quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A Divina Eleição e Reprovação!



A DIVINA ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO -

  Todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à morte eterna. Por isso Deus não teria feito injustiça a ninguém se Ele tivesse resolvido deixar toda a raça humana no pecado e sob a maldição e condená-la por causa do seu pecado, de acordo com estas palavras do apóstolo: "... para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus...", e:"...o salário do pecado é a morte..." (Rom. 3:19,23; 6:23). 

   Mas "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós, em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo...", "...para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (I Jo 4:9; Jo 3:16). 

   Para que os homens sejam conduzidos à fé, Deus envia, em sua misericórdia, mensageiros desta mensagem muito alegre a quem e quando Ele quer. Pelo ministério deles, os homens são chamados ao arrependimento e à fé no Cristo crucificado. Porque "...como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?..." (Rom. 10:14, 15). 

   A ira de Deus permanece sobre aqueles que não crêem neste Evangelho. Mas aqueles que o aceitam e abraçam Jesus, o Salvador, com uma fé verdadeira e viva, são redimidos por Ele da ira de Deus e da perdição, e presenteados com a vida eterna (Jo 3:36; Mc 16:16). 

   Em Deus não está, de forma alguma, a causa ou culpa desta incredulidade. O homem tem a culpa dela, tal como de todos os demais pecados. Mas a fé em Jesus Cristo e também a salvação por meio dEle são dons gratuitos de Deus, como está escrito: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus..." (Ef 2:8). Semelhantemente, "Porque vos foi concedida a graça de..." crer em Cristo (Fp 1:29). 

   Deus dá nesta vida a fé a alguns enquanto não dá a fé a outros. Isto procede do eterno decreto de Deus. Porque as Escrituras dizem que Ele "...faz estas cousas conhecidas desde séculos." e que Ele "faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade..." (Atos 15:18; Ef 1:11). De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por duros que sejam, e os inclina a crer. Pelo mesmo decreto, entretanto, segundo seu justo juízo, Ele deixa os não-eleitos em sua própria maldade e dureza. E aqui especialmente nos é manifesta a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa distinção entre os homens que estão na mesma condição de perdição. Este é o decreto da eleição e reprovação revelado na Palavra de Deus. Ainda que os homens perversos, impuros e instáveis o deturpem, para sua própria perdição, ele dá um inexprimível conforto para as pessoas santas e tementes a Deus. 

  Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá-los por Cristo, Deus decidiu dá-los a Ele e efetivamente chamá-los e atraí-los à sua comunhão por meio da sua Palavra e seu Espírito. Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-os guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, glorificá-los finalmente. Deus fez isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça. Como está escrito: "... assim como nos escolheu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito [bom propósito] de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado...". E em outro lugar: "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou" (Ef 1:4-6; Rom 8:30). 

   Esta eleição náo é múltipla, mas ela é uma e a mesma de todos os que são salvos tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Pois a Escritura nos prega o único bom propósito e conselho da vontade de Deus, pelo qual Ele nos escolheu desde a eternidade, tanto para a graça como para a glória, assim também para a salvação e para o caminho da salvação, o qual preparou para que andássemos nEle (Ef 1:4,5; 2:10). 

   Esta eleição não é baseada em fé prevista, em obediência de fé, santidade ou qualquer boa qualidade ou disposição, que seria uma causa ou condição previamente requerida ao homem para ser escolhido. Mas a eleição é para fé, obediência de fé, santidade, etc. Eleição, portanto, é a fonte de todos os bens da salvação, de onde procedem a fé, a santidade e os outros dons da salvação, e finalmente a própria vida eterna como seus frutos. É conforme o testemunho do apóstolo: Ele "...nos escolheu..." (não por sermos mas) "...para sermos santos e irrepreensíveis perante ele..." (Ef 1:4). 

   A causa desta eleição graciosa é somente o bom propósito de Deus. Este bom propósito não consiste no fato de que, dentre todas as condições possíveis Deus tenha escolhido certas qualidades ou ações dos homens como condição para salvação. Mas este bom propósito consiste no fato de que Deus adotou certas pessoas dentre da multidão inteira de pecadores para ser a sua propriedade. Como está escrito: "E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal...já lhe fora dito a ela (Rebeca): O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito, "Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú." E, "...creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna." (Rom 9:11-13; At 13:48). 

   Como Deus é supremamente sábio, imutável, onisciente, e Todo-Poderoso, assim sua eleição não pode ser cancelada e depois renovada, nem alterada, revogada ou anulada; nem mesmo podem os eleitos ser rejeitados, ou o número deles ser diminuído. 

   Os eleitos recebem, no devido tempo, a certeza da sua eterna e imutável eleição para salvação, ainda que em vários graus e em medidas desiguais. Eles não a recebem quando curiosamente investigam os mistérios e profundezas de Deus. Mas eles a recebem, quando observam em si mesmos, com alegria espiritual e gozo santo, os infalíveis frutos de eleição indicados na Palavra de Deus - tais como uma fé verdadeira em Cristo, um temor filial para com Deus, tristeza com seus pecados segundo a vontade de Deus, e fome e sede de justiça. 

   A consciência e a certeza desta eleição fornecem diariamente aos filhos de Deus maior motivo para se humilhar perante Deus, para adorar a profundidade de sua misericórdia, para se purificar, e para amar ardentemente Aquele que primeiro tanto os amou. Contudo absolutamente não é verdade que esta doutrina da eleição e a reflexão na mesma os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou rendam segurança falsa. No justo julgamento de Deus isto ocorre freqüentemente àqueles que se vangloriam levianamente da graça da eleição, ou facilmente falam acerca disto, mas recusam andar nos caminhos dos eleitos. 

   A doutrina da divina eleição, segundo o mui sábio conselho de Deus, foi pregada pelos profetas, por Cristo mesmo, e pelos apóstolos, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, e depois escrita e nos entregue nas Escrituras Sagradas. Por isso, também hoje esta doutrina deve ser ensinada no seu devido tempo e lugar na Igreja de Deus, para qual ela foi particularmente destinada. Ela deve ser ensinada com espírito de discrição, de modo reverente e santo, sem curiosa investigação dos caminhos do Altíssimo, para a glória do santo nome de Deus e consolação vivificante do seu povo. 

   A Escritura Sagrada mostra e recomenda a nós esta graça eterna e imerecida sobre nossa eleição, especialmente quando, além disso, testifica que nem todos os homens são eleitos, mas que alguns não o são, ou seja, são passados na eleição eterna de Deus. De acordo com seu soberano, justo, irrepreensível e imutável bom propósito, Deus decidiu deixá-los na miséria comum em que se lançaram por sua própria culpa, nao lhes concedendo a fé salvadora e a graça de conversão. Para mostrar sua justiça, decidiu deixá-los em seus próprios caminhos e debaixo do seu justo julgamento, e finalmente condená-los e puni-los eternamente, não apenas por causa de sua incredulidade, mas também por todos os seus pecados, para mostrar sua justiça. Este é o decreto da reprovação qual não torna Deus o autor do pecado (tal pensamento é blasfêmia!), mas O declara o temível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado. 

    Há pessoas que não sentem fortemente a fé viva em Cristo, nem confiança firme no coração, nem boa consciência, nem zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso elas usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Elas não devem se desanimar quando a reprovação for mencionada nem contar a si mesmos entre os reprovados. Pelo contrário, devem continuar diligentemente no uso destes meios, desejando ferventemente dias de graça mais abundante e esperando-os com reverência e humildade. Não devem se assustar de maneira nenhuma com a doutrina da reprovação os que desejam seriamente se converter a Deus, agradar só a Ele e serem libertos do corpo de morte, mas ainda não podem chegar no ponto que gostariam no caminho da piedade e da fé. O Deus misericordioso prometeu não apagar a torcida que fumega, nem esmagar a cana quebrada. Mas esta doutrina é certamente assustadora para os que não contam com Deus e o Salvador Jesus Cristo e se entregaram completamente às preocupações do mundo e aos desejos da carne, enquanto não se converterem seria mente a Deus. 

    Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base na sua Palavra. Ela testifica que os filhos de crentes são santos, não por natureza mas em virtude da aliança da graça, na qual estão incluídos com seus pais. Por isso os pais que temem a Deus não devem ter dúvida da eleição e salvação de seus filhos, que Deus chama desta vida ainda na infância. 

   Aqueles que reclamam contra esta graça de eleição imerecida e a severidade da justa reprovação, nós replicamos com esta sentença do apóstolo: "Quem és tu, ó homem para discutires com Deus?!" (Rom 9:20). E com esta palavra do Salvador: "Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu?" (Mt 20:15). Nós entretanto, adorando reverentemente estes mistérios, exclamamos com o apóstolo: "O profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois conheceu a mente do Senhor? ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém." (Rom 11:33-36). 

REJEIÇÃO DE ERROS :

Havendo explicado a doutrina ortodoxa de eleição e reprovação, o Sínodo rejeita os seguintes erros: 

Erro 1 - A vontade de Deus para salvar aqueles que crerem e perseverarem na fé e na obediência da fé é o decreto inteiro e total da eleição para salvação. Nada mais sobre este decreto foi revelado na Palavra de Deus. 

