terça-feira, 31 de março de 2020

O ser humano - "Lousa em branco" ??? - O que temos aqui?

(Ef 2:1–3; Rm 3:10–12) -

   Toda religião e filosofia humana no mundo, exceto o Cristianismo bíblico, têm sustentado que o homem é basicamente bom e
aperfeiçoável através de seus próprios esforços. O filósofo Inglês do século
dezessete John Locke (1632–1704) acreditava que o homem nascia como
uma lousa em branco (“tabula rasa”) de inocência. Jean Jacques Rousseau
(1712–1778), o filósofo francês do século dezoito, acreditava que o homem
era bom, assim iniciando a filosofia humanista que coloca o homem antes de Deus. Ele disse, “o Homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. O Islamismo ensina que todos são nascidos puros (de “musselina” - tecido leve
e um pouco transparente, que serve para vestuário) e naturalmente bons até
que sejam desviados pelo ambiente. O Homem é visto como aperfeiçoável
através do ser corretamente guiado e lembrado da unidade de Alá.

   Contudo, apenas através da revelação de Deus, como encontrada na Bíblia, é que podemos entender a total depravação do homem, que mostra
ser ele totalmente incapaz de salvar a si próprio ou de fazer qualquer obra
meritoriamente boa com respeito à sua salvação. Essa é uma verdade
redescoberta na Bíblia durante a Reforma que transformou a Europa no século dezesseis e tem impactado o mundo desde então. Infelizmente, nos tempos modernos, os ensinamentos prejudiciais do Arminianismo têm tido um papel predominante na maioria das igrejas protestantes, na medida em
que estas se tornam mais antropocêntricas que teocêntricas. Esses ensinamentos foram largamente popularizados através do movimento Wesleyano e dos acampamentos reavivalistas da América do século
dezenove por pregadores como Charles Finney. Que, por sua vez, influenciaram as denominações e sociedades missionárias que enviaram missionários para fundar igrejas protestantes ao redor do mundo.
Então, com a ascensão da teologia liberal, a pecaminosidade do homem foi minimizada, enquanto pensava-se que o progresso social, a educação e o desenvolvimento do potencial humano fossem trazer uma sociedade ainda mais progressista de amor, justiça, igualdade e fraternidade.
   Com as grandes guerras do século vinte e a horrenda destruição e morte devido às lutas entre as chamadas nações “cristãs”, essa aspiração desapareceu em larga escala.
Apesar disso, as pessoas continuaram a pensar que poderiam prosseguir pelas suas próprias forças, apenas com uma pequena ajuda de Deus no caminho. Na teologia da libertação, popular na América Latina, foi
adotada uma visão marxista da sociedade. Sob esse ponto de vista, o homem
não é visto como totalmente corrompido pelo pecado, mas como um povo que fora oprimido economicamente. A isto é atribuída a corrupção e o pecado estrutural na sociedade. Pela liberação dos mestres opressores, as
pessoas estariam livres para desenvolver a si mesmas e a transformar a sociedade existente numa sociedade de igualdade e justiça. O que ocorre inevitavelmente é que, quando os oprimidos chegam a uma posição de
poder, eles se tornam também opressores. Isso porque o coração humano não foi transformado apenas através de uma mudança na dinâmica social.
   Mas, graças a Deus, está ocorrendo uma mudança nessa maré nas igrejas que buscam ser fiéis às Escrituras de acordo com um entendimento do evangelho como totalmente obra de um Deus soberano. A Bíblia
claramente nos diz que o homem não tem nada a contribuir para a sua
salvação. Ela é um dádiva de Deus (Efésios 2:8, 9).

