quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ação Social Puritana - Parte 3

Ação Social Puritana - Parte 3 - Nenhum Povo Pequeno: A Tendência à Igualdade no Puritanismo Apesar de toda sua ênfase na comunidade, o Puritanismo também é conhecido como um movimento que defendia o individualismo. A base teológica desse individualismo era o sacerdócio de todos os crentes. Este individualismo não era o humanístico da Renascença, o qual era uma forma de auto-realização baseada na bondade inerente em cada pessoa. Era ao invés disso um "individualismo... para o homem comum". Este individualismo pode ser visto no impulso "nivelador" dos Puritanos de tratar todas as pessoas como iguais diante de Deus e proteger a importância de cada indivíduo. Para ilustrar, considere as seguintes declarações representativas que cobrem uma variedade de situações: A pessoa mais desprezada na região deve ser tratada como se fosse um irmão do rei e membro-companheiro com ele no reino de Deus e de Cristo. Que o rei, portanto, não se considere bom demais para prestar serviço a tais pessoas humildes. O mais pobre lavrador é em Cristo igual ao maior príncipe. Nenhum homem deverá firmar-se no seu nascimento ilustre, ou gloriar-se em seu parentesco pela nobreza e pelo bom sangue, mas apenas regozije-se nisto: que foi retirado do reino das trevas. Um povo não é feito para regras, mas regras para um povo. Todos os cristãos... são feitos sacerdotes igualmente para Deus; e assim não há entre eles clero ou laicato, mas os ministros são aqueles escolhidos pelos cristãos...; eles não têm nem direito nem autoridade alguma neste ofício, senão pelo consentimento da igreja. "O mais pobre lavrador é em Cristo igual ao maior príncipe." Todas estas frases tendem na direção de pôr as pessoas em pé de igualdade, especialmente em assuntos espirituais. Todas elas desafiam séculos de pensamentos, nos quais a sociedade havia automaticamente concedido alguns privilégios e poderes a uma elite exaltada. Lawrence Stone escreveu sobre "o efeito da consciência Puritana em solapar o respeito por posição e títulos em todos os níveis da hierarquia social". Um resultado desta tendência era exaltar a dignidade e o valor da cada indivíduo. Um estudioso moderno crê que "o mais profundo laço entre o Puritanismo e a democracia é seu respeito comum por todo indivíduo humano, independente do seu lugar em qualquer instituição eclesiástica, política, econômica, ou outra". Isto não é para alegar, é claro, que os Puritanos poderiam ter vislumbrado as instituições democráticas que eventualmente se originariam de seu pensamento. Os Puritanos estavam todos cientes de que havia algo revolucio¬nário em sua ênfase sobre a pessoa comum. Cromwell organizou o New Model Army (Exército Novo Modelo) com base no mérito em vez de status; ele escreveu: "Os oficiais não são de melhor família do que os soldados comuns".69 Outro Puritano escreveu: A voz de Jesus Cristo reinando em sua igreja vem primeiro das... pessoas comuns... Deus usou o povo comum e a multidão para proclamar que o Senhor Deus Onipotente reina... Vocês que são da ordem inferior, povo comum, nào sejam desencorajados; pois Deus pretende fazer uso do povo comum na grande obra de proclamar o reino de seu Filho. De acordo com John Benbrigge, uma marca essencial de um verdadeiro convertido é que ele ou ela "estima o homem ou a mulher mais pobre que é rico(a) em Cristo", e denunciou pessoas que preferem "ricos mundanos a cristãos pobres". Tais atitudes sobre igualdade eram inerentes na teologia Reformada. Ao atribuir primazia a assuntos espirituais em vez de externos, os Puritanos abriram a porta para o enfraquecimento de qualquer privilégio baseado exclusivamente em nascimento ou posição. Isto, por sua vez, foi unido à doutrina do sacerdócio de todo crente. Em tal clima de pensamento, cada santo torna-se igual ao outro e superior às pessoas cuja única reivindicação de status é social ou institucional. De acordo com William Dell, é uma regra na igreja manter a igualdade entre cristãos. Pois, embora de acordo com nosso primeiro nascimento,., há grande desigualdade... entretanto, de acordo com nosso novo ou segundo