Refutação - Este erro engana aos simples e claramente contradiz a Escritura. Ela testifica não apenas que Deus salvará aqueles que crêem mas também que escolheu específicas pessoas desde a eternidade. Nesta vida Ele dará a estes eleitos a fé em Cristo e perseverança, que Ele não dá a outros; como está escrito: "Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo." (Jo 17:6). "...e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna." (At 13:48). "...como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele..." (Ef 1:4). 

Erro 2 - Há vários tipos de eleição divina para a vida eterna. Um é geral e indefinido, e outro é particular e definido. Esta última eleição ou é incompleta, revogável, não-decisiva e condicional, ou é completa, irrevogável, decisiva e absoluta. Do mesmo modo, há uma eleição para fé e outra para salvação. Portanto eleição pode ser para a fé justificante, sem ser decisiva para a salvação. 

Refutação - Isto é uma invenção da mente humana, sem nenhuma base na Escritura. Essa invenção corrompe a doutrina da eleição e quebra a corrente de ouro da nossa salvação. "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." (Rom 8:30). 

Erro 3 - O bom propósito de Deus do qual a Escritura fala na doutrina da eleição não significa que Ele escolheu certas pessoas e não outras, mas que Ele, dentre todas as condições possíveis (inclusive as obras da lei) ou seja, dentre todas as possibilidades, escolheu como condição de salvação, o ato de fé, que é sem méritos de si mesmo, e a obediência imperfeita da fé. Na sua graça Ele a considera como obediência perfeita e digna da recompensa da vida eterna. 

Refutação - Este erro perigoso invalida o bom propósito de Deus e o mérito de Cristo, e desvia as pessoas, por questões inúteis, da verdade da justificação graciosa e da simplicidade da Escritura. Ele acusa de falsidade esta declaração do apóstolo: " ...que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos." (II Tim 1:9). 

Erro 4 - Eleição para fé depende das seguintes condições prévias: o homem deve fazer uso adequado da luz da natureza, e deve ser piedoso, humilde, submisso e qualificado para a vida eterna. 

Refutação - Assim parece que a eleição depende destas coisas. Isto tem o sabor do ensino de Pelágio e está em conflito com o ensino do apóstolo em Efésios 2:3-9: "...entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo -- pela graça sois salvos, e juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." 

Erro 5 - A eleição incompleta e não-definitiva de certas pessoas para a salvação se baseou nisto: Deus previu que elas começariam a crer, se converter, viver em santidade e piedade, e até continuariam nisto por algum tempo. Eleição completa e definitiva de pessoas, porém, ocorreu porque Deus previu que elas perseverariam em fé, conversão, santidade e piedade até ao fim. Isto é a dignidade graciosa e evangélica por causa da qual a pessoa que é escolhida é mais digna que outra que não é escolhida. Consequentemente a fé, a obediência de fé, a piedade e a perseverança não são frutos da imutável eleição para glória. São condições e causas previamente requeridas e previstas como cumpridas naqueles que serão eleitos completamente. Só com base nestas condições ocorre a eleição imutável para a glória. 

Refutação - Este erro está em conflito com toda a Escritura que repete constantemente para nossos ouvidos e corações, estas e semelhantes afirmações: eleição "não [é] por obras mas por aquele que chama..." (Rom 9:11), "...e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna." (At 13:48); "...nos escolheu nele antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis perante ele..." (Ef 1:4); "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros..." (Jo 15:16); "...se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça." (Rom 11:6). "Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o seu Filho..." (I Jo 4:10). 

Erro 6 - Nem toda eleição para salvação é imutável. Alguns dos eleitos podem perder-se e de fato se perdem eternamente, não obstante qualquer decreto de Deus. 

Refutação - Este erro grosseiro faz Deus mutável, destrói o conforto dos crentes quanto à constância de sua eleição, e contradiz a Escritura: os eleitos não podem ser enganados (Mt 24:24); "E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum se perca de todos os que me deu..." (Jo 6:39); "E aos que predestinou a esses também chamou; e aos que chamou a esses também justificou; e aos que justificou a esses também glorificou." (Rom 8:30). 

Erro 7 - Nesta vida não há fruto, consciência ou certeza da eleição imutável para glória, exceto a certeza que depende de uma condição mutável e incerta. 

Refutação - Falar acerca de uma certeza incerta é não apenas absurdo mas também contrário à experiência dos santos. Sentindo sua eleição, eles se regozijam junto com o apóstolo e glorificam este benefício de Deus (Cf Ef 1:12). Conforme o mandamento de Cristo Eles se regozijam junto com os discípulos por seus nomes estarem escritos nos céus (Lc 10:20). Eles colocam a consciência de sua eleição contra os dardos inflamados das tentações do diabo, quando perguntam: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" (Rom 8:33). 

Erro 8 - Deus não decidiu, simplesmente com base em sua justa vontade, deixar ninguém na queda de Adão e no estado comum de pecado e condenação. Nem decidiu passar ninguém quando deu a graça, necessária para fé e conversão. 

Refutação - Pois isto é certo: "Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz." (Rom 9:18). E também isto: "...Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido." (Mt 13:11). Igualmente: "...Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi de teu agrado." (Mt 11:25,26). 

Erro 9 - Deus envia o Evangelho a um povo mais que a um outro, não meramente e somente por causa do bom propósito de sua vontade, mas por ser este melhor e mais digno que o outro, ao qual o Evangelho não é comunicado. 

Refutação - Moisés nega isto quando se dirige ao povo de Israel dizendo: "Eis que os céus e os céus dos céus são do SENHOR teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente o SENHOR se afeiçoou a teus pais para os amar: a vós outros, descendentes deles escolheu de todos os povos, como hoje se vê." (Dt 10:14, 15). E Cristo diz: "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, com pano de saco e cinza." (Mt 11:21).

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Apegue-Se ao que é bom -

APEGUE-SE AO QUE É BOM

O julgar a verdade que Paulo ordena não é apenas um exercício acadêmico. Demanda uma resposta ativa e dupla. Primeiro, há uma resposta positiva para o que é bom: “Retende o que é bom” (1 Ts 5.21). Isto ecoa Romanos 12.9: “Detestai o mal, apegando-vos ao bem”. A expressão “apegando-vos” fala de proteger vigilantemente a verdade. Paulo está demandando a mesma vigilância cautelosa que exigiu de Timóteo em todas as cartas que lhe escreveu: “Tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado” (1 Tm 6.20); “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste… Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1.13-14). Em outras palavras, a verdade é deixada sob nossa custódia, e temos a incumbência de protegê-la de toda ameaça possível. 

Isso descreve uma postura militante, defensiva e protetora contra qualquer coisa que mine a verdade ou que, de algum modo, lhe cause danos. Precisamos manter a verdade segura, defendê-la zelosamente, preservá-la de todas as ameaças. Aplacar os inimigos da verdade ou baixar a nossa guarda é uma violação deste mandamento. 

“Retende” também possui a ideia de aceitar alguma coisa. Vai além da mera anuência ao que é “bom” e fala de amar a verdade com todo o coração. Aqueles que são verdadeiramente capazes de discernir são comprometidos com a sã doutrina, a verdade e tudo aquilo que é inspirado por Deus. 

Todo cristão verdadeiro tem esta qualidade em algum nível. Paulo define a salvação como “amor da verdade” (2 Ts 2.10) e disse aos coríntios que eles provariam sua salvação, se retivessem a palavra que ele pregara (1 Co 15.2). Aqueles que falham por completo em reter a mensagem salvífica são os que têm “crido em vão”; isto significa, antes de tudo, que sua fé é vazia. O apóstolo João disse algo parecido: “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1 Jo 2.19). Todos os verdadeiros crentes retêm o evangelho. 

Paulo estava insistindo em que os crentes de Tessalônica cultivassem e fortalecessem seu amor pela verdade, permitindo que ela governasse seu pensamento. Paulo desejava que eles nutrissem uma dedicação consciente a toda a verdade, uma fidelidade à sã doutrina e um exemplo de reter tudo o que era bom.

A atitude que isso exige é incompatível com o pensamento de que devemos deixar a doutrina de lado por amor à unidade. Tal atitude não pode ser conciliada com a opinião de que as verdades severas devem ser amenizadas, a fim de tornar a Palavra de Deus mais agradável aos incrédulos. É contrária à ideia de que a experiência pessoal tem primazia sobre a verdade objetiva. Deus nos deu sua verdade objetivamente em sua Palavra. Ela é um tesouro que devemos proteger a todo custo. 

Isto é o oposto da fé sem discernimento. Nestas palavras de Paulo, não há lugar para a tradição, nem para a fé irracional e cega que se recusa a considerar a autenticidade de seu objeto e aceita sem questionamento tudo que alega ser verdade. Paulo descarta esse tipo de “fé”, norteada pelas emoções, sentimentos e imaginação humana. Em vez disso, temos de identificar “o que é bom” por meio do exame cuidadoso, objetivo e racional de todas as coisas – usando as Escrituras como nosso padrão. 