I. Contexto Histórico

   Em 1619, um grupo de teólogos publicou um documento com cinco capítulos que fora escrito em resposta a cinco pontos de protesto de discípulos de um professor de seminário na Holanda chamado Tiago
Armínio (1560–1609). Um Sínodo nacional foi chamado para responder a Representação (protesto). Oitenta e quatro membros e 18 comissários seculares vieram, não só da Holanda, mas da Alemanha, Bavária, Suíça e
Inglaterra. Eles se reuniram por sete meses e formularam o que ficou conhecido como os Cinco Pontos do Calvinismo, em homenagem ao reformador João Calvino (1509–1564), o qual expusera essas doutrinas no século anterior. O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido sustentadas por praticamente todos os reformadores e pelo Pai da Igreja Agostinho de Hipona (354–430 D.C.), mil e duzentos anos antes.
   Os líderes da Reforma do século dezesseis eram da mesma opinião de Agostinho no sentido de que o homem é totalmente depravado e arruinado em seu estado natural separado da Graça de Deus. Todos os reformadores dos primórdios eram unânimes em sua visão de que o homem era
completamente impotente em seu estado de pecado e totalmente dependente da soberania de Deus para a salvação. O ponto para os
reformadores não era apenas se Deus era o autor da justificação, mas de fé.
A questão em tela era até onde o Cristianismo era um relacionamento com Deus que dependia unicamente de Deus para a salvação e tudo mais, ou de nossa auto-confiança e auto-esforço. Crítico para a determinação da resposta a essa questão era ter um correto entendimento da natureza do homem e de
sua capacidade ou carência decorrente dessa condição. Assim, o primeiro ponto dos líderes da igreja que se encontraram no Sínodo de Dort na Holanda em 1618–1619 para responder aos Arminianos era relativo ao
pecado e seus efeitos na natureza humana.    Essa doutrina é determinante para as doutrinas seguintes. Uma vez que todos os cinco pontos do calvinismo são realmente inseparáveis. Todos eles ensinam que Deus salva pecadores. Pecadores não salvam a si próprios de nenhuma forma, nem
dividem a glória da salvação com Deus. A Ele apenas seja toda glória. Amém.

II. Morte em Pecado

   Assim que Paulo começa a explicar para os efésios os passos pelos quais Deus irá cumprir o Seu propósito de salvar Seus eleitos, ele lembra a eles do estado em que se encontravam antes de serem feitos vivos em Cristo pela sua graça. “Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados...” (Efésios 2:1). Paulo está falando aqui de nosso estado espiritual antes de sermos nascidos de novo. A fim de nos tornarmos vivos, saindo da morte
no pecado, devemos nascer dos céus pelo Espírito de Deus, através da lavagem pela Palavra de Deus (João 3:5; 1 Coríntios 6:11; Efésios 5:26).
   Nossa condição de morte espiritual é o que herdamos dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Deus os criou retos e bons, com um
relacionamento correto com Ele. No Jardim do Éden, Deus plantou a árvore do conhecimento do bem e do mal e ordenou ao homem, “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16, 17). Adão e Eva intencionalmente desobedeceram o SENHOR e comeram da árvore. Depois de serem enganados por Satanás e comerem do fruto proibido, eles caíram de seu caminho com Deus em
morte espiritual, e, conseqüentemente, morte física.
   Adão era o líder federal ou representativo para toda a raça humana.
Sua queda em pecado significou que toda a sua posteridade iria herdar uma natureza pecaminosa. Isso pode ser comparado a quando um jogador de futebol (americano) sai de campo, todo o time é penalizado. O pecado singular de Adão penalizou toda a humanidade. Paulo explica aos romanos
como isso aconteceu. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram...” (Romanos 5:12).
   Pode-se comparar o pecado de Adão para a raça humana a como alguém colocando
veneno em um recipiente de água pura. Daquele momento em diante, toda porção da água se tornou venenosa de forma que é impossível obter até mesmo uma pequena porção de água pura do recipiente.       Similarmente, o ato singular do pecado de Adão poluiu a corrente sangüínea da raça humana com o pecado desde o momento da concepção.
   Essa verdade fica evidente através das Escrituras. O rei Davi confessou a Deus após ser confrontado pelo seu adultério dizendo, “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).
   Sua natureza pecaminosa vinha do que ele era e havia sido desde o nascimento. Davi também expressa isso no Salmo 58 “Desviam-se os
ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindomentiras.” (Salmos 58:3). Jó (14:4) e seus dois amigos Elifaz e Bildade (25:4–6) expressam que o homem não é puro. Elifaz diz “Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe a iniqüidade como a água!” (Jó 15:14–16). Paulo diz mais na passagem de Efésios 2 “e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Efésios 2:3). Em outras palavras, nossa condição espiritual não decorre do
que fizemos, mas decorre do que somos naturalmente, desde o nascimento.
Isso significa que a única maneira de escaparmos da condição de morte espiritual em que nos encontramos é que Deus se curve em misericórdia e radicalmente nos transforme, através de um novo nascimento. Jesus disse ao líder religioso Nicodemos “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no
reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (João 3:5-7). Anteriormente João aponta que aqueles que acreditam
no nome de Jesus “deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:12,
13). Em outras palavras, essa transformação em uma vida nova ocorre somente pelo poder e vontade de Deus.
Entre aqueles que sustentavam uma posição arminiana, incluindo católicos romanos e ortodoxos, eles viam o homem como uma pessoa se afogando no mar. Ele está batendo seus braços e pernas, tentando manter
sua cabeça fora d’água. Ele precisa de ajuda; seus pulmões estão se enchendo de água, mas ele ainda está vivo e capaz de fazer algo para ajudar a si mesmo. Jesus aparece em um bote e joga ao homem afogando um salva-
vidas. O homem alcança e segura o salva-vidas por sua própria fé e força.
Então, Jesus o puxa seguramente para o bote, que segue para a vida eterna.
   Os calvinistas bíblicos vêem o homem estando totalmente afogado e morto no fundo do mais profundo oceano. Ele tem um coração petrificado, feito de pedra. Ele não pode ver Jesus vindo para salvá-lo porque ele está
morto e totalmente cego para essa dimensão espiritual. Assim como Jesus chamou Lázaro para se levantar da sepultura após estar morto por quatro dias, da mesma forma ele dá nova vida para nossos pútridos corpos mortos.
   Em Seu grande amor e misericórdia Ele nos chama para uma ressurreição em que nós ouvimos Sua voz porque fomos levantados para a vida, apesar de antes estarmos mortos. Então, nós não podemos dizer que tivemos
qualquer parte em nossa salvação, mas que ela foi totalmente de Deus. Pois somente Deus salva os pecadores. Como Paulo explica aos colossenses “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos” (Colossenses 2:13).

