terça-feira, 5 de junho de 2012

Como podemos ser responsabilizados por nossa própria inabilidade?

Como podemos ser responsabilizados por nossa própria inabilidade? - OK, antes de eu sair para um intervalo de duas semanas, eu comecei uma série sobre a doutrina da depravação total na qual eu propus lidar com as seguintes perguntas: Em que sentido a depravação é total? Como podemos ser responsabilizados por nossa própria inabilidade? Como herdamos a pecaminosidade de Adão? Há um antídoto para a depravação humana? Hoje consideraremos a segunda dessas perguntas. A Confissão de Westminster declara a doutrina de depravação total nestes termos: "O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso." (Cap. IX, seção 3). "Em outras palavras, os pecadores não têm nenhuma habilidade para fazer bem espiritual que mereça o favor de Deus ou Seu perdão. Eles são completamente antagônicos à verdadeira retidão." Cada elemento desta declaração é crucial. Note precisamente que tipo de inabilidade é descrita aqui. Não é uma inabilidade para fazer coisas boas. É uma inabilidade para "qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação". Em outras palavras, os pecadores não têm nenhuma habilidade para fazer bem espiritual que mereça o favor de Deus ou Seu perdão. Eles são completamente antagônicos à verdadeira retidão. Eles estão desesperadamente em escravidão ao pecado. Eles não podem salvar-se ou até mesmo tornar-se adequados à salvação de Deus. Eles não têm nenhum apetite pela verdade espiritual, nenhuma habilidade para entendê-la. Portanto, eles não têm a menor possibilidade de acreditar na verdade ou apropriar-se da salvação por quaisquer meios. Em João 8:44, Jesus disse aos Fariseus: " Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos". Os desejos deles eram corruptos, e era uma corrupção que emanava do próprio núcleo da sua natureza. Jesus disse que eles eram como o diabo. Ele continuou dizendo: "[O Diabo] jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira". A implicação é: Vocês estão no mesmo barco. Na verdade, ele estava dizendo àqueles fariseus: É da natureza de vocês serem maus. Não há nenhuma forma de fazer com que você se torne alguém que você não é. "Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal." (Jeremias 13:23) "Nossa vontade é livre para escolher de acordo com nossos desejos, mas não é livre para determinar esses desejos." Neste ponto, alguns leitores perguntarão: "Se as coisas são assim - se nós somos pecadores por natureza, totalmente incapazes de ser outra coisa – como pode um Deus justo considerar-nos responsáveis por isso? Não seria justo ordenar a um paraplégico que ele corresse a maratona e depois castigá-lo porque ele é incapaz de fazê-lo, seria?" Mas a nossa inabilidade não é a inabilidade de um paraplégico; é uma inabilidade da vontade. Nossa inabilidade não procede de uma falta de faculdades físicas, racionais, ou cognitivas. Procede de uma inclinação moral errada – uma vontade que está firmemente posicionada contra a verdade e que não tem nenhuma inclinação para desejar de outra forma. Todas as nossas faculdades - nossas mentes, emoções, e vontades – funcionam muito bem. Isto é, nós podemos pensar, agir e escolher livremente de acordo com qualquer dos nossos próprios desejos e motivações. Mas este é precisamente o problema: nossos desejos e motivações são exatamente as coisas que o pecado corrompeu. Nossos desejos são defeituosos. Assim a própria vontade está inclinada contra a retidão. Nossa corrupção é, portanto, uma depravação deliberada. É um defeito moral, e não o tipo de inabilidade que impede um paraplégico de correr uma corrida. A depravação inclina a vontade de um pecador caído para amar o pecado, de forma que a retidão de Deus torna-se moralmente repugnante. O pecador torna-se incapaz de amá-lO, incapaz de escolher obedecer à Sua lei. É um defeito moral e, portanto, o próprio pecador é moralmente culpável. Mas a vontade humana não é livre? Em um sentido ela é, mas no sentido normalmente empregado pelas pessoas e que faz com que os mais liberais usem a expressão "livre-arbítrio", a vontade não é livre. Ela está escravizada pelo pecado. "Portanto nossa inabilidade não é nenhuma desculpa para nossa pecaminosidade. É precisamente o oposto. É a própria razão porque estamos condenados." Nossa vontade é livre para escolher de acordo com nossos desejos, mas não é livre para determinar esses desejos. Nossa vontade é livre no sentido de que nossas escolhas não são forçadas sobre nós ou compelidas através de pressão externa. Mas nossa vontade não é "livre" no sentido de ser soberana sobre a nossa natureza moral. Nós não podemos, por um ato da vontade, mudar nosso caráter para melhor. Esse é o ponto enfatizado em Jeremias 13:23: O pecador tem exatamente a mesma habilidade para transformar seu próprio coração e fazer com que este faça o bem que o leopardo tem de remover suas manchas. Em outras palavras, a depravação corrompe o nosso coração e perverte todos os nossos apetites. Ela inclina a nossa natureza de tal forma que passamos a amar o pecado. Desejos maus, então, governam as escolhas que fazemos. E já que nós fazemos essas escolhas livremente e com grande satisfação, nós somos culpados por elas. Portanto nossa inabilidade não é nenhuma desculpa para nossa pecaminosidade. É precisamente o oposto. É a própria razão porque estamos condenados. O pecado flui do próprio centro de nossas almas. O coração daquilo que somos é mau. Nós somos "por natureza, filhos da ira" (Efésios 2:3). É por isso que nós fazemos coisas más. Disse Jesus: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem." (Marcos 7:21-23) Em outras palavras, nós não somos pecadores porque pecamos; nós pecamos porque somos pecadores. Nós nascemos pecadores, e todos os nossos atos de pecado procedem desse fato. Isso traz à tona a terceira pergunta com a qual nós lidaremos da próxima vez.

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