Nenhum mestre humano, nenhuma experiência pessoal, nenhum sentimento forte está isento deste teste objetivo. Jay Adams escreveu: “Se as profecias inspiradas da era apostólica tinham de ser submetidas a testes… então, os ensinos dos homens de nossos dias devem ser provados”.1 De fato, se as palavras dos profetas dos tempos apostólicos precisavam ser examinadas e avaliadas, certamente devemos sujeitar as palavras daqueles que hoje se declaram “profetas” e pregadores a um escrutínio ainda mais intenso, à luz de todo o Novo Testamento. Isso também deve ser feito com qualquer emoção ou experiência subjetiva. Experiência e sentimentos – não importa quão fortes sejam – não determinam o que é a verdade. Em vez disso, elas mesmas devem ser submetidas aos testes. 

“O que é bom” é a verdade que se harmoniza com a Palavra de Deus. A palavra “bom” é kalos, que significa algo inerentemente bom. Não é apenas uma coisa de boa aparência, bonita ou amável. Esta palavra fala de algo bom em si mesmo – genuíno, verdadeiro, nobre, correto e bom. Em outras palavras, “o que é bom” não se refere a entretenimento. Não se refere àquilo que recebe elogios do mundo. Não se refere àquilo que satisfaz à carne. Refere-se ao que é bom, verdadeiro, correto, autêntico, fidedigno – aquilo que se harmoniza com a infalível Palavra de Deus. 

Quando você encontrar tal verdade, receba-a e guarde-a como um verdadeiro tesouro. 

____________________________________
John MacArthur

Os Moravianos

— A História dos Jovens Missionários Moravianos

Os Moravianos foram os primeiros protestantes a colocar em prática a idéia de que a evangelizacão dos perdidos é dever de toda a igreja, e não somente de uma sociedade ou de alguns indivíduos.

Paul Pierson, missiólogo, escreveu: “Os Moravianos se envolveram com o mundo das missões como uma igreja, isto é, toda a igreja se tornou uma sociedade missionária”. Devido ao seu profundo envolvimento, esse pequeno grupo ofereceu mais da metade dos missionários Protestantes que deixaram a Europa em todo o século XVIII.

Devido os Moravianos terem sido pessoas sofredoras, podiam facilmente se identificar com aqueles que sofriam. Eles iam àqueles que eram rejeitados por outros. Dificilmente qualquer missionário seria mandado para a costa leste de Honduras ou Nicarágua. Essas partes da América Central eram inóspitas. Lá, contudo, estavam os Moravianos. Isso era característico da vocação missionária deles; eles se dirigiam a pessoas receptivas. Devido ao fato de os Moravianos crerem ser o Espírito Santo o “Missionário” primário, aconselhavam seus missionários a “procurarem as primícias, procurarem aquelas pessoas que o Espírito Santo já havia preparado, e trazer-lhes as boas novas”. Eles colocavam o crescimento do reino de Cristo acima de uma expansão denominacional. A obra missionária Moraviana era regada de oração. No ano de 1727, em Herrnhut na Alemanha , ocorreu um grande avivamento espiritual, os Moravianos começaram uma vigília de virada de relógio, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Nesse período o livro devocional conhecido como Lemas Diários, que ainda tem sido publicado pela Igreja Moraviana, era o devocional mais amplamente usado entre os cristãos europeus. O ministério Moraviano era fortemente regado por oração.

Os Dois Jovens Moravianos

Durante esse período dois jovens Moravianos, de 20 anos ouviram sobre uma ilha no Leste da Índia cujo dono era um britânico agricultor e ateu, este tinha tomado das florestas da África mais de 2000 pessoas e feito delas seus escravos, essas pessoas iriam viver e morrer sem nunca ouvirem falar de Cristo.
Esses jovens fizeram contato com o dono da ilha e perguntaram se poderiam ir para lá como missionários, a resposta do dono foi imediata: “Nenhum pregador e nenhum clérigo chegaria a esta ilha para falar sobre esta coisa sem sentido". Então eles voltaram a orar e fizeram uma nova proposta: "E se fossemos a sua ilha como seus escravos para sempre?", o homem disse que aceitaria, mas não pagaria nem mesmo o transporte deles. Então os jovens usaram o valor de sua própria venda pelo custo de sua viagem.
No dia que estavam no porto se despedindo do grupo de oração e de suas famílias o choro de todos era intenso, pois sabiam que nunca mais veriam aqueles irmãos tão queridos, quando o navio tomou certa distância eles dois se abraçaram e gritaram, e suas últimas palavras ouvidas foram: "QUE O CORDEIRO QUE FOI IMOLADO RECEBA A RECOMPENSA DO SEU SOFRIMENTO".  Desde então, nunca mais foram vistos, ou ouviram sobre eles.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

LÍNGUAS ESTRANHAS???

LÍNGUAS ESTRANHAS??? - Talvez você assim como eu, foi enganado por doutrinas falsas que esfarelam-se quando colocada à luz de uma verdadeira, correta e sincera interpretação  (hermenêutica). Vejamos:

Minha intenção com esse post é refutar as “línguas estranhas” que os "pentecostais" de hoje insistem em defender. Já adianto que não pretendo com isso por um fim a essa controvérsia, pois sei que por mais que se prove que um balão é vermelho, quem quiser acreditar que a cor na verdade é verde, continuará a ver o balão vermelho como se fosse verde. Também não tenho nenhuma pretensão em afirmar que detenho a verdade, pois, isso seria blasfêmia. Mas garanto que qualquer pessoa sensata chegará à mesma conclusão que a minha! Minha única pretensão com este artigo é auxiliar àqueles que buscam uma compreensão melhor sobre o que é o verdadeiro dom de línguas. Assim como eu já fui beneficiado com estudos similares, almejo com esse post alcançar a quem o ler com sinceridade de alma e também beneficiar àquele que apenas busca entendimento!

É mais que notório que as línguas que os pentecostais defendem nos dias de hoje não é o mesmo “dom de línguas” bíblico. Pois, está mais que evidente que o dom de línguas que aconteceu em Atos capítulo 2 eram dialetos. Para defender e fundamentar minha posição, farei uma análise dos textos em grego e... antes que venha alguém aqui me criticar e objetar pelo simples fato de que eu não tenho um profundo conhecimento de grego - o que é verdade, pois não sou doutor, muito menos professor - adianto que: importa apenas a dedicação e o esmero em identificar as palavras, procurar o uso, o histórico e o significado dos termos... saber quantas vezes e de que forma foram usados nas Escrituras Sagradas também é de suma importância. Para isso, não é necessário um diploma em grego... basta tempo e dedicação!

Portanto, farei essa análise abordando apenas os textos com maior proeminência. Dividirei este estudo em duas partes, nesta primeira parte examinarei sobre as línguas idiomáticas em Atos 2 e 1Coríntios 12. Na segunda parte, que será em outra postagem, abordarei 1Coríntios 14.

Atos 2.4
“[...] e passaram a falar em outras línguas [...]” - ARA

“[...] ηρξαντο λαλειν ετεραις γλωσσαις [...]” -     TR

“[...] et coeperunt loqui aliis linguis [...]” - Vulgata

“[...] and began to speak with other tongues [...]” - KJV

“[...] y comenzaron á hablar en otras lenguas [...]” - RV

“[...] e começaram a falar noutras línguas [...]” - NVI

Podemos notar que a palavra “heterais” (ετεραις), plural de “hetero”, é traduzido de forma correta para “outras” seja em latim, inglês, espanhol ou português. A princípio, não há nenhum problema aqui, pois, claramente lê-se que Lucas escreveu que os discípulos passaram a falar em “heterais glossais” (outras línguas/ετεραις γλωσσαις) e, é claro que - pelo próprio contexto de Atos 2 - infere-se que Lucas não escreveu sobre “línguas de anjos” ou mesmo de “línguas não-idiomáticas”. Isso pode-se ser observado ao se usar, pelo menos, 2 princípios hermenêuticos: contexto e coesão textual.

a) Contexto: Enxergar At 2.4 pelo prisma de At 2.6
Lucas escreve em At 2.6 que “[...] cada um os ouvia falar na sua própria língua” onde “língua” é “διαλεκτω” (dialekto)... termo muitíssimo conhecido cujo sinônimo é: idiomas.

b) Coesão Textual:
Se sabemos que os apóstolos falaram em “heterais glossais” e que seus ouvintes receberam em seus próprios “dialektos”, concluímos que da boca dos apóstolos saíram sons desconexos e sílabas sem sentido como: “cantalabaxúria decovas nébias sherebecanto, manto devassas rúbidas nébias”. Essa afirmação é absolutamente ilógica não acham? Pois então, isso é coesão textual, não posso imputar ao texto um sentido que o contexto não permite! Se os ouvintes receberam o evangelho em seus próprios dialetos, ou em suas línguas maternas, então significa que os apóstolos falaram em línguas idiomáticas!

“E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?”
Atos 2.8 - ARA

Quanto a essa conclusão, creio que qualquer cristão sincero e qualquer pentecostal sincero, concorde e confirme na mesma harmonia que os reformados: as línguas de Atos são línguas idiomáticas!

Agora que “chovi no molhado”, vamos a 1Coríntios12, e examinar a ocorrência de “línguas” nesta carta, usando o mesmo critério e o mesmo cânon usado aqui em Atos 2.