III. Escravos do Pecado

   Tendo nascido com uma natureza pecaminosa, nós continuamente
possuímos uma tendência a ter pensamentos maus, falar palavras más e ter atitudes más. Na realidade, isto é tudo o que temos capacidade de fazer aos olhos de Deus, porque nós somos escravos do pecado e cativos do poder de Satanás. Não é que ninguém faça boas obras. Todos nós fazemos obras relativamente boas. Até mesmo o pior criminoso que possamos imaginar
poderá fazer algumas obras relativamente boas. Ele pode amar sua mãe e dar
doces para as crianças vizinhas. O chefe local da máfia pode auferir milhões de dólares do tráfico de drogas em uma vizinhança pobre levando à ruína várias famílias e à morte de várias pessoas. Contudo, quando ele dá perus de graça na época do Dia de Ações de Graça para famílias em albergues ele é
louvado e suas boas ações são publicadas nos jornais locais.
Qualquer boa obra que fazemos é, na realidade, obra pecaminosa perante Deus a menos que nós as façamos com a correta motivação de darmos glória a Deus e não ao nosso próprio orgulho. Como Isaías diz
“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” (Isaías 64:6). Deus está
dizendo que nossas boas obras são como trapos manchados pela sujeira da
menstruação de uma mulher. O Catecismo de Heidelberg dá uma boa definição para “boas obras”: Somente aquelas que são feitas através da verdadeira fé, de acordo com a lei de Deus e para a Sua glória” (Resposta
91). Edwin Palmer explica isso dizendo “De acordo com o Catecismo, três elementos são necessários para se fazer verdadeiras boas obras: fé verdadeira, obediência à lei de Deus e motivo apropriado. Uma obra relativamente boa, por outro lado, pode ter a correta aparência externa, mas não ser executada através de fé verdadeira ou para a glória de Deus. Assim, não-cristãos podem executar ações relativamente boas, apesar de eles
mesmos estarem totalmente em depravação”.
 
