio d’Ele ressurge com Cristo, pela fé no evangelho, um novo homem, criado segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade (Ef 3:24). Sómente após morrer com Cristo e ser sepultado, é que ocorre o novo nascimento, passando a existir uma nova criatura: "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2Co 5:17).
"Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé, no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos" (Cl 2:12).
"De sorte, que fomos sepultados com ele, pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida" (Rm 6:4).
Deus é justo, por isso é necessário que o homem morra com Cristo, e é justificador, quando cria o novo homem e o declara justo. O novo homem é livre do pecado e servo da justiça. Como é impossível servir a dois senhores, o novo homem não é mais pecador: "E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça" (Rm 6:18).
O pecado decorre da semente, não do comportamento. Os nascidos da semente corruptível, a semente de Adão, são pecadores. Já os nascidos da semente incorruptível, a palavra de Deus, são santos, irrepreensíveis e inculpáveis, pois nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus: "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus" (1Jo 3:9). "No corpo da sua carne, pela morte, para, perante ele, vos apresentar santos, irrepreensíveis e inculpáveis" (Cl 1:22).
Deus amou o mundo
Vale destacar que os termos ‘pecador’ e ‘ímpio’ são intercambiáveis, pois o ímpio é pecador e vice-versa: "Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Rm 5:6).
A frase “Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado” não está na Bíblia e nem evidencia uma verdade das Escrituras. Deus é essencialmente justo e fidedigno à justiça. Deus olha (mostra o seu favor) somente para os retos, consequentemente, Deus não olha para os ímpios, pois olhar para o ímpio não é ser justo: “Porque o SENHOR é justo e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos” (Sl 11:7).
O termo ‘amor’, quando tem Deus por sujeito, não diz de um sentimento de afinidade, afeição, carinho, afeto, antes, revela, essencialmente, o cuidado que Ele dispensa aos que O obedecem: "O SENHOR guarda a todos os que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos" (Sl 145:20).
O cuidado, a proteção, a fidelidade de Deus se faz presente somente naqueles que ouvem o mandamento de Deus e creem: "A salvação está longe dos ímpios, pois não buscam os teus estatutos" (Sl 119:155). Por isso, é dito que Deus ama os que O amam e honra os que O honram, mas para os ímpios é dito: não há paz! (Is 57:21)
Semelhantemente, o termo ‘ódio’ quando tem Deus como sujeito, não possui o sentido de antipatia, desgosto, aversão, raiva, rancor, horror, inimizade, execração, ira ou repulsa. O termo é utilizado para fazer referência a justa retribuição que Deus dá aos que são desobedientes à sua palavra: "Eis que vem o dia do SENHOR, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação e dela destruir os pecadores" (Is 13:9).
Quem obedece, é retribuido com salvação, aos pecadores, por sua vez, destruição. Se Deus amasse o pecador, preservaria a vida do pecador, sem ser necessário morrer e ser sepultado com Cristo. Mas, como é imprescindível o pecador ser batizado na morte de Cristo para ressurgir uma nova criatura, certo é que Deus não ama o pecador. "Mas, os transgressores e os pecadores, serão juntamente destruídos; e os que deixarem o SENHOR serão consumidos" (Is 1:28). "Pois, eis que os que se alongam de ti, perecerão; tu tens destruído todos aqueles que se desviam de ti" (Sl 73:27).
Mas, alguém pode contra argumentar utilizando a seguinte passagem bíblica:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
É em função deste versículo que muitos dizem: - “Deus ama o pecador”.
Vamos analisar o versículo? Esse verso é explicação do verso anterior, portanto não é uma asserção independente do seu contexto, em decorrência do ‘Porque...’. O que diz o verso anterior?
“Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:15).
O evangelista João estava explicando que, assim como Moisés levantou a serpente de metal no deserto, para que aqueles que foram picados pelas serpentes olhassem para ela, a fim de serem curados, importava que o Filho do homem, também, fosse levantado (morto).
O motivo de Cristo ser levantado da terra é para que todo aquele que crê n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Semelhantemente, era necessário que os picados pelas serpentes cressem na palavra anunciada por Moisés para não morrerem, pois assim foi anunciado: "E disse o SENHOR a Moisés: Faze-te uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela" (Nm 21:8).