1Coríntios 12.10
“[...] a um, variedade de línguas [...]” - ARA

“[...] ετερω δε γενη γλωσσων [...]” - TR

“[...] alii genera linguarum [...]” - Vulgata

“[...] to another divers kinds of tongues [...]” - KJV

“[...] y á otro, géneros de lenguas [...]” - RV

“[...] a outro, variedade de línguas [...]” - NVI

Essa é a primeira vez que o termo “línguas” é escrito por Paulo em sua primeira carta aos Coríntios. Se observarmos o contexto, notaremos que Paulo está falando sobre dons espirituais [1Co 12.1] e quanto a isso não haverá dúvidas, muito menos divergências.

Agora, o que faz alguém dizer que o dom espiritual de 1Co 12.1-12 é diferente do que foi manifestado em Atos 2 apenas no que se refere às línguas? A resposta é simples: pós-verdade! E contra isso não há remédios a não ser o próprio Espírito Santo!

Ao analisar as palavras usadas para construir a sentença, pode-se aferir que para o vocábulo “variedades” Paulo usou “γενη” (gene). Tanto a Vulgata como a Reina Valera (RV) faz a tradução de “gene” de forma impecável, pois, “γενη” é “genera” na Vulgata e “géneros” na Reina Valera. Isso é algo assaz valioso, pois, sabe-se que “gene” pode ser traduzido para: família, tipo, prole, raça, tribo, nação... Não parece uma “cambalhota” exegética afirmar que Paulo esteja se referindo a “línguas não-idiomáticas”? Será que haveria outra oportunidade de Paulo escrever “γλωσσαις αγγελων” (línguas de anjos) ou “πνευματικοις γλωσσαις” (línguas espirituais) ou até mesmo “αγνοειν γλωσσαις” (línguas desconhecidas)?

Contudo, Paulo escreveu: “γενη γλωσσων”. O que os Coríntios, os verdadeiros destinatários desta carta, deveriam entender por “gene glosson”? Acaso eles pensaram: “Paulo está nos dizendo que o Espírito Santo outorgou a nós, homens mortais, o linguajar dos anjos que é incompreensível aos homens”? Isso seria um grande vacilo exegético! É impossível que Paulo esteja falando de “línguas incompreensíveis” a menos que o meu “ego” queira interpretar dessa forma, e aí está a pós-verdade!

Finalizarei esta parte usando o mesmo critério usado em Atos 2, pelo menos duas ferramentas hermenêuticas para corroborar essa posição - de que Paulo também está se referindo a línguas idiomáticas. As ferramentas serão: a) interpretar a Bíblia com a Bíblia, ou seja, usar uma passagem mais simples para extrair o significado de uma mais complexa.  b) coesão textual.

a) Bíblia interpreta a Bíblia:
Ora, se alguns “mestres” afirmam que Paulo falava de línguas estranhas em 1Co12, então o ônus da prova é destes que fazem tal asseveração, pois, antes de  1Co12 temos Atos2, e sabemos que Atos2 se refere ao dom de “línguas idiomáticas”, ou simplesmente dialetos. Quando uso a porção de Atos2 como um óculos para enxergar melhor 1Co12 compreendo, então, perfeitamente o que Paulo está dizendo. Paulo está se referindo a “gêneros idiomáticos” e não a “labaxúrias”. Pois, se ele estivesse se referindo a línguas “incompreensíveis”, necessariamente deveria ensinar de forma mais profunda, usando substantivos e adjetivos adequados, para que os próprios coríntios, e nós hoje, pudéssemos compreender este texto sem nenhuma dúvida. Logo, o problema não está no que Paulo escreveu, e muito menos na hermenêutica de quem defende as línguas “idiomáticas”... O problema mora no “ego” e nas “experiências individuais” de quem defende o contrário... resumindo: Atos2 + 1Co12 = línguas idiomáticas.

b) Coesão Textual:
Não seria inconcebível e absolutamente incoerente eu afirmar que “γενη γλωσσων” (gene glosson) significa, aqui em 1Co12.10, línguas “incompreensíveis”? Se assim fosse... o texto não faria sentido... porquanto, Paulo não usa qualquer adjetivo para qualificar ou modificar “γλωσσων”, nem aqui e nem em qualquer outro lugar da carta de 1Coríntios. Vale lembrar que Lucas foi um fiel companheiro de Paulo em suas viagens... Será que Paulo realmente registrou um dom de línguas extraordinário e “estático”, fazendo uso da palavra “gene” para se referir a essa “língua desconhecida”? A coesão textual não permite esse tipo de interpretação. Desconsiderando a coesão textual eu poderei fazer do texto o meu pretexto!

Uma vez que foi examinado o dom de línguas em Atos2 e em 1Coríntios12, faz-se necessário focalizar todos os esforços para compreender de forma plena e adequada 1Coríntios14, visto que 1Coríntios14 é a “hipóstase” para aqueles que defendem as línguas “estáticas”. Devido ao texto ser tão longo, esse post, será apenas sobre 1Co14.2... Ainda não citei 1Co13 por se tratar de um “salmo”, uma poesia, uma “licença poética”... um exímio hino sobre o amor... logo, possui uma construção diferente do capítulo 12 e do capítulo 14 da primeira carta aos Coríntios. Isto não significa que o valor do capítulo 13 seja menor, ao invés… o capítulo 13 é o capítulo mais importante dessa carta, junto ao capítulo 15!

O maior problema que recaí sobre 1Coríntios14 está na pré-concepção de ideias. Muitos de nós, cristãos, passaram suas vidas inteiras ouvindo “sons incompreensíveis e sílabas desconexas” e isto faz com que esses cristãos creiam na existência do dom de línguas “estáticas”. A experiência pessoal realmente é uma determinante muito significativa. Mas, qual a real necessidade da existência de línguas “incompreensíveis”? Que implicações lógicas e teológicas há quando se adota essa posição?

É certo que através de uma leitura superficial, 1Co14 parece ensinar um dom de línguas distinto do que está escrito em Atos2 e 1Coríntios12, entretanto, se adotarmos a leitura superficial como guia mestra de nossa hermenêutica, então teremos sérios problemas como: afirmar que Jesus Cristo foi crucificado em uma quarta-feira… dizer que foi Samuel quem apareceu a Saul em En-Dor [1Sm28]… alegar que os anjos, ou demônios, coabitaram com mulheres em Gênesis 6.2… e, o pior, dizer que Deus se arrepende do que fez ou determinou [Gn6.6]! Portanto, afirmar que as línguas de 1Co14 são diferentes das línguas de Atos2 e 1Co12, apenas porque o texto parece indicar isso - é sinal de que algo está errado. Muitos creem assim. Eu não creio, e muitos outros cristãos também não adotam essa posição... pois, não se contentam apenas com a aparência do texto e muito menos com as experiências pessoais. Estes se preocupam apenas em compreender e extrair o máximo possível de cada LETRA que Deus soprou!

Sustentar que 1Co14 se refere a línguas “misteriosas”, apenas pela aparência do texto, consiste no mesmo erro lógico que asseverar que ricos não vão ao céu [Mt19.24] ou que Deus se arrepende [Gn6.6], ou pior, que Deus é o autor do mal [Is45.7]! Ora, se sabemos que Deus não é homem para que se arrependa [Nm 23.19], se ricos podem herdar o reino de Deus, e se Deus não é o autor do mal, então podemos deduzir que “nem tudo o que reluz é ouro” e “nem tudo o que parece é” e, ainda, “as aparências enganam”. Do contrário, aqueles que sustentam que Hebreus6 se refere aos cristãos regenerados estariam corretos em sua hermenêutica... pois, a leitura superficial é a causa; o entendimento errôneo e a compreensão equivocada, é o efeito!

Textos complexos como  Gn6; 1Sm28; Is14; Ez28 entre outros... devem ser vistos e analisados à luz de outros textos que permeiam e contém harmonia com assunto, em outras palavras, se o texto de 1Co14 parece me indicar determinado tipo de dom, então, devo considerar que o único lugar em toda a Bíblia que descreve esse dom em evidência é Atos… e que Paulo escreve sobre “famílias”, ou, “gêneros” idiomáticos ao usar a palavra “gene” em 1Co12.10. Resta a pergunta… por que Paulo usou “gene” em 1Co12.10 para a partir de 1Co13 começar a falar sobre outro tipo de dom de língua? Se sabemos que o que está escrito em 1Co12 se relaciona perfeitamente com o que está em Atos2, devemos concluir que o apóstolo Paulo não rompeu sua coesão textual, sua perfeita coesão textual!

O dever de uma excelente hermenêutica é: extrair o máximo possível e o mais próximo possível das intenções do autor e daquilo que ele pensava ao escrever determinada “oração”, “concepção”, “ideia”, “conceito”, “doutrina”... Sabemos que o dom citado em 1Co12 é o mesmo citado em Atos2, porquanto sob o crivo da hermenêutica é exatamente isso o que se observa, devido às palavras usadas pelo próprio apóstolo Paulo, devido ao conhecimento histórico sobre o assunto e devido a harmonização e o encaixe perfeito entre 1Co12-Atos2… A partir daí, também devemos concluir que o que “parece” em 1Co14 não o “é” de fato.