nascimento, pelo qual somos nascidos de Deus, há exata igualdade, pois aqui não há melhor ou pior, maior ou menor. "Onde quer que os Puritanos ganhavam certo domínio, as congregações tinham uma voz na escolha de seus ministros." Thomas Hooker fez uma reivindicação semelhante: Tome o santo mais inferior que já respirou sobre a terra, e o mais bem preparado e estudado erudito...; a mais inferior alma ignorante, que é quase um tolo natural; esta alma sabe e entende mais sobre a graça e a misericórdia em Cristo do que todos os mais sábios e entendidos no mundo, do que todos os grandes eruditos. Para que não pensemos que isto é simplesmente uma preferência pela pessoa ignorante, podemos emparelhá-la com a frase do mais conhecido de todos os poetas ingleses, John Milton: "Um mero homem inculto, que vive por aquela luz que ele tem, é melhor e mais sábio e edifica aos outros mais na direção de uma vida mais santa e feliz" que um clérigo treinado em todas as universidades. Como fundamento de todas estas frases está o princípio de que o cristianismo introduz todo um novo conjunto de critérios pelos quais julgar o valor de uma pessoa. A direção mais obviamente "democrática" que o pensamento Puritano tomou foi uma nova ênfase no controle pelo consentimento daqueles que são governados. No século dezessete, as pessoas progressivamente presumiram que tinham um direito de rejeitar o governo de magistrados ou oficiais da igreja, cujas decisões não gozassem do apoio da maioria das pessoas. Onde quer que os Puritanos ganhavam certo domínio, as congregações tinham uma voz na escolha de seus ministros. No âmbito político, John Winthrop teorizou que as pessoas não deveriam ser submetidas ao governo de ninguém, exceto "de acordo com sua vontade e pacto", e considerava como ilegítima qualquer situação "onde um povo tem homens dominando sobre eles sem sua escolha ou permissão". John Davenport disse, num sermão sob o tema de eleição, que o povo consente com um governo "condicionalmente... de forma que, se a condição for violada, eles podem retomar seu poder de escolher a outro". Na Inglaterra, John Milton defendeu a deposição do rei sob exatamente a mesma base: Visto que o rei ou magistrado mantém sua autoridade pelo povo..., então pode o povo, com a freqüência com que o julgar para melhor, ou escolhê-lo ou rejeitá-lo, retê-lo ou depô-lo..., meramente pela liberdade e o direito de homens nascidos livres de serem governados como melhor lhes parece. "Os Puritanos foram responsáveis pela ascensão da democracia moderna? Toda sua situação política era tão diferente da nossa própria que é difícil responder a essa questão." Estas aspirações democráticas não eram necessariamente baseadas em fundamentos bíblicos ou teológicos. Num tratado que leva título re-levador The Throne Established by Righteousness (O Trono Estabelecido pela Justiça), John Barnard negava que qualquer instituição política, por si mesma, garanta o sucesso de uma sociedade: Não sei de qualquer forma particular de governo civil que o próprio Deus tenha designado, direta ou imediatamente, em qualquer revelação clara de sua mente e sua vontade, a qualquer povo que seja. Os Puritanos foram responsáveis pela ascensão da democracia moderna? Toda sua situação política era tão diferente da nossa própria que é difícil responder a essa questão. No mínimo, eles produziram um clima de pensamento e prática que tornou possível o desenvolvimento da democracia. Alguém falou a respeito do Puritanismo da Nova Inglaterra que poucas sociedades, na cultura ocidental, jamais dependeram mais inteiramente e mais auto-conscientemente do consentimento de seus membros do que as alegadamente repressivas "teocracias" da Nova Inglaterra antiga... Cada aspecto da vida pública na Nova Inglaterra exigia o assentimento formal do público. Membros de igreja elegiam seus ministros; associações comunitárias, seus homens seletos; homens livres, seus delegados e magistrados; e os militares, seus oficiais. Certamente o espírito da democracia era inerente ao pensamento Puritano. Terceira e última parte de uma série sobre a postura social dos puritanos.

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