Mas, para que a palavra de Deus tivesse efeito sobre os mortalmente picados, a serpente de metal precisava ser erguida por Moisés. Se Moisés não levantasse a serpente de metal não haveria cura e os picados, por sua vez, deveriam crer na palavra dita por intermédio de Moisés e olharem para serpente de metal, erguida segundo a palavra de Deus.
E como Deus amou o mundo? Dando o seu Filho Unigênito! Esse amor diz de afeição? Não! O amor de Deus diz do mesmo amor com que Jesus amou o Jovem rico:
"E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me" (Mc 10:21).
Jesus amou o Jovem rico dando, um mandamento: - “Vai, vende tudo quanto tens...”. Jesus não estava afeiçoado ao rapaz, não tinha predileção e nem estimava aquele jovem, antes deu um mandamento, para ser Senhor daquele homem rico. Se acatasse o mandamento de Cristo, aquele jovem se faria servo, ou seja, se humilharia a si mesmo e Cristo tornar-se-ia seu Senhor. Entre Jesus e o jovem rico, dar-se-ia a mesma relação que havia entre Jesus e Deus:
"Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor" (Jo 15:10).
Se Cristo é Senhor, os homens devem obedecê-Lo: “E por que me chamais, SENHOR, Senhor, se não fazeis o que eu vos digo?” (Lc 6:46).
Quando o evangelista João disse que Deus amou ao mundo, na verdade estava evidenciando que Deus estava dando um mandamento a todos os homens, mandamento esse que demanda obediência. Quando o evangelista João disse que Deus deu o seu Filho unigênito, estava anunciando o mandamento de Deus: crer naquele que Ele enviou!
Outra questão que se faz necessário observar no versículo é que Deus amou O MUNDO, não indivíduos. Ao enviar o Seu Filho, Deus deu o mesmo mandamento para todos os homens, ou seja, não há acepção de pessoas. Cristo ter sido enviado ao mundo, demonstra que Deus não tem preferência por ninguém.
O amor de Deus pela humanidade já havia sido expresso a Abraão, quando foi dito: “... em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12:3). Semelhantemente, Deus amou os filhos de Israel e, por isso, foram resgatados do Egito, entretanto, o amor de Deus estava no mandamento que deviam seguir e, como não obedeceram, pereceram no deserto (Dt 7:8). Deus não amou a indivíduos, mas a nação, em função da promessa dada a Abraão, agora, cada indivíduo da nação de Israel deveria permanecer no amor de Deus, obedecendo ao Seu mandamento (Dt 4:1).
Deus amou todas as famílias da terra, assim como amou a Israel, de modo que, para ter vida eterna, se faz necessário crer em Cristo (o mandamento de Deus na Nova Aliança), assim, como era necessário ouvir e cumprir todos os mandamentos e estatutos da Antiga aliança (Jo 3:16 e Dt 4:1; 1Jo 3:23).
Quando lemos: Deus amou o mundo, temos que ter esse versículo em mente:
"Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados" (1Jo 5:3).
E qual é o mandamento de Deus?
"E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento" (1 Jo 3:23)
A salvação em Cristo se dá por substituição de ato. Adão desobedeceu ao mandamento de Deus no Éden, e Cristo foi obediente ao pai em tudo (Rm 5:19). Agora, para ser salvo, é necessário obedecer ao mandamento de Deus, por isso o Salmista pede um mandamento:
"Sê tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza" (Sl 71:3).
Vale destacar que o termo ‘mundo’ em João 3, verso 16 tem o sentido de ‘toda criatura’, ‘todos os povos’, evidenciando que Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, deviam pregar para judeus e gentios da mesma forma que Deus amou judeus e gentios: "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16:15; Mt 28:19; Cl 1:23; At 10:34).
Deus ‘odeia’ o ímpio e ‘ama’ o justo
"O Senhor prova o justo, mas o ímpio e a quem ama a injustiça, a sua alma odeia" (Sl 11:5)
Quando é dito que Deus ‘prova’ os justos (צַדִּ֪יק), significa que é Ele quem purifica os justos, assim como se purifica a prata: "Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos afinaste como se afina a prata" (Sl 66:10; Is 1:25; Sl 51:2). Neste verso, ‘prova’ não é sinônimo de provação, aflição, mas, sim, de redenção.