Sem mais delongas, aqui estou eu... em uma singela tentativa de analisar 1Co14. Contudo, como supracitado, essa abordagem será restrita ao versículo 2. E, assim que possível, continuarei a escrever mais sobre 1Co14, pois, há muitas coisas a serem esquadrinhadas neste capítulo... essa minha tentativa é apenas uma pequena ponta de um grande iceberg.

.

1Coríntios 14.2
“Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” - ARA

“ο γαρ λαλων γλωσση ουκ ανθρωποις λαλει αλλα τω θεω ουδεις γαρ ακουει πνευματι δε λαλει μυστηρια” - TR

“ho gar lalon glosse ouk anthropois lalei alla to Theo oudeis gar akouei pneumati de lalei mysteries” - *Transliteração Livre

“qui enim loquitur lingua non hominibus loquitur sed Deo nemo enim audit Spiritu autem loquitur mysteria” - VULGATA

“For he that speaketh in an unknown tongue speaketh not unto men, but unto God: for no man understandeth him; howbeit in the spirit he speaketh mysteries” - KJV

“Porque el que habla en lenguas, no habla á los hombres, sino á Dios; porque nadie le entiende, aunque en espíritu hable misterios” - RV

“Pois quem fala em língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios” - NVI

Devido a complexidade do versículo, dividirei as ponderações em duas partes, a saber:
a) “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus [...]”
b) “[...] visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”

a)Paulo escreveu que qualquer homem que possua o dom de línguas - o contexto é a sequência do que foi referido em 1Co12 - “não fala a homens, senão a Deus”. Mas o que significa isso: “não fala a homens”. Considerando a premissa estabelecida em Atos 2 e em 1Co12, vou propor uma ilustração: considere que estamos em um culto, em uma congregação brasileira qualquer, considere também que um alemão venha nos visitar... em determinado momento, este alemão levanta-se e passa a pregar um sermão em alemão... nós, que o ouvimos, seremos edificados pela mensagem? É óbvio que não; porquanto o alemão “não fala a homens”! Então, para quem o alemão está falando? Supõe-se que ele esteja “falando a Deus”, visto que “não fala aos homens”.

Paulo, em 1Co14.2, quer ensinar aos coríntios que o dom das línguas idiomáticas não possui utilidade alguma se não houver interpretação - confira:

“É assim que instrumentos inanimados, como a flauta ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta ou cítara? Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha? Assim, vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque estareis como se falásseis ao ar. Há, sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo; nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim” - 1Coríntios 14.7-11 ARA

Perceba que Paulo ilustra, demonstra e corrobora aquilo que ele disse em 1Co14.2: “não fala a homens” desenvolvendo essa sentença nos versículos subsequentes. O ponto final do discurso de Paulo é: “Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim”... onde o apóstolo está advertindo os coríntios a que não falem e, muito menos, esbocem quaisquer sons que sejam sem sentido ou incompreensíveis ao ouvinte. Considerado o contexto, vemos que Paulo não está exortando os coríntios a que busquem os sons e sílabas desconexas, ao invés, Paulo enfatizou a inutilidade de falar qualquer “meia palavra” que seja incompreensível - qualquer palavra que seja falada em qualquer idioma estrangeiro cujo o ouvinte não conheça, essa palavra será incompreensível ao ouvinte.

Contudo, aqueles que defendem as línguas estáticas, insistem que aqui Paulo está se referindo as línguas “espirituais”. Por isso precisamos examinar os textos complexos à luz das Escrituras e também à luz do contexto. Que sentido haveria para o apóstolo defender as línguas “angelicais” aqui e refutá-las logo a seguir? Onde está a coesão textual? O que fazer com o contexto? Não é boa a “jactância” de quem segue por esse caminho... porque o “não fala a homens” é uma advertência e não um “novo ensino” ou uma “nova doutrina”. Portanto, os primeiros versículos de 1Co14, não são versículos de um professor ensinando a seus alunos, mas, trata-se de um pai repreendendo seus filhos rebeldes. Mais do que preceitos, ou doutrina, Paulo está ensinando uma conduta de vida... Paulo está ensinando uma decência, está exortando ao zelo, está lapidando e podando a seus filhos. Basta fazer uma leitura com muita calma... e veremos nesta porção um pai a lapidar seus filhos.

A sentença do versículo2 - não apenas ratifica o que foi escrito na primeira, como também aumenta o seu significado... Paulo utiliza um recurso chamado “figura de linguagem” para enfatizar e para realçar a sua advertência.

b)Para que ficasse claríssima a mensagem, Paulo repete o mesmo conceito em outras palavras. Perceba que a sentença: “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus” é semelhante, para não dizer igual, a sentença: “visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”. Ou seja, quem fala em dialetos incompreensíveis aos ouvintes, “não fala a homens” porque “ninguém o entende”. Por isso se diz que este indivíduo está “falando a Deus”, porquanto em “espírito fala mistérios”. Este versículo, portanto, trata-se de uma hipérbole - “em espírito fala mistérios” é uma ênfase expressiva, um exagero, para exemplificar e reforçar o que foi escrito na sentença anterior. Paulo não está implementando uma nova doutrina, Paulo não está ensinando que as línguas são “estáticas” em 1Co14.2. Paulo está usando uma hipérbole, uma figura de linguagem... pois, o falar em sons incompreensíveis aos ouvintes está condenado na porção de 1Coríntios 14.7-11 que pertence ao mesmo contexto. Isto é, Paulo usa uma figura de linguagem na segunda parte do versículo 2 para facilitar a compreensão do que ele afirma na primeira sentença. Essa repetição de ideias, seja com figuras de linguagens ou não, é uma característica muito marcante na literatura de Paulo.

Ao compreender o uso das figuras de linguagens na Bíblia muitos textos que são complexos, a primeira vista, podem ser “facilmente” resolvidos. E muitos textos que parecem ensinar tais doutrinas, na verdade se opõe a elas... É claro que há ainda muito mais a se comentar sobre 1Coríntios 14... Mas, isso é tudo nessa postagem.

Resumindo, é impossível que Paulo tenha escrito em 1Co14.2 sobre dons de línguas “angelicais” para depois condenar o uso deste dom em 1Co14.7-11. Pois, se ele estivesse ensinando uma nova doutrina sobre o dom de línguas, não diria: “Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua” [1Coríntios 14.18-19]. O miolo, o cerne, o âmago de 1Co14 é: “fale o que é compreensível ou fique calado”. Paulo repudiou e condenou qualquer evidência de sons incompreensíveis. Por isso a necessidade de interpretação!

Paulo falava o hebraico, o grego, o latim... e o aramaico. Paulo era um verdadeiro poliglota... reconhecia que isto era um dom de Deus. Entretanto, Paulo condenou o uso excessivo e demasiado desse dom... a ponto de dizer aos coríntios: “fiquem calados se não houver intérpretes e se houver, que seja no máximo 3 pessoas que falem”. Paulo sempre zelou pela ordem e decência no culto... e a igreja de coríntios sofreu dos mesmos males que assola 90% dos pentecostais hoje... um culto desorganizado e repleto de balbúrdias. A diferença entre a maioria pentecostal hoje e os coríntios são duas:

1) Os coríntios falavam línguas idiomáticas... a maioria pentecostal fala em línguas estáticas, que são estranhas às Escrituras Sagradas.

2) Os coríntios se arrependeram da desordem e indecência... a maioria pentecostal busca essa desordem e balbúrdia.

Aquele que quiser fazer de 1Co14.2 sua “hipóstase” para defender as línguas “angelicais” está livre para isso. Aquele que quiser acreditar naquilo que seus sentimentos e suas experiências pessoais evidenciam, também está livre para isso... Eu, o autor deste post, não farei de 1Co14.2 uma “nova doutrina”. Ainda pretendo falar sobre o outros trechos de 1Coríntios 14... Mais uma vez repito: eu não detenho a verdade! Minha exposição foi feita... e é óbvio que há falhas, em qualquer exposição feita pelo homem haverá falhas. Mas saibam, amados irmãos... Apesar de minhas falhas, há excelentes teólogos e também o testemunho da igreja histórica defendendo a mesma posição que eu defendo.

Pense um pouco sobre o que ocorre hoje na maioria das igrejas pentecostais... reflita consigo mesmo sobre o que chamam “dom de línguas”... Faça seus questionamentos aqui nesta postagem, estarei disposto a responder qualquer pergunta sincera... e a ajudar a qualquer cristão que queira se alimentar do #SolaScriptura.

E se alguém não entendeu o que é hipérbole, verifique essa equação:

“Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus” ⥶ “visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”.

Onde a primeira sentença é inferior a segunda sentença. A primeira sentença serve como um “aio” para a segunda sentença. A segunda sentença serve como um “óculos” para a primeira sentença. No caso desta hipérbole, a segunda sentença exemplifica e explica de forma enfática o que está escrito na primeira sentença.

Parte 3-

“Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.”
1Coríntios‭14.14‬ ‭ARA‬‬

Chegamos a outro versículo de 1Co14, verdadeiro “#pilar” para aqueles que defendem o dom de línguas “#desconexas” como sendo um dom de línguas bíblico. Daqui, os pentecostais inferem que a frase “se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato” se refere a um tipo de linguagem “#ininteligível”. Ainda asseveram que o versículo 15 corrobora essa posição: pelo fato de que Paulo trata da dualidade alma-espírito, que apesar de serem imateriais, são “hipóstases” distintas - de acordo com a doutrina pentecostal!