   Total depravação não quer dizer que nós somos tão perversos quanto possível. Ninguém pode pecar todo o pecado que seria possível. Jesus reconheceu que mesmo os perversos podem fazer o bem, quando disse “Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os
pecadores fazem isso” (Lucas 6:33). É através da graça comum de Deus que Ele restringe a maldade em todos (2 Tessalonicenses 2:7) e possibilita que eles possam fazer o bem relativo. Mas mesmo o incrédulo reconhece a
pecaminosidade do homem. “Um velho provérbio chinês afirma: ‘Existem
dois homens bons – um está morto e o outro ainda não nasceu’”.
   Paulo relembra os cristãos efésios de sua condição anterior dizendo “nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência” (Efésios 2:2).Ele está dizendo que eles estavam vivendo nas garras de Satanás, no controle de suas vidas. Jesus disse aos judeus que se opunham a ele “Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (João 8:34). E Ele continuou dizendo “Vós
sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos.” (João 8:44). Aqueles escravizados pelo pecado estão sob o controle de Satanás.
   Essa é a condição de cada um de nós antes de reconhecermos Cristo como Senhor pela fé. Como a epístola de João diz “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 João 5:19).

IV. Objetos da Ira de Deus

   Nosso pecado não é algo com que Deus “pega leve”. Não, nosso
Deus é um Deus santo que não pode simplesmente olhar sobre o pecado ou
tê-lo em Sua presença. Como o profeta Habacuque diz, “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente...” (Habacuque 1:13). Sendo um Deus de justiça, o pecado deve ser punido. Todos nós merecemos ir para o
inferno. Paulo explica como os cristãos efésios viviam “entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza,
filhos da ira, como também osdemais” (Efésios 2:3). A ira de Deus é contra nós até mesmo pela nossa natureza pecaminosa. Pois tudo deve ser feito para a Sua glória somente. Desde o nascimento nós falamos mentiras e
procuramos somente o nosso bem-estar. A Escritura nos diz que “se, de fato, é justo para com Deus ... quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os
que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho)” (2 Tessalonicenses 1:6–10).

V. Reino Universal do Pecado

   Quando Paulo expõe aos Romanos o porquê de precisarmos da retidão de Cristo para cobrir nossos pecados ele cita os Salmos 14 e 53,
dizendo “Não há justo, nem um sequer;
 não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Romanos 3:10, 11).
Esta citação primeiramente declara que não há ninguém justo aos olhos de Deus. Segundo, ninguém entende o que é bom. Terceiro, todos são incapazes mesmo de procurar a Deus. Vamos expandir um pouco esses pontos. Outra forma de descrever nossa depravação total é como esta sendo uma total incapacidade. Isso significa que o homem é incapaz de fazer o bem, de entender o que é bom ou até mesmo de desejar o que é bom.
   Primeiro, todos são pecadores e necessitam da graça de Deus, já que ninguém é justo. A pecaminosidade do homem espalhou-se por toda a raça humana desde a queda de Adão. Como Paulo disse “... pela desobediência
de um só homem, muitos se tornaram pecadores” (Romanos 5:19). Essa
pecaminosidade infiltrou-se na raça humana mesmo antes da entrega da lei a Moisés. Antes do Dilúvio “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis 6:5). Mesmo logo depois do Dilúvio, o SENHOR
disse do homem “porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade” (Gênesis 8:21). Jesus nos ensinou que é do coração que procede toda forma de pecado (Marcos 7:20–23). “Nada sai do corpo físico do homem que seja agradável de olhar ou agradável de cheirar. Da mesma
forma que não existe nada que saia do coração do homem que seja agradável
a Deus (para a salvação).” Adiante, em Romanos 3, Paulo nos disse “não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (v. 12).