Tanto o ouro, quanto a prata, se purificam com meios específicos, já o coração do homem, só Deus pode purificar: "O crisol é para a prata e o forno para o ouro; mas, o SENHOR é quem prova os corações" (Pv 17:3). "Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins" (Sl 7:9).
A partir do momento que o homem (pecador) ama a justiça, ou seja, obedece à palavra de Deus, Deus o purifica e o torna justo. É só o homem reconhecer a sua cegueira e se humilhar (se fazer servo), debaixo das potentes mãos de Deus, guardando os Seus mandamentos, que será amado por DeusL "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor" (Jo 15:10). “O SENHOR abre os olhos aos cegos; o SENHOR levanta os abatidos; o SENHOR ama os justos" (Sl 146:8).
Se o pecador guardar os mandamentos de Deus, ou seja, esconder a Sua palavra no coração, deixará de pecar (não mais será servo do pecado) e passa à condição de justo. Como a boca fala do que o coração está cheio, transbordará a boca do justo de sabedoria e juízo: "A boca do justo fala a sabedoria; a sua língua fala do juízo" (Sl 37:30). "Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti" (Sl 119:11).
Antes de ter um encontro com Cristo, o homem é nomeado pecador, mas após obedecê-Lo, crendo que Ele é o Filho de Deus, passa à condição de justo.
O uso do termo ‘pecador’ é semelhante ao uso do termo ‘náufrago’. Enquanto alguém está à deriva no mar, é um náufrago, mas após ser resgatado, tornou-se passageiro da embarcação. O título de náufrago já não se aplica a quem foi resgatado. Semelhantemente, quando servo do pecado, o homem é pecador, mas após deixar a servidão do pecado, é servo da justiça, portanto, justo e amado de Deus.
Mas, aos ímpios, ou seja, aqueles que não obedecem a Deus (amam a injustiça), Deus os odeia: "Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal" (Sl 5:5).
Como Deus poderia amar os que amam a injustiça? Ele é claro: "Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão" (Pv 8:17), ou: "Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim, perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam, serão desprezados" (1 Sm 2:30).
Podemos dizer que ‘Deus ama o pecador’? Teologicamente tal asserção é equivocada, porém, na linguagem evangelística é plenamente aceitável, desde que você aponte o mandamento de Deus: crer em Cristo, assim como Jesus fez com o Jovem rico, quando o amou dizendo: - ‘Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres...’ "E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me" (Mc 10:21).
O evangelista deve saber qual é o amor de Deus, antes de dizer aos pecadores: - ‘Jesus te ama’.
"Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados" (1 Jo 5:3).
Deus não justifica o ímpio, mas podemos dizer, evangelisticamente, como o apóstolo Paulo disse, que Deus justifica o ímpio, desde que não deixemos de enfatizar que é necessário crer: "Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Rm 4:5). "De palavras de falsidade te afastarás e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio" (Êx 23:7).
[1] “Amor (do latim amore) é uma emoção ou sentimento, que leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa ou a uma coisa”. Dicionário Aurélio.
[2] “Amor (gr. agape) (1 Pe 4.8; Rm 5.5, 8; 1 Jo 3.; 4.7,8,16; Jd 21). Esta palavra, raramente, era usada na literatura grega, antes do Novo Testamento. E quando isso acontecia, ela era usada para expressar um ato de gentileza aos estrangeiros, oferecer hospitalidade e ser caridoso” O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais — A Palavra de Deus ao alcance de todos. Editores: Earl Radmacher, Ronald B. Allen e H.Wayne House, Rio de Janeiro, 2010, pág. 701.
“agapaõ que, originalmente, significava “honrar” ou, “dar boas-vindas”, é, no Gr. clássico, a palavra que tem menos definição específica; frequentemente, se emprega como sinônimo de phileõ, sem haver qualquer distinção, necessariamente, nítida quanto ao significado (...) 4. Não está clara a etimologia de agapaõ e agapè. O vb. agapaõ aparece, frequentemente, na literatura gr. de Homero em diante, mas o subs. agapè é uma construção que só aparece no Gr. posterior. Foi achada uma só referência fora da Bíblia: ali, a deusa Isis recebe o título de agapè (P. Oxy. 1380, 109; século II d.C.), agapaõ é, frequentemente, uma palavra descolorida”. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento/Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordón Chown]. — 2ª ed. — São Paulo; Vida Nova, 2000 págs. 113 e 114.