Aparentemente, o texto indica haver uma distinção entre “#espírito” e “#mente” quando aponta que aquele que orar #unicamente “no espírito” ficará com sua mente infrutífera. Os pentecostais fazem deste trecho um verdadeiro #axioma, pois dizem: “orar no espírito é tão somente os ‘gemidos inexprimíveis’ [Rm 8.26] que homem nenhum é capaz de entender - a não ser o espírito do homem que fala ao Espírito de Deus”. Portanto, a conclusão dos pentecostais é: veem em 1Co14.14 a “#evidência” de que não se trata de dialetos, ou idiomas... mas, trata-se de línguas ‘espirituais’ ininteligíveis e incompreensíveis ao homem, conforme 1Co14.2”. Entretanto, não é assim! Como já foi tratado em postagens anteriores (parte1 e parte2), 1Co14 é a continuação do que foi escrito em 1Co12.10, onde Paulo escreve sobre “gene glosson” (γένη γλωσσῶν), ou seja, “gêneros de línguas” ou “famílias de línguas”.

Através de uma #hermenêutica coerente, não é possível afirmar que Paulo, repentinamente, passou a tratar de línguas “#espirituais” tão somente porque 1Co14.2 e 1Co13.1 “indicam” alguma distinção em uma leitura #descuidada; assim como uma criança olhando as nuvens do céu vê apenas aquilo que quer ver... as sílabas “#desconexas” só existem para aqueles que insistem em defender as línguas “estáticas” como sendo um dom de línguas bíblico. Quando nos aprofundamos na arte de interpretar, e fazemos uso correto das ferramentas que a hermenêutica nos oferece, compreendemos que 1Co13.1 e 1Co14.2 são “figuras de linguagem” que Paulo usa… e aquilo que é superficial se desfaz como uma névoa na brisa do amanhecer.

‭O texto dessa parte3 - 1Coríntios‬ ‭14.14 -‬ não é uma figura de linguagem, por isso é necessário se fazer uma análise cuidadosa e minuciosa do texto, para que não nos apeguemos unicamente a #superficialidade e a #aparência do mesmo! Por motivos de “tamanho” essa #terceira postagem da série de estudo será exclusiva sobre o versículo 14 e um quarto texto será produzido para a análise do v.15.

‭1Coríntios‬ ‭14:14‬

“Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera.”
‭‭ARA‬‬

“εαν γαρ προσευχωμαι γλωσση το πνευμα μου προσευχεται ο δε νους μου ακαρπος εστιν”
‭‭TR

“ean gar proseuchomai glosse to pneuma mou proseuchetai ho de nous mou akarpos estin”
*Tranliteração

“Nam si orem lingua, spiritus meus orat, mens autem mea sine fructu est.”
‭‭VULG‬‬ATA

“For if I pray in an unknown tongue, my spirit prayeth, but my understanding is unfruitful.”
‭‭KJV‬‬

“Porque si yo orare en lengua desconocida, mi espíritu ora; mas mi entendimiento es sin fruto.”
‭‭RV

“Pois, se oro em uma língua, meu espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera.”
‭‭NVI‬‬

.

I - “[...] o meu espírito ora de fato [...]”

A primeira frase a se levar em consideração nesse versículo é: “το πνευμα μου προσευχεται” (to pneuma mo proseuchetai). Esta conclusão do apóstolo Paulo é muito significativa; porquanto ele assevera que “προσευχωμαι γλωσση” (proseuchetai glosse) é equivalente a “orar em espírito”, em outras palavras: #se alguém “orar em língua” (προσευχωμαι γλωσση) também “ora em espírito” (προσευχεται πνευμα). Como o versículo14 está subordinado ao v.13 - porquanto este é um desenvolvimento lógico daquele - fica evidente duas situações:

a) é possível orar em um idioma desconhecido por quem ora

b) não somente os ouvintes, mas também os “locutores” #necessitam da interpretação daquilo que se fala

A afirmação que Paulo faz aqui em 1Co14.14 é muito semelhante a afirmação que ele fez em 1Co14.2. Todavia, é aqui que Paulo desenvolve sua ideia. Isto é: quem ora em línguas #estrangeiras, em um culto público, sem que haja interpretação [1Co14.11,13], ora somente para si próprio; daí se diz que este “não fala a homens”, porquanto este homem “ora a Deus” porque ninguém o “compreende” [v.2]! Ambos os versículos, v.2 e v.14, estão conectados; logo, conclui-se que “em espírito fala mistérios” (πνευματι δε λαλει μυστηρια) em 1Co14.2 é uma hipérbole diretamente relacionada com a sentença: “o meu espírito ora de fato, mas minha mente fica infrutífera” (το πνευμα μου προσευχεται ο δε νους μου ακαρπος εστιν) escrita em 1Co14.14. Essa #ênfase e repetição de ideias é uma ferramenta didática característica de Paulo... e ele sempre faz isso com maestria. Na parte2 foi explicado a hipérbole de 1Co14.2 e também que o v.2 se trata de uma severa advertência, e não um incentivo! O v.14, este que tratamos agora, também se trata de uma severa advertência, no entanto, sem o uso de hipérbole!

II - “εαν γαρ προσευχωμαι γλωσση [...]”

Neste tópico, abordarei a sentença antecedente àquela analisada no item anterior; esta frase é: “se eu orar em outra língua [...]”

Para que haja uma interpretação adequada de 1Co14, primeiramente é necessário aferir se Paulo escreveu sobre o mesmo dom de línguas aludido em 1Co12.10 que são, tão somente. línguas idiomáticas. O capítulo 14 não deixa margens para uma “#mudança” do significado semântico de “γλωσση” como alega a maioria pentecostal. Ou seja, não há coerência em se afirmar que Paulo faz referência a “#labaxúrias” em 1Co14 se em 1Co12.10 o dom em evidência é #dialektos. Unicamente por meio de uma #eisegese poderíamos concluir que 1Co14 faz alusão à línguas “#angelicais”! Mas, seguirei o caminho da boa hermenêutica, que se preocupa com a #exegese do texto! Porquanto as frases: “não fala a homens, senão a Deus”; “ninguém o entende”; “em espírito fala mistérios”; “ora em espírito” - são sentenças relacionadas exclusivamente ao falar em línguas estrangeiras sem que haja interpretação, ou seja, são afirmativas subordinadas ao significado de “falar sem interpretar”.

Pela coesão textual - ferramenta hermenêutica que procura manter e preservar a coerência, a solidez e a integridade de um determinado texto - conclui-se não ser possível qualquer outro significado para “γλωσση” (glosse) que não seja “línguas idiomáticas” (dialektos), pois, não há qualquer adjetivo que qualifique a palavra “γλωσση” para o sentido de “estranheza”, “ininteligibilidade” e “incompreensibilidade”. Ratifica-se que, além de não haver qualquer adjetivo que possa modificar o significado primário de “γλωσση”, o apóstolo Paulo escreve de forma clara e inequívoca em 1Co12.10 a qual dom de línguas se refere - o dom “γενη γλωσσων” (gene glosson), exatamente o mesmo dom registrado em Atos2.

Uma vez que a exegese está feita, e que se leve em consideração o contexto, a coesão textual, as evidências bíblicas - como a de Atos2, o testemunho da igreja histórica - como documentos biográficos e documentos que registram fatos históricos e épocas... Não poderá haver qualquer outra conclusão que não seja esta: Paulo escreve acerca de dons de línguas idiomáticos. Qualquer conclusão inversa, oposta ou distinta desta; significa que houve equívoco na hermenêutica e, ao invés de uma exegese, fez-se uma eisegese.

.

III - “[...] a minha mente fica infrutífera”

O terceiro item a se considerar no v.14 - para que seja interpretado  adequadamente - é regido pela sentença: “o meu espírito ora” (το πνευμα μου προσευχεται) que é o cerne e o âmago do versículo 14.

A pergunta natural que qualquer leitor faria com relação a essa afirmativa é: se quem não entende a oração de línguas estrangeira é o ouvinte, - considerando que não houve interpretação - então, por qual motivo a minha mente de quem fala é que fica infrutífera? A pergunta é natural, pois, a primeira vista, são os ouvintes que deveriam ficar com a “mente infrutífera” pelo fato de não ter havido interpretação, porquanto são estes que não foram edificados - conforme o v.17. Parece-me que Paulo imputa a “não edificação” da mente não somente ao ouvinte, mas, também àquele que fala em idiomas desconhecidos a si mesmo.