VI. Mentes Obscurecidas pelo Pecado

   Segundo, ninguém entende o bem. Não só todos os homens são mortos no pecado e escravos dele, mas suas mentes estão obscurecidas pelo pecado. O homem não-regenerado não tem entendimento das coisas de Deus. Tais coisas são loucura para ele. Paulo declara que os não regenerados
estão “obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração” (Efésios 4:18). No que diz respeito aos judeus descrentes, Paulo diz que “... os sentidos deles se embotaram” e “o véu está posto sobre o coração deles” “... Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado (2 Coríntios. 3:14–16).
   O Evangelho de João descreve a vinda de Jesus ao mundo como a vida que dá luz aos homens. Seu prólogo diz “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (João 1:5). Adiante, ele diz que o
“Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu [o povo Judeu], e os seus não o receberam” (João 1:10, 11). O problema que Jesus encontrou não estava em sua apresentação, seu estilo ou suas habilidades de comunicação.
   Ninguém teria feito melhor trabalho em comunicar a verdade. Pelo contrário, eram os duros e descrentes corações que eram incapazes de entender a verdade. Jesus disse aos judeus “Se vos digo a verdade, por que
razão não me credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus” (João 8:46–47).
   João explica porque corações duros e obscurecidos de descrentes evitam a luz da verdade de Deus. “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras
eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque
feitas em Deus.” (João 3:19-21).
Como Paulo falou do poder e da glória da cruz de Cristo aos coríntios, ele explicou porque muitos a rejeitaram: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). Adiante, ele diz “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14). O
cientista e filósofo Francês Blaise Pascal (1623–1662) disse: “Existem apenas
dois tipos de homens: os justos, que se acreditam pecadores; e o resto,
pecadores, que se acreditam justos”.
   Existem vários teólogos e pastores que passam a maior parte de suas vidas estudando a Bíblia, sem, contudo, nunca terem acreditado nela. Eles não podem acreditar porque o Espírito de Deus não regenerou seus
corações. Eles podem ser capazes de explicar acuradamente o evangelho e as verdades da Bíblia e ainda rejeitá-las como mitos e estórias criadas para explicar eventos não entendidos antes da nossa era científica. E apenas pelo
poder e iluminação do Espírito Santo é que uma pessoa pode entender as profundas verdades do Evangelho.

VII. A Incapacidade do Homem de Se Arrepender e Acreditar

   Terceiro, nós somos totalmente incapazes de até mesmo procurar a Deus. Como Paulo diz, “Não há quem busque a Deus”. De fato, o homem odeia a Deus e o que Ele representa. O homem odeia o bem e não se importa. É necessário um miraculoso trabalho de Deus para uma pessoa chegar à fé salvadora. Como Jesus disse, “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer...” (João 6:44). Um pouco depois, Jesus repetiu o mesmo pensamento dizendo “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (João 6:65). Isso quer dizer que ninguém pode
escolher seguir Jesus. Todas as pessoas estão atadas ao pecado.
   A vontade é livre para escolher o que acha melhor, mas o que ela naturalmente pensa como melhor é não buscar ou escolher Deus. O homem natural não quer se submeter e servir a Deus. Ele rejeita a soberania de Deus
em sua vida. Ele pensa que a felicidade da satisfação na vida não é encontrada na justiça de Deus. Apesar da vontade do homem ser livre para escolher “Provai e vede que o SENHOR é bom” (Salmos 34:8), ele “odeia” o gosto do “pão vivo que desceu do céu” (João 6:51). A vontade do homem natural está atada pelas correntes do pecado, o que afeta seu entendimento e visão. Por que o homem natural não poder ir a Deus? Como Jeremias disse, “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Só aqueles que primeiramente têm a obra do Espírito de Deus em seu coração são capazes
de ir para Jesus. Assim que Paulo falou a um grupo de mulheres que se juntaram em Filipos, próximo a um rio, Lídia veio a crer.    Nos é dito que “O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos
16:14, grifamos). Ela não abriu o seu coração. Deus é que o abriu.
Jeremias, que era bom amigo do africano Ebede-Meleque, o qual havia lhe salvado das profundezas pantanosas de uma cisterna com uma corda (Jeremias 38:7-13), usou o homem negro para ilustrar uma verdade espiritual:

“Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele
ou o leopardo, as suas manchas?
Então, não poderíeis fazer o bem,
estando acostumados a fazer o mal.” (Jeremias 13:23).

   A questão retórica colocada por Jeremias confirma o fato de que é impossível para qualquer um mudar de uma vida de pecado para fazer o bem, quanto mais alcançando justiça perante Deus. O grande pregador
inglês do século dezenove Charles Spurgeon descreve isso da seguinte forma:

…Você não poderia tornar um homem negro em branco, apesar de você poder tornar um homem branco em negro.
Você pode fazer o que quiser por meio de corrupção, mas você não pode fazer nada através de correção. Você pode se fazer
sujo pelo pecado, mas você não pode se fazer limpo espiritualmente por si mesmo, faça o que fizer. Existe uma facilidade em ir para baixo; você pode pular para dentro de um
precipício bastante rápido, mas quem poderia ficar ao fundo de um alto despenhadeiro e saltar para o topo de um só pulo? O homem pode descer contra sua vontade, mas ele não pode subir mesmo com sua vontade. Você pode fazer o mal muito facilmente, você pode fazê-lo com as duas mãos, gananciosamente e faze-lo de novo e de novo e não se cansar
dele; mas retornar ao caminho correto, isso é difícil.
   O que pode o homem fazer para mudar a sua natureza e se fazer um novo homem? Nada! Ouvir sermões, ir à igreja, dar dinheiro aos pobres e ajudar uma viúva a consertar o seu teto vazando, não vão mudar o coração de um pecador. Todos os meios aparentes de que alguém possa se utilizar serão inúteis. É somente a obra do Espírito de Deus que pode mudar um coração frio de pedra em um coração de carne que responde ao chamado de Deus.
   O homem continuamente pensa que ele deve fazer algo para contribuir para sua salvação. Mesmo aqueles que reconhecem que a salvação é pela graça de Deus, ainda pensam que são eles quem escolhem Deus e são eles que contribuem com a fé para acreditar.

   A questão que enfrentamos com relação
ao ponto da depravação total ou extrema, é expressa por Edwin Palmer da seguinte forma:

É Deus sozinho o autor da salvação ou também a fé? Deus contribui com o sacrifício substituinte de Cristo e o homem contribui com a sua fé? Ou a fé é também um dom de Deus (Efésios 2:8)? A salvação depende parte de Deus (a entrega de Cristo na cruz) ou totalmente de Deus (a entrega de Cristo na
cruz para morrer por nós além de nos dar a nossa fé)? O homem mantém um pouquinho da glória para si mesmo – a capacidade de acreditar? Ou toda a glória vai para Deus? O
ensinamento da depravação total é que Deus leva toda a glória e o homem nenhuma.

VIII. Aplicação

   O que nós aprendemos pelo ensinamento de nossa depravação total é uma explicação para todos os problemas que encontramos em nosso mundo de ódio, guerra, pobreza, ganância, drogas, promiscuidade sexual, rebelião e anarquia. Mesmo se todo o mundo se convertesse, não seriam resolvidos
todos os nossos problemas, uma vez que os cristãos ainda são pecadores.
Mas nós vemos que o Evangelho nos leva a resolver os problemas no mundo até que Jesus venha, quando todas as coisas serão renovadas.
   Em segundo lugar, nós aprendemos que estamos em uma condição terrível em nossa própria depravação. Isso nos dá uma noção da urgência de buscar a Deus. Nós percebemos que não há esperança longe da graça
sobrenatural e imerecida de Deus. Isso deveria nos levar a apelar a Deus por misericórdia. Nós deveríamos chamar a Jesus para nos salvar de nossa condição miserável.
   Em terceiro lugar, sabemos agora que se nós buscamos a ajuda e a misericórdia de Deus é somente porque Deus primeiramente começou a obra de seu Espírito em nossos corações para chamar por Ele. “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Filipenses 2:13).
Em quarto, o entendimento da total depravação do homem tem um impacto em várias decisões feitas em casa, na escola, na política pública e no governo. Nosso entendimento da natureza pecaminosa básica da humanidade afeta como devemos educar nossas crianças. Isto afeta diretrizes com respeito ao crime e à punição. A depravação da humanidade influenciou fortemente os autores da Constituição dos Estados Unidos a
desenvolver um sistema de controle e avaliação nos três ramos do governo
(executivo, legislativo e judiciário), sabendo que existe uma contínua tendência do homem em buscar subjugar outros, se permitido.
   Mas no coração dessa doutrina está a necessidade de nós entendermos que estamos totalmente falidos perante Deus. Se mantivermos a idéia de que temos alguma capacidade espiritual, ainda que pequena, não vamos nos preocupar nunca com a nossa condição espiritual. Geralmente nós pensamos que temos uma longa vida para viver e que ainda há tempo para acreditar em Cristo mais tarde. Mas ao conhecermos nossa real
condição de estarmos mortos no pecado, estaremos em desespero e procurando por Cristo. Nós vamos sentir uma urgência em nos arrependermos e acreditarmos Nele. Pois nós não temos mérito em nós mesmos para oferecer a Deus e recebermos a salvação. A salvação vem de Deus somente, através de Cristo somente, pela graça somente, através da fé somente que nos é dada como um dom de Deus, para a glória de Deus somente. Aleluia! Amém.

Ação de Graças:

“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto
pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.
Amém!” (Efésios 3:20, 21).

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