De fato, o “mistério” aqui é que tanto o falante quanto o ouvinte não são edificados quando o dom de línguas é manifestado sem que haja interpretação. É evidente que na igreja de Corinto houve um terrível exagero e confusão… o dom de línguas se tornou um “medalhão” e muitos buscaram este dom para se tornarem “importantes” ou para ganharem respeito e honra. Devemos considerar que Paulo escreveu a carta de 1Coríntios a fim de responder algumas questões que os coríntios tinham com relação a diversos assuntos. O apóstolo aproveita essa oportunidade para também exortá-los, repreendê-los, e ensiná-los na sã doutrina de nosso Deus. Pelo contexto, percebemos que o dom de línguas saiu do controle e houve um exagero da parte dos coríntios. Provavelmente muitos estavam falando em idiomas que nem mesmo eles conheciam, assim como Pedro falou em Atos2 em dialetos que também não conhecia… mas a busca por esse linguajar sofisticado era tal que esqueceram da necessidade da interpretação, tanto para o ouvinte como também para o falante, caso viesse a falar em idioma desconhecido até por ele próprio. Bom, minha capacidade intelectual ainda é miserável para que eu possa conjecturar de forma satisfatória sobre essa sentença de Paulo. Entretanto, os pentecostais veem neste ponto um “sustento” para seus argumentos... pois, dizem: quem fala línguas “estranhas” não sabe o que diz... logo, sua mente ficará infrutífera. Todavia, isso não é um bônus somente para o pentecostalismo, porquanto há a possibilidade de alguém falar em um dialeto que nem mesmo ele conheça… logo, sua mente ficará infrutífera. Devemos, daqui, considerar que Paulo abominava sons “incertos”, línguas “estáticas”, palavras “sem sentido”, sílabas “desconexas”, orações “inteligíveis”.

Enfim, será produzido  mais artigos para esta séries de estudo e o próximo será sobre 1Coríntios 14.15.

Que fique límpido como a água que não tenho pretensão alguma de por um "ponto final" sobre este assunto. Eis o motivo que não há nesses artigos citações de obras consagradas concernentes ao assunto. Visto que tenho total ciência que um artigo produzido por um "leigo" jamais convencerá de forma absoluta e satisfatória. Apesar disso, meu objetivo é auxiliar àqueles que buscam fugir dos erros, engôdos, desacertos, imprecisões, ilusões e fábulas.

Aos #haters aviso que o Brasil carece de seres pensantes e não de papagaios. Sejam sagazes e elegantes em suas colocações, busque, reflita, esquadrinhe, destrinche, esmiúce, estude, interprete escreva... façam conteúdos! O Brasil é um país atrasado posto que os brasileiros possuem um "déficit" intelectual... vivem de "Ctrl C" e "Ctrl V" mas não conseguem pensar por si mesmos.

Hoje em dia, tão raro quanto encontrar um bom político é encontrar conteúdo #original concernente a teologia. Por isso insisto em minha tese e gostaria de um dia ver nessa internet sem dono seres pensantes e debatedores elegantes... cujas divergências sejam consumadas em obras literárias. Assim como Agostinho produziu uma obra prima ao refutar Pelágio, não duvido que nós - os mortais na internet - temos capacidade de fazer deste lugar um lugar melhor.

O conteúdo é livre para ser lido, refutado, aprovado, aceito... homologado. Este conteúdo agora pertence a você, caro leitor, faça dele o que quiser... jogue no lixo ou considere-o. Mas a verdade continuará absoluta: #labaxurias não são línguas bíblicas; os #idiomas é que são!

#SoliDeoGloria

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Cristianismo Brasileiro

Não é preciso grande capacidade intelectual para se observar que o Brasil está longe de ser um “país cristão”. Por mais que muitos hoje se declarem cristãos, há pouca (ou nenhuma) evidência de mudança por aqui. Na verdade, é justamente o contrário. Infelizmente, em nossa nação impera uma forte cultura anticristã. Continuamos sendo um povo imoral, dominado pela lascívia, dado à imoralidade. Em nosso sangue está impregnado o “jeitinho brasileiro”; e em muitos corações tupiniquins Deus é negado veementemente. Penso que o Brasil vive um pouco do que Agostinho relatou no passado:

“Aquele nosso inimigo era leão quando se enfurecia abertamente; agora é dragão quando ocultamente arma ciladas.[...] Como a nossos pais era necessária a paciência no combate contra o leão, assim precisamos da vigilância contra o dragão. No entanto, a perseguição, seja do leão, seja do dragão, nunca cessa para a Igreja; e é mais temível quando engana do que quando se enfurece. Naquele tempo queria forçar os cristãos a negarem a Cristo; agora ensina os cristãos a negarem a Cristo; então coagia, agora ensina. Então introduzia violências; agora, insídias. Aparecia então furioso, agora mostra-se insinuante e dificilmente aparenta o erro.” [1]

Assim como na época descrita, as pessoas hoje são ensinadas a negarem a Cristo. Parece que em todas as esferas da sociedade foi criada uma aversão à fé cristã. Por exemplo, nossa política deposita suas esperanças de salvação no Estado, dando a ele a soberania sobre as demais esferas da sociedade, papel esse que deveria ser de Deus.[2] E o mais incrível é que essa insistência cega permanece frente as diversas provas da falibilidade dessa visão, o que evidencia, ainda, um paradoxo estranho: sabemos que boa parte de nossos políticos são corruptos, mas insistimos em esperar que eles resolvam nossos problemas, como se fossem verdadeiros agentes messiânicos.[3] Nossas escolas, por sua vez, parecem mais preocupadas em formar militantes do que indivíduos de boa formação intelectual. E, ao fazerem isso, frequentemente defendem bandeiras que não estão alinhadas com a fé cristã, como a desvalorização do casamento, a ideologia de gênero, a abolição da família, entre outros. Outra esfera afetada pela aversão ao cristianismo é a ciência, que  é dominada pelo materialismo filosófico. Este, parte do pressuposto da inexistência de Deus para assim afastar completamente a possibilidade de diálogo entre a “razão” e a fé.[4] Nossa cultura é composta de uma complexa mistura religiosa envolvendo ocultismo, panteísmo e gnosticismo, revelando, na verdade,  uma ausência de identidade que somente encontra sua unidade na rebelião contra Deus e a fé cristã.[5] E, infelizmente, mesmo em algumas igrejas (ou seitas que são chamadas de igrejas), o Cristo é negado.

Sim, o cenário é caótico e desanimador, mas eu acredito sinceramente que Deus pode mudar essa situação, se Ele assim desejar. Acredito ainda que podemos, pela graça e providência de Deus, ser instrumentos do Soberano para transformar a nossa nação em todas as esferas. E só faremos isso se em todos os aspectos de nossas vidas, nós dermos a primazia ao Eterno; se, de fato, nós vivermos para a honra e glória Dele.

No meu último texto escrevi sobre o que os jovens cristãos podem fazer para enfrentar o ambiente hostil de uma universidade anticristã. Dessa vez, pretendo explorar 5 pontos nos quais os jovens cristãos, em minha opinião, deveriam investir para que tenhamos um futuro mais promissor para o nosso país.

1) Ao invés de ser um “treteiro” de Facebook, procure conhecer e sistematizar a sua fé

Como a grande maioria dos jovens de minha geração, eu me considero uma pessoa conectada. Isso quer dizer que acompanho com frequência as redes sociais, sobretudo o Facebook, a fim de me informar a respeito do que anda acontecendo no Brasil e no mundo.

Não nego a importância da internet em nosso tempo e, por isso, não acredito que devamos negligenciá-la. No entanto, tenho visto uma postura crescente, principalmente em meio aos jovens cristãos, de resumir a fé reformada a “tretas” e “memes”, que mais parecem ter o intuito de chamar atenção do que contribuir de alguma forma para a edificação do reino de Deus. Veja bem, reconheço o poder que um “meme” tem de “viralizar” uma mensagem, mas me preocupo quando ele é o principal meio para que muitos formem suas opiniões. De igual forma, me preocupo com os “debates” virtuais, que muitas vezes são marcados por mera troca de ofensas e pouquíssima argumentação séria. Uma fé baseada em  “memes” e “tretas” do Facebook é uma fé superficial e frágil.

A respeito disso, considere comigo um ponto importante. A forma como vemos e interpretamos a realidade ao nosso redor é baseada em nossos pressupostos. Esses são verdades tão óbvias a ponto de não serem passíveis de questionamento. Ou como Ferreira & Myatt (2007) escrevem:

“Pressupostos são as proposições básicas, tomadas como verdade, sem prova anterior, que formam a base para determinar todas as demais proposições que fazem parte da interpretação de mundo daquela cosmovisão.” [6]

Por exemplo, qualquer pessoa que vá interpretar um texto bíblico considera seus pressupostos ao fazê-lo. Se esses pressupostos não são firmados em boa teologia, há uma chance considerável de má interpretação, principalmente se o contexto e a ideia central do texto forem ignorados. De igual forma, é deveras inocente acreditar que alguém consegue interpretar qualquer coisa nessa vida em posição de total neutralidade.

Ora, se os nossos pressupostos são importantes ao ponto de impactarem fortemente nossas conclusões, é fundamental que os conheçamos bem e estejamos bem firmados neles. Caso contrário, cairemos no problema que Ferreira e Myatt (2007) também destacam:

“...não seria exagero dizer que a maioria das pessoas não tem consciência de seus próprios pressupostos e, por isso, são controladas por ideias que nunca chegaram a entender. O resultado é que as pessoas fundamentam a sua interpretação da vida sobre um alicerce equivocado, sem ter a menor noção de que há algo errado.”[7]

Esse cenário pode ser visto com grande clareza no Brasil em vários temas. Podemos observar, por exemplo, crentes socialistas, feminismo evangélico, teologia da libertação e teologia da missão integral e universalismo cada vez mais presentes, em maior ou menor escala, em nossas igrejas, até mesmo nas mais tradicionais, o que mostra um desconhecimento dos pressupostos básicos da fé cristã reformada.

Enfim, precisamos resgatar uma cosmovisão cristã sólida e estarmos bem firmados nela. É fundamental que, ao invés de buscar aprender teologia por meio do Facebook, busquemos estudar com seriedade essas doutrinas fundamentais da fé cristã e da tradição reformada, a fim de que possamos nos proteger dessas heresias. Como nos alerta D.A. Carson, não podemos cair na mentira de que o dogma não importa.

“...é pior que inútil os crentes falarem sobre a importância da moralidade cristã, a não ser sobre os fundamentos da teologia cristã. É mentira dizer que dogma não importa; importa tremendamente. É fatal deixarmos que as pessoas tenham a impressão de que o cristianismo é apenas um modo de sentir; é virtualmente necessário insistir que é primeira e principalmente uma explicação racional do universo. É inútil oferecer o cristianismo como uma aspiração vagamente idealista da natureza simples e consoladora; muito pelo contrário, é uma doutrina dura, firme, exigente e complexa, calcada num realismo drástico e intransigente. É fatal imaginar que todo mundo sabe muito bem o que o cristianismo é e que só precisa de um pouquinho de estímulo para pô-lo em prática. O fato brutal é que neste país cristão nem uma pessoa em cada cem faz a mais nebulosa ideia do que a Igreja ensina sobre Deus, ou o homem, ou a sociedade, ou a pessoa de Jesus Cristo.” [8]

2) Tenha um relacionamento real com Deus

Já falei um pouco sobre isso aqui. Por isso, me limitarei a comentar brevemente um excelente parágrafo do Dr. Lloyd-Jones onde ele aborda a relação entre oração e conhecimento de Deus, que são, a meu ver, os dois pilares de um relacionamento real com Deus.

“A nossa posição fundamental como cristãos é provada pelo caráter da nossa vida de oração. É mais importante que conhecimento e entendimento. Não fiquem imaginando que estou diminuindo a importância do conhecimento. Passo a maior parte da minha vida procurando mostrar a importância de se ter conhecimento e entendimento da verdade. Isso é vitalmente importante. Há só uma coisa mais importante, a oração. Como a teologia é, em última análise, o conhecimento de Deus, quanto mais teologia eu conhecer, mais ela me levará a buscar conhecer a Deus. Não apenas saber algo 'sobre' Ele, mas conhecê-lo! O grande objetivo da salvação é levar-me ao conhecimento de Deus. Posso falar doutamente acerca da regeneração, todavia, que é a vida eterna? É 'que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste' (João 17:3). Se todo o meu conhecimento não me leva à oração, há algo errado nalgum lugar. É o que lhe cabe fazer. O valor do conhecimento é que me dá tal entendimento do valor da oração que eu dedico tempo à oração, e o faço com prazer. Se o conhecimento não produz estes resultados em minha vida, há algo errado e espúrio em torno disso, ou então eu o estou conduzindo erradamente.” [9]

Se, por um lado, acusei acima que nosso conhecimento da fé reformada é muito superficial e deveríamos nos preocupar com isso a ponto de estudarmos (muito!) mais, por outro preciso reiterar que o real conhecimento nos aproxima de Deus e não nos faz cair em uma postura arrogante e altiva. Portanto, se você está descobrindo agora a fé reformada e/ou o calvinismo, não se porte como se você fosse um doutor em todos os assuntos ou como se você tivesse autoridade de juiz para condenar quem pensa diferente de você só porque você leu um punhado de livros. A nossa intelectualidade também pode se transformar em um ídolo. Lembre-se que o verdadeiro conhecimento de Deus te aproxima d'Ele e vem sempre acompanhado de humildade.

3) Vá além do estudo teológico

Francis Schaeffer, no seu clássico livro O Deus que intervém, explica logo no primeiro capítulo como chegamos ao mundo bizarro de hoje. De acordo com ele, mudanças graduais nos levaram ao estágio atual, iniciando-se com a filosofia e atingindo, por fim, a teologia. Ele nos apresenta uma escada, um passo a passo chamado por ele de “linha do desespero”, para mostrar como isso se sucede:

Figura 1: a famosa linha do desespero de Schaeffer. [10]

Você já parou para se perguntar por que as obras de arte da atualidade são horrendas, salvo raras exceções? Ou, por que a música atual tem qualidade, tanto poética quanto harmônica, cada vez menor? Ou, ainda, por que nosso país se torna cada vez mais imoral? Por que a ciência se rebelou contra Deus? Por que a teologia liberal, em todas as suas vertentes, conquistou o coração das massas com tanta facilidade em nossa nação? Tudo isso tem a ver com os pressupostos. Se negarmos, por exemplo, a existência de Deus e fizermos disso um pressuposto, poderemos negar também a existência de absolutos, o que significa que não há mais padrão objetivo para a beleza de uma obra de arte ou música, não há mais um padrão objetivo para julgar a moralidade, a Bíblia e os dogmas centrais da fé cristã perdem a sua força e qualquer um pode crer no deus que bem entender, até mesmo em um deus que vai salvar todo mundo, pois a verdade já não existe mais.

Penso que uma boa formação cristã precisa abordar todos esses pontos citados por Schaeffer, principalmente a filosofia, e relacioná-los com a teologia. Isso é relevante, tanto para a defesa de nossa fé, quanto para a formação de uma sociedade calcada em uma cosmovisão cristã. Quem sabe se começarmos a investir em nossa cultura hoje, poderemos, no futuro, servir a Deus com boa literatura, boa música, boa poesia, boa política, boa ciência? Não podemos nos omitir em nenhum desses setores.

4) Se preocupe com ação social

A ação social é um valor importantíssimo para os cidadãos e para a igreja. Bem diferente do que diz o marxismo, que faz do Estado o grande benfeitor social, a palavra de Deus nos estimula a termos o protagonismo nessa área, fazendo “o bem a todos, principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).

Dessa forma, atribuir ao Estado essa função é simplesmente deixar de cumprir uma ordenança bíblica. O descuido nesta área, inclusive, abre ainda mais espaço para o avanço da ideologia marxista, visto que a igreja e os cristãos não tem cumprido o seu papel como deveriam.

Falando sobre como os puritanos viam a ação social, Ryken escreve:

“A ação social puritana era baseada numa teologia do pacto, que requeria das pessoas que buscassem o bem comum da comunidade e que via as boas obras como um ato inevitável de gratidão pela salvação de Deus... A ação social puritana era principalmente voluntária e pessoal, em vez de governamental ou institucional.” [11] (grifo meu)

Os puritanos viam a ação social sob a ótica do que chamavam bem comum. Isso incluía, além da caridade direta, a geração de empregos e a capacitação do mais pobre. Richard Baxter, por exemplo, empreendeu com sucesso um programa para capacitação dos mais pobres ao trabalho têxtil [12] e Richard Stock afirmou:

“Esta é a melhor caridade, aliviar os pobres ao fornecer-lhes trabalho. Beneficia ao doador tê-los a trabalhar; beneficia a comunidade, que não sofre parasitismos, nem nutre qualquer ociosidade; beneficia aos próprios pobres.” [13]

Dessa forma, seja prestando auxílio direto (financeiro ou material), na geração de empregos ou na capacitação dos mais pobres, a ação social é nossa responsabilidade, enquanto indivíduos e enquanto igreja. Não devemos terceirizar isso ao Estado.

5) Seja um exemplo de dedicação e honestidade em seu trabalho

Jovens estão, no geral, ingressando no mercado de trabalho. E é bem provável que enfrentemos situações que nos pressionarão ao erro, ao famoso “jeitinho brasileiro”. O cristão deve ter postura santa também no seu trabalho (e em todas as esferas de sua vida), executando bem a sua função e procedendo com honestidade e honra. Veja o que dizem, respectivamente, Cotton Mather e John Cotton a respeito disso:

“Um cristão deveria ser capaz de prestar boa conta não somente do que é sua ocupação, mas também do que é na sua ocupação. Não é bastante um crente ter uma ocupação; ele deve cuidar de sua ocupação como convém a um crente.” [14] (grifo meu)
“Um homem, portanto, que serve a Deus no serviço aos homens... faz seu trabalho como na presença de Deus, como quem tem uma ocupação celestial em mãos, e, por isso, confortavelmente, sabendo que Deus aprova seu caminho e trabalho.” [15]

Precisamos resgatar essa visão puritana a respeito do trabalho e coloca-la em prática em nossa nação. Ser um funcionário (ou patrão) honesto, honrado e que dá o seu melhor é também uma forma de glorificar e honrar a Deus.

Conclusão:

O caminho para uma transformação em nosso país passa, a meu ver, por esses cinco pontos. Há outros, claro, e você pode citá-los nos comentários, se desejar, mas acredito que honrar a Deus nesses cinco seja o grande desafio para nós, jovens cristãos brasileiros.

Que Ele nos